Os portugueses estão habituados a andar de crise em crise. Depois das dificuldades trazidas pela covid, enfrentam agora as dificuldades trazidas pelo fim da covid e pela guerra na Ucrânia. O custo de vida aumentou em flecha e o dinheiro ao fim do mês não estica.
Mesmo optando por produtos mais baratos no supermercado e abdicando de pequenos “luxos”, como comer fora, os salários não chegam para tudo. Apesar dos sacrifícios, muita gente está a viver à custa de crédito, dívidas e saldos de conta a descoberto. Isto para não falar do preço das casas, que está em níveis cada vez mais proibitivos.
Mas será que o dinheiro não estica mesmo? Olhando para os resultados de muitas empresas, parece que sim. O boom pós-covid trouxe lucros chorudos a alguns. Ainda bem – desde que não seja à custa de penalizar ainda mais os consumidores.
O caso da Galp é talvez o mais gritante, e sem dúvida o mais mediático. Num período de dificuldades para os portugueses provocadas pelo aumento do preço dos bens essenciais (muito por causa dos preços da energia), a petrolífera registou um aumento dos lucros de 500%. Os partidos mais à esquerda argumentam, e com razão, que há uma certa dose de imoralidade em lucrar tanto em tempos tão difíceis para a maioria da população.
Uma das hipóteses levantadas seria a taxação extraordinária desses lucros extraordinários, o que, dizem os economistas, daria um péssimo sinal. A ser assim, as empresas só teriam a hipótese de lucrar “poucochinho”, o que afugentaria muito investimento de que o país precisa.
Por outro lado, as receitas fiscais do Estado também continuam a bater recordes. Taxar mais as empresas para dar o dinheiro ao Estado, que no primeiro semestre teve um excedente de mais de mil milhões de euros, seria como levar areia para a praia.
Afinal o dinheiro estica ou não estica? O das pessoas comuns nem por isso, e veem-se num sufoco para chegar ao fim do mês. Mas o das empresas e, em especial, o do Estado estica e de que maneira. Nunca o Fisco teve os cofres tão cheios. Já era altura de reduzir realmente os impostos, sem malabarismos, e aliviar o garrote do cidadão-comum.