Roleta russa


Os italianos vão escolher. Espero que escolham a paz, a tolerância e o progresso, por eles e por todos nós.   


Constituída por uma parceria de 27 Estados Democráticos, a União Europeia (UE) é escrutinada nas eleições para o Parlamento Europeu, mas também sempre que num dos seus Estados-membros, as ideias pró-europeias, nas suas diferentes formulações, são confrontadas com propostas que visam a sua descaracterização ou implosão. 

Se considerarmos que cada Estado-membro tem pelo menos uma eleição geral em cada quatro anos ou cinco anos e que o Parlamento Europeu é reeleito em cada quinquénio, então a estabilidade e o futuro da União vão a jogo em média meia dúzia de vezes em cada ano, e em cada vez que isso acontece as forças antieuropeias apostam todas as fichas em causar-lhe o maior dano possível. 

Como o caso das eleições recentemente convocadas pelo Presidente da República italiana para 25 de setembro bem ilustra, o número efetivo de eleições tende a multiplicar-se e os populistas não perdem uma oportunidade de as espoletar, como Portugal também experienciou com a interrupção inopinada da anterior legislatura por uma votação que congregou os radicalismos de ambos os extremos. O processo de legitimação na UE assemelha-se cada vez mais uma roleta russa, em que uma bala engatilhada com sucesso pelos seus inimigos pode deitar a perder seis décadas de paz e progresso.

O que acabei de descrever é a democracia a funcionar na sua plenitude. Não sou tentado por nenhuma via que restrinja a livre escolha dos povos. No entanto, os defensores da UE não podem ser ingénuos ou menosprezar os novos desafios colocados em contexto de grande incerteza. Em Itália, como recentemente em França ou nas múltiplas eleições que vão ocorrendo dentro ou fora dos calendários expectáveis, quem vota são os eleitores de cada um dos Estados, mas as consequências dos resultados impactam fortemente em todos os europeus.

Em Itália, uma governação de unidade nacional dirigida com aprovação maioritária dos eleitores expressa em múltiplos estudos de opinião, foi dinamitada pelo não comprometimento de forças políticas cujas simpatias e ligações ao Kremlin nunca foram cabalmente desmentidas. As interferências externas noutros processos eleitorais, pela manipulação, desinformação e financiamento, são dados que mostram que a grande potência multilateral é um alvo apetecível dos novos ou velhos imperialismos.

A resposta à roleta russa com que estamos confrontados só pode ser mais democracia, mais transparência, mais participação e mais proximidade. Em particular, nas medidas de mitigação da crise económica e social, as forças pró-europeias, na sua diversidade, têm que demonstrar capacidade de proteger quem mais precisa e quem está mais vulnerável aos impactos, porque é isso que é justo, porque é isso que responde aos valores humanistas da União e também porque será aí que os incendiários terão mais pasto para as suas manobras de fragmentação e projeção do ódio.

Confio que os povos europeus saberão resistir aos cantos de sereia que no século passado os conduziu aos autoritarismos e a duas guerras mundiais centradas nos seus territórios. As eleições em Itália serão mais uma prova que os pró-europeus têm que vencer. Os italianos vão escolher. Espero que escolham a paz, a tolerância e o progresso, por eles e por todos nós. 

Roleta russa


Os italianos vão escolher. Espero que escolham a paz, a tolerância e o progresso, por eles e por todos nós.   


Constituída por uma parceria de 27 Estados Democráticos, a União Europeia (UE) é escrutinada nas eleições para o Parlamento Europeu, mas também sempre que num dos seus Estados-membros, as ideias pró-europeias, nas suas diferentes formulações, são confrontadas com propostas que visam a sua descaracterização ou implosão. 

Se considerarmos que cada Estado-membro tem pelo menos uma eleição geral em cada quatro anos ou cinco anos e que o Parlamento Europeu é reeleito em cada quinquénio, então a estabilidade e o futuro da União vão a jogo em média meia dúzia de vezes em cada ano, e em cada vez que isso acontece as forças antieuropeias apostam todas as fichas em causar-lhe o maior dano possível. 

Como o caso das eleições recentemente convocadas pelo Presidente da República italiana para 25 de setembro bem ilustra, o número efetivo de eleições tende a multiplicar-se e os populistas não perdem uma oportunidade de as espoletar, como Portugal também experienciou com a interrupção inopinada da anterior legislatura por uma votação que congregou os radicalismos de ambos os extremos. O processo de legitimação na UE assemelha-se cada vez mais uma roleta russa, em que uma bala engatilhada com sucesso pelos seus inimigos pode deitar a perder seis décadas de paz e progresso.

O que acabei de descrever é a democracia a funcionar na sua plenitude. Não sou tentado por nenhuma via que restrinja a livre escolha dos povos. No entanto, os defensores da UE não podem ser ingénuos ou menosprezar os novos desafios colocados em contexto de grande incerteza. Em Itália, como recentemente em França ou nas múltiplas eleições que vão ocorrendo dentro ou fora dos calendários expectáveis, quem vota são os eleitores de cada um dos Estados, mas as consequências dos resultados impactam fortemente em todos os europeus.

Em Itália, uma governação de unidade nacional dirigida com aprovação maioritária dos eleitores expressa em múltiplos estudos de opinião, foi dinamitada pelo não comprometimento de forças políticas cujas simpatias e ligações ao Kremlin nunca foram cabalmente desmentidas. As interferências externas noutros processos eleitorais, pela manipulação, desinformação e financiamento, são dados que mostram que a grande potência multilateral é um alvo apetecível dos novos ou velhos imperialismos.

A resposta à roleta russa com que estamos confrontados só pode ser mais democracia, mais transparência, mais participação e mais proximidade. Em particular, nas medidas de mitigação da crise económica e social, as forças pró-europeias, na sua diversidade, têm que demonstrar capacidade de proteger quem mais precisa e quem está mais vulnerável aos impactos, porque é isso que é justo, porque é isso que responde aos valores humanistas da União e também porque será aí que os incendiários terão mais pasto para as suas manobras de fragmentação e projeção do ódio.

Confio que os povos europeus saberão resistir aos cantos de sereia que no século passado os conduziu aos autoritarismos e a duas guerras mundiais centradas nos seus territórios. As eleições em Itália serão mais uma prova que os pró-europeus têm que vencer. Os italianos vão escolher. Espero que escolham a paz, a tolerância e o progresso, por eles e por todos nós.