UE – A Falsa Lenta?


UE tem que se constituir num ator chave da plataforma multilateral onde podem germinar os grandes acordos e programas que precisam de todos para terem sucesso, no plano do clima, do ambiente, da saúde, da economia e da aplicação do direto internacional.


Com os filtros da mediação institucional em velocidade de cruzeiro devido ao período de transição de ano político, a União Europeia (UE) tem vindo progressivamente a afastar-se do centro do furacão geopolítico que arrasa o planeta, num tempo marcado pela multiplicação dos atores que procuram intervir na tentativa de resposta à invasão da Ucrânia e na mitigação dos seus impactos em termos económicos e sociais, pelo reacender do conflito israelo-palestiniano e pela escalada da tensão entre os USA e a China em torno do estatuto de Taiwan.

O tripé de conflitos antes enunciados e as suas dinâmicas de desenvolvimento estão fortemente interligados e reforçam a tendência para o retorno de um mundo com dois blocos, liderados pelos Estados Unidos e pela China, reconstruindo uma estrutura que prevaleceu na Guerra Fria, ainda que com um novo protagonista na liderança de um dos blocos e novas relações e equilíbrios no seio de cada um deles.

A história das ideias e dos resultados das suas aplicações no mundo contemporâneo tem demonstrado que as soluções multilaterais, que implicam diálogo permanente, interação, troca e interdependência, são mais favoráveis à preservação da paz entre os povos do que os encapsulamentos ofensivos ou defensivos.    

A formação de dois blocos político ideológicos não é incompatível com a manutenção, ainda que com dinâmicas que garantam maior autonomia estratégica dos diferentes intervenientes, de fortes índices de trocas, cooperação e investimentos cruzados, que são necessários para assegurar o crescimento sustentável das economias e para preservar alguns programas globais que precisam de todos para serem bem-sucedidos, como é o exemplo dos programas de combate ao aquecimento climático, de proteção dos oceanos ou de prevenção e resposta as pandemias entre muitos outros.

Não tenho ilusões quanto à fragilidade desta arquitetura, para cuja viabilidade será fundamental uma recuperarão do papel estruturador da Organização das Nações Unidas, cujo papel no desbloquear dalgumas rotas de distribuição de cereais merece aplauso e pode servir de exemplo. Ao mesmo tempo, sem hesitações quanto ao bloco ideológico do qual faz naturalmente parte pelos valores e princípios que partilha, a UE tem que se constituir num ator chave da plataforma multilateral onde podem germinar os grandes acordos e programas que precisam de todos para terem sucesso, no plano do clima, do ambiente, da saúde, da economia e da aplicação do direto internacional.        

Neste contexto, e mesmo ciente do borbulhar que ameaça desafiar os seus princípios unificadores em tempo de acalmia institucional, com o processo político italiano em risco sério de erupção populista, o relativo apagamento da União Europeia na cena internacional e o foco dado ao reforço dos mecanismos internos de cooperação, pode colocá-la em posição privilegiada para no momento certo assumir o papel de descompressão e salvaguarda da cooperação e do diálogo à escala global. 

A acontecer com sucesso, consubstanciaria uma estratégia de falsa lenta ou reserva moral, que não sendo fácil, seria de grande utilidade para um reequilíbrio sustentável das relações internacionais num quadro de globalização justa e responsável.

 

Eurodeputado do PS

UE – A Falsa Lenta?


UE tem que se constituir num ator chave da plataforma multilateral onde podem germinar os grandes acordos e programas que precisam de todos para terem sucesso, no plano do clima, do ambiente, da saúde, da economia e da aplicação do direto internacional.


Com os filtros da mediação institucional em velocidade de cruzeiro devido ao período de transição de ano político, a União Europeia (UE) tem vindo progressivamente a afastar-se do centro do furacão geopolítico que arrasa o planeta, num tempo marcado pela multiplicação dos atores que procuram intervir na tentativa de resposta à invasão da Ucrânia e na mitigação dos seus impactos em termos económicos e sociais, pelo reacender do conflito israelo-palestiniano e pela escalada da tensão entre os USA e a China em torno do estatuto de Taiwan.

O tripé de conflitos antes enunciados e as suas dinâmicas de desenvolvimento estão fortemente interligados e reforçam a tendência para o retorno de um mundo com dois blocos, liderados pelos Estados Unidos e pela China, reconstruindo uma estrutura que prevaleceu na Guerra Fria, ainda que com um novo protagonista na liderança de um dos blocos e novas relações e equilíbrios no seio de cada um deles.

A história das ideias e dos resultados das suas aplicações no mundo contemporâneo tem demonstrado que as soluções multilaterais, que implicam diálogo permanente, interação, troca e interdependência, são mais favoráveis à preservação da paz entre os povos do que os encapsulamentos ofensivos ou defensivos.    

A formação de dois blocos político ideológicos não é incompatível com a manutenção, ainda que com dinâmicas que garantam maior autonomia estratégica dos diferentes intervenientes, de fortes índices de trocas, cooperação e investimentos cruzados, que são necessários para assegurar o crescimento sustentável das economias e para preservar alguns programas globais que precisam de todos para serem bem-sucedidos, como é o exemplo dos programas de combate ao aquecimento climático, de proteção dos oceanos ou de prevenção e resposta as pandemias entre muitos outros.

Não tenho ilusões quanto à fragilidade desta arquitetura, para cuja viabilidade será fundamental uma recuperarão do papel estruturador da Organização das Nações Unidas, cujo papel no desbloquear dalgumas rotas de distribuição de cereais merece aplauso e pode servir de exemplo. Ao mesmo tempo, sem hesitações quanto ao bloco ideológico do qual faz naturalmente parte pelos valores e princípios que partilha, a UE tem que se constituir num ator chave da plataforma multilateral onde podem germinar os grandes acordos e programas que precisam de todos para terem sucesso, no plano do clima, do ambiente, da saúde, da economia e da aplicação do direto internacional.        

Neste contexto, e mesmo ciente do borbulhar que ameaça desafiar os seus princípios unificadores em tempo de acalmia institucional, com o processo político italiano em risco sério de erupção populista, o relativo apagamento da União Europeia na cena internacional e o foco dado ao reforço dos mecanismos internos de cooperação, pode colocá-la em posição privilegiada para no momento certo assumir o papel de descompressão e salvaguarda da cooperação e do diálogo à escala global. 

A acontecer com sucesso, consubstanciaria uma estratégia de falsa lenta ou reserva moral, que não sendo fácil, seria de grande utilidade para um reequilíbrio sustentável das relações internacionais num quadro de globalização justa e responsável.

 

Eurodeputado do PS