O amor ao próximo


Quando as dificuldades da economia crescem aumenta o número de candidatos a darem o seu melhor na “arte do possível”. Na política, mais do que um posto, a antiguidade é isso mesmo.


As férias ditas “grandes” (e que são, por má vontade da carteira e pirraça da nova organização do trabalho, cada da vez mais curtas) obrigam a um prolongado convívio no seio dos agregados familiares. Mais do que as festividades do ano novo estes convívios estivais são propícios à tomada de “resoluções”, muitas no sentido de dissolver os vínculos familiares passíveis de tal. Ao contrário do que pensa a classe política, as férias de Verão também fazem ruminar os eleitores que, fruindo o ócio e a canícula, não deixam de se preocupar com os amanhãs que já choram.

Uma nova paixão política seria o garante da alternância entre partidos, o cimento-cola da democracia. Hélas!, as cartas estão marcadas: os partidos, como as empresas do cambão, preferem os “concursos” em que, por antecipação, já ganharam. Há blocos eleitorais de fácil cativação, por via do orçamento do Estado: função pública e reformados, somados, dão maiorias parlamentares.

Também a escolha dos eleitores está condicionada pelo vai e vem dentro do sistema de partidos existente e onde as escolhas são curtas: todos os votantes são ex- qualquer coisa. Esta segunda componente sofreu alterações recentes com uma multiplicação partidária nominal (PAN, Livre), uma real diminuição do voto em dois partidos (PCP e Bloco), a desaparição do CDS e a emersão de uma direita que ultrapassa as perdas eleitorais do PSD (Chega e Iniciativa Liberal).

As dificuldades dos Governos em fazerem jus ao nome são vendidas, pelos especialistas em comunicação, como “dificuldades de comunicação”. Mostremos comiseração pelas dificuldades estivais que também se fazem sentir pelas famílias governativas.

A infidelidade ao líder de turno é a condição darwinista da sucessão dentro da espécie. No encornar do líder revelam-se as circunstâncias de cada país: a morte simbólica do pai num Governo monopartidário, como em Portugal; a morte da líder do junior partner, com o lançar de um novo partido (Sumar de Yolanda Díaz) num Governo de coligação em véspera de eleições, como acontece agora em Espanha; no torpedear do Primeiro Ministro técnico, um desejo partilhado activamente por todos os partidos mas com a culpa a ser assacada ao partido heterodoxo e trapalhão (Movimento 5 Estrelas), como aconteceu a semana passada a Mario Draghi; numa orgia eleitoral continuada, quente nos debates e no atirar de lama entre os candidatos, generosamente apoiados nas campanhas negras pelo maior partido da oposição e pelo que sobra da imprensa, mas fria no método e na certeza da referenda pelos militantes Tory, como acontece com o processo de escolha em curso do futuro Primeiro-Ministro britânico.

As escolhas dos novos líderes variam no método mas coincidem na causa: a renovação é feita com o propósito de responder a problemas sentidos pelos cidadãos, famílias e empresas. Quanto maior for a percepção da magnitude destes problemas maior será a disponibilidade para a mudança nas lideranças. Há cada vez menor apetência por querelas ideológicas, “dificuldades de comunicação” ou causas fracturantes.

Os eleitores querem que os Governos resolvam problemas e têm uma lista precisa: inflação, perda de poder de compra, impossibilidade de honrar dívidas num contexto de aumento das taxas de juro, acesso aos cuidados de saúde.

Na rua da Imprensa à Estrela, por cima do portão principal da residência oficial do Primeiro-Ministro estarão gravados em pedra lioz os seguintes dizeres: “Os resultados eleitorais passados não são garantia de resultados eleitorais futuros.”

O amor ao próximo


Quando as dificuldades da economia crescem aumenta o número de candidatos a darem o seu melhor na “arte do possível”. Na política, mais do que um posto, a antiguidade é isso mesmo.


As férias ditas “grandes” (e que são, por má vontade da carteira e pirraça da nova organização do trabalho, cada da vez mais curtas) obrigam a um prolongado convívio no seio dos agregados familiares. Mais do que as festividades do ano novo estes convívios estivais são propícios à tomada de “resoluções”, muitas no sentido de dissolver os vínculos familiares passíveis de tal. Ao contrário do que pensa a classe política, as férias de Verão também fazem ruminar os eleitores que, fruindo o ócio e a canícula, não deixam de se preocupar com os amanhãs que já choram.

Uma nova paixão política seria o garante da alternância entre partidos, o cimento-cola da democracia. Hélas!, as cartas estão marcadas: os partidos, como as empresas do cambão, preferem os “concursos” em que, por antecipação, já ganharam. Há blocos eleitorais de fácil cativação, por via do orçamento do Estado: função pública e reformados, somados, dão maiorias parlamentares.

Também a escolha dos eleitores está condicionada pelo vai e vem dentro do sistema de partidos existente e onde as escolhas são curtas: todos os votantes são ex- qualquer coisa. Esta segunda componente sofreu alterações recentes com uma multiplicação partidária nominal (PAN, Livre), uma real diminuição do voto em dois partidos (PCP e Bloco), a desaparição do CDS e a emersão de uma direita que ultrapassa as perdas eleitorais do PSD (Chega e Iniciativa Liberal).

As dificuldades dos Governos em fazerem jus ao nome são vendidas, pelos especialistas em comunicação, como “dificuldades de comunicação”. Mostremos comiseração pelas dificuldades estivais que também se fazem sentir pelas famílias governativas.

A infidelidade ao líder de turno é a condição darwinista da sucessão dentro da espécie. No encornar do líder revelam-se as circunstâncias de cada país: a morte simbólica do pai num Governo monopartidário, como em Portugal; a morte da líder do junior partner, com o lançar de um novo partido (Sumar de Yolanda Díaz) num Governo de coligação em véspera de eleições, como acontece agora em Espanha; no torpedear do Primeiro Ministro técnico, um desejo partilhado activamente por todos os partidos mas com a culpa a ser assacada ao partido heterodoxo e trapalhão (Movimento 5 Estrelas), como aconteceu a semana passada a Mario Draghi; numa orgia eleitoral continuada, quente nos debates e no atirar de lama entre os candidatos, generosamente apoiados nas campanhas negras pelo maior partido da oposição e pelo que sobra da imprensa, mas fria no método e na certeza da referenda pelos militantes Tory, como acontece com o processo de escolha em curso do futuro Primeiro-Ministro britânico.

As escolhas dos novos líderes variam no método mas coincidem na causa: a renovação é feita com o propósito de responder a problemas sentidos pelos cidadãos, famílias e empresas. Quanto maior for a percepção da magnitude destes problemas maior será a disponibilidade para a mudança nas lideranças. Há cada vez menor apetência por querelas ideológicas, “dificuldades de comunicação” ou causas fracturantes.

Os eleitores querem que os Governos resolvam problemas e têm uma lista precisa: inflação, perda de poder de compra, impossibilidade de honrar dívidas num contexto de aumento das taxas de juro, acesso aos cuidados de saúde.

Na rua da Imprensa à Estrela, por cima do portão principal da residência oficial do Primeiro-Ministro estarão gravados em pedra lioz os seguintes dizeres: “Os resultados eleitorais passados não são garantia de resultados eleitorais futuros.”