Formosa: como a China se afasta de Putin


Pequim tem todo o interesse em mostrar-se diferente de Moscovo e o braggadocio de Pelosi na visita a Taipé deu palco ao mostrar da diferença. 


A aproximação de Putin à China é – mais um – sinal de fraqueza, não serve, a não ser nas aparências criadas pela comunicação pública russa, para “criar” três impérios que discutiriam entre si o presente e o futuro do mundo.

Putin representa um expiar da história russa, deixando o caminho livre para o confronto entre os dois impérios sobrantes: o americano, em declínio (económico, militar, de legitimidade à escala planetária e com menor atractividade no continente africano, onde está o futuro saldo populacional mundial) e o chinês, o império emergente, assente numa ditadura “bondosa” capaz de garantir a prosperidade económica aos nacionais e aos novos aliados.

Pequim quer escolher o tempo e os termos do confronto com Washington. Prefere um confronto dentro das métricas ocidentais, por via do comércio internacional garantido pela OMC e com sucessivas vitórias. Ao dia de hoje um confronto militar poria em risco a continuação da vitória económica chinesa.

Não obstante esta férrea determinação, os pretextos para um casus belli multiplicam-se em torno das ambições chinesas na delimitação de fronteiras marítimas no Mar do Sul da China. Até hoje este flectir de músculos não deu mais do que abalroamentos entre navios ou manobras perigosas por parte de aviões (nada que não aconteça frequentemente na fronteira marítima entre Grécia e Turquia, por sinal dois membros da NATO).

Terminados os exercícios militares chineses no estreito de Taiwan, demonstrativos do desagrado para com a visita de Pelosi, os EUA anunciaram já a manutenção de vários cruzeiros de navios da marinha de guerra pelo mesmo estreito, em defesa da liberdade de navegação.

Pequim tem mantido a previsibilidade da sua política externa, previsibilidade que se torna mais evidente face às derivas de Putin. E a diplomacia chinesa tomou boa nota do recente declinar da política de uma só China pela boca de Blinken. A visita de Pelosi não alterou nada no equilíbrio de forças entre RPC e os EUA.

À escala planetária Pequim prossegue o tecer de relações económicas e das consequentes dependências políticas. A iniciativa Belt and Road foi já contratualizada com 149 Estados. A reacção americana tardou e começou, erradamente, com uma tentativa de boicote da Belt and Road destinada ao fracasso. A “guerra” comercial de Trump, assente num aumento dos direitos aduaneiros das importações provenientes da China, com intuitos proteccionistas, também fracassou, não tendo alterado os termos das trocas comerciais.

Biden conseguiu recentemente aprovar no Congresso o “Chips and Science Act” quase 200 mil milhões de dólares dedicados à investigação com propósitos de passar rapidamente à aplicação industrial dos respectivos resultados. Com o pretexto de combater a escassez de semi-condutores o CSA canaliza dinheiros públicos para a investigação e para a indústria dos EUA e promove medidas proteccionistas que afectam não só a China mas também as exportações da UE.

A Formosa foi descoberta e baptizada como tal pelos Portugueses, provavelmente em 1542, certamente em 1544 com o registo no diário de bordo de um navio português, posto móvel avançado de um império comercial difuso. Tantos anos volvidos, as recentes manobras ao largo da ilha Formosa demonstraram o óbvio: a capacidade da RPC para, com armas convencionais, invadir e ocupar Taiwan. Capacidade que ninguém discute e que é substancialmente diferente da demonstrada por Putin na Ucrânia. E esta é a boa notícia.

Formosa: como a China se afasta de Putin


Pequim tem todo o interesse em mostrar-se diferente de Moscovo e o braggadocio de Pelosi na visita a Taipé deu palco ao mostrar da diferença. 


A aproximação de Putin à China é – mais um – sinal de fraqueza, não serve, a não ser nas aparências criadas pela comunicação pública russa, para “criar” três impérios que discutiriam entre si o presente e o futuro do mundo.

Putin representa um expiar da história russa, deixando o caminho livre para o confronto entre os dois impérios sobrantes: o americano, em declínio (económico, militar, de legitimidade à escala planetária e com menor atractividade no continente africano, onde está o futuro saldo populacional mundial) e o chinês, o império emergente, assente numa ditadura “bondosa” capaz de garantir a prosperidade económica aos nacionais e aos novos aliados.

Pequim quer escolher o tempo e os termos do confronto com Washington. Prefere um confronto dentro das métricas ocidentais, por via do comércio internacional garantido pela OMC e com sucessivas vitórias. Ao dia de hoje um confronto militar poria em risco a continuação da vitória económica chinesa.

Não obstante esta férrea determinação, os pretextos para um casus belli multiplicam-se em torno das ambições chinesas na delimitação de fronteiras marítimas no Mar do Sul da China. Até hoje este flectir de músculos não deu mais do que abalroamentos entre navios ou manobras perigosas por parte de aviões (nada que não aconteça frequentemente na fronteira marítima entre Grécia e Turquia, por sinal dois membros da NATO).

Terminados os exercícios militares chineses no estreito de Taiwan, demonstrativos do desagrado para com a visita de Pelosi, os EUA anunciaram já a manutenção de vários cruzeiros de navios da marinha de guerra pelo mesmo estreito, em defesa da liberdade de navegação.

Pequim tem mantido a previsibilidade da sua política externa, previsibilidade que se torna mais evidente face às derivas de Putin. E a diplomacia chinesa tomou boa nota do recente declinar da política de uma só China pela boca de Blinken. A visita de Pelosi não alterou nada no equilíbrio de forças entre RPC e os EUA.

À escala planetária Pequim prossegue o tecer de relações económicas e das consequentes dependências políticas. A iniciativa Belt and Road foi já contratualizada com 149 Estados. A reacção americana tardou e começou, erradamente, com uma tentativa de boicote da Belt and Road destinada ao fracasso. A “guerra” comercial de Trump, assente num aumento dos direitos aduaneiros das importações provenientes da China, com intuitos proteccionistas, também fracassou, não tendo alterado os termos das trocas comerciais.

Biden conseguiu recentemente aprovar no Congresso o “Chips and Science Act” quase 200 mil milhões de dólares dedicados à investigação com propósitos de passar rapidamente à aplicação industrial dos respectivos resultados. Com o pretexto de combater a escassez de semi-condutores o CSA canaliza dinheiros públicos para a investigação e para a indústria dos EUA e promove medidas proteccionistas que afectam não só a China mas também as exportações da UE.

A Formosa foi descoberta e baptizada como tal pelos Portugueses, provavelmente em 1542, certamente em 1544 com o registo no diário de bordo de um navio português, posto móvel avançado de um império comercial difuso. Tantos anos volvidos, as recentes manobras ao largo da ilha Formosa demonstraram o óbvio: a capacidade da RPC para, com armas convencionais, invadir e ocupar Taiwan. Capacidade que ninguém discute e que é substancialmente diferente da demonstrada por Putin na Ucrânia. E esta é a boa notícia.