Augusto Santos Silva, a muleta do Chega e não só


Tal como Ferro Rodrigues, o atual presidente do Parlamento é uma ajuda preciosa à afirmação do Chega.


Nota prévia: O pequeno crescimento da nossa economia tem uma razão principal: o turismo. Consequentemente, as nossas estatísticas e dados de consumo estão falseados, dada a presença de estrangeiros que consomem em quantidade. A situação económica está muito degradada e provavelmente pior do que quando Sócrates largou o governo. Além da falta de dinheiro para necessidades básicas da população, os setores fundamentais do Estado estão paralisados.

Os problemas acumulam-se e sente-se uma completa incapacidade do governo em resolver as situações mais graves, como a saúde, os fogos, a justiça, a degradação social e o aumento dos preços. Relativamente à inflação, a guerra da Ucrânia só explica parte do problema e a covid-19 também. Os efeitos acumulados mais nefastos chegarão a partir de novembro e vão agravar-se ao longo de 2023. Vamos para pior e a Europa vai-nos fazer sentir novamente que não tem paciência para um país sempre de mão estendida. Sobretudo se esse país não se mostrar solidário com a intenção dos estados ditos frugais de cortar, por exemplo, no consumo de gás.

A reunião de ontem permitiu acertar uma estratégia, mas a posição inicial portuguesa e espanhola (por mais defensável que fosse) não caiu bem, sobretudo pelos termos em que foi feita. Há momentos em que a política não se deve confundir com uma feira de tapetes orientais onde se regateia permanentemente. Na solidariedade o simbolismo também conta. Salazar dizia que em política o que parece é. E nós não parecemos solidários. Ficou-nos mal. Na volta do correio poderemos ter algumas respostas desagradáveis, quando precisarmos.

1. De uma forma mais elaborada na linguagem, Augusto Santos Silva está a fazer na Assembleia da República o mesmo papel que Ferro Rodrigues, ajudando à implantação do partido de André Ventura, que já é o terceiro do país. Sem Ferro e as suas provocações, provavelmente o Chega não teria multiplicado por mais de dez os seus deputados. Santos Silva segue o mesmo caminho.

E aqui há duas hipóteses, conhecendo-se o cinismo inteligente da criatura que diz adorar malhar na direita. Ou é mesmo assim, o que pode ser uma remanescência do assanhado trotskismo que o afetou gravemente após o 25 Abril (até lá não se lhe conhece pensamento político), ou então Santos Silva está na onda de que quanto mais atacar o Chega mais visibilidade tem e mais apoios retira ao PSD. Seja como for, quem tem ganho é Ventura.

Santos Silva está, entretanto, a tentar construir uma imagem de candidato a Belém. O perfil e a pinta até lá estão. Fala bem. É culto. É do Porto, o que ajuda num país em que o Norte se acha melhor do que o Sul. É catedrático. Reclama-se de esquerda e pensa estar a agregá-la ao tomar de ponta a direita mais radical. Santos Silva teve um percurso sinuoso. Foi apoiante de Otelo, de Pintasilgo e começou a democratizar-se com a ida para o MES.

Ou seja, é um magnífico exemplar de jovem extremista do PREC. Uma espécie de Louçã recondicionado – como agora se diz dos telemóveis de segunda mão – que se foi adaptando ao largo espetro do PS, seguindo todos os seus líderes, desde o fim do cavaquismo. Santos Silva foi membro do Governo de Guterres e, mais tarde, foi um pilar do vergonhoso Sócrates que defendeu e de quem foi ministro dos Assuntos Parlamentares. Era o que na tauromaquia se definiria pelo peão de brega da quadrilha do matador José Pinto de Sousa, El Sócrates.

Apareceu depois ligado a Costa como ministro dos Negócios Estrangeiros, de onde só se demitiu para ir para deputado, já com a garantia de que seria eleito presidente do Parlamento, o trampolim para Belém. Nessa corrida tem algo como 7% de intenções de voto, o que é poucochinho. Dir-se-á que quando Soares se fez à estrada na corrida a Belém tinha 8,5%. É verdade! Mas Mário Soares era um líder. Um verdadeiro campeão da liberdade. Não era um aguadeiro daqueles que no ciclismo andam só a servir chefes de fila, sem nunca ganharem uma etapa. Santos Silva é uma muleta conveniente para Ventura. Depois de Ferro, este Silva veio mesmo a calhar!

2. Pior ainda do que o estilo truculento de Santos Silva é a agressividade verbal e quase física do líder parlamentar do Chega, Pedro Pinto. Nos corredores da AR, só lhe faltou agredir o assessor do PS Nuno Saraiva, que não é de se ficar. Há uma tradição de urbanidade fora e dentro do hemiciclo que nem todos os deputados sabem respeitar, como se viu. No Bloco a civilidade também não abunda e algumas das moçoilas deputadas esquecem com facilidade que quem entra num elevador já ocupado deve cumprimentar. Coisas old fashion que as questões fraturantes não alteram.

3. Dentro de um ano, Lisboa recebe as Jornadas da Juventude que reunirão mais de um milhão e meio de jovens católicos na presença do Papa Francisco. Já aqui se manifestou preocupação pela preparação deste evento de dimensão planetária. O que se vê é preocupante. Há muitas pontas soltas e a confusão envolve até o PSD local e o próprio Carlos Moedas.

Há dias foi noticiado que o pelouro da organização em Lisboa foi retirado à vereadora Laurinda Alves, que, obviamente, nunca estaria à altura. A concentração dos jovens vai ocorrer na zona da Expo, estendendo-se por Moscavide-Sacavém, que pertence a Loures.

Do lado do Governo as certas infraestruturas estão a cargo do ministério de Pedro Nuno Santos, sendo que António Costa e Marcelo são quem mais se empenhou na concretização do gigantesco evento, cuja segurança está a preocupar as nossas polícias. Os problemas logísticos de Portugal vão, entretanto, agravar-se naquela altura, como é evidente. Será no principal mês de férias e de turismo já de si saturado. Não teremos nem aeroporto nem comboio a partir de Madrid. Se as coisas não correrem bem, será uma prodigiosa humilhação nacional. E não há razões para otimismo.

4. Maria Adelaide Franco é a atual presidente do IEFP, organismo que trata da formação e qualificação profissional e que, no fundo, monitoriza o percurso dos desempregados. Claro que Maria Adelaide é, como não podia deixar de ser, uma ilustre militante do PS com carreira facilitada largamente por esse facto. Recentemente foi parar ao IEFP e logo se soube que andou a receber dinheiro da sua própria empresa, da qual ela se tinha auto despedido para se inscrever e receber do fundo de desemprego, o que é manifestamente ilegal. Confrontada com a situação, fez saber que admite a hipótese de repor as verbas que recebeu indevidamente. Era só o que faltava que não repusesse e, mais ainda, que permanecesse no lugar.

Augusto Santos Silva, a muleta do Chega e não só


Tal como Ferro Rodrigues, o atual presidente do Parlamento é uma ajuda preciosa à afirmação do Chega.


Nota prévia: O pequeno crescimento da nossa economia tem uma razão principal: o turismo. Consequentemente, as nossas estatísticas e dados de consumo estão falseados, dada a presença de estrangeiros que consomem em quantidade. A situação económica está muito degradada e provavelmente pior do que quando Sócrates largou o governo. Além da falta de dinheiro para necessidades básicas da população, os setores fundamentais do Estado estão paralisados.

Os problemas acumulam-se e sente-se uma completa incapacidade do governo em resolver as situações mais graves, como a saúde, os fogos, a justiça, a degradação social e o aumento dos preços. Relativamente à inflação, a guerra da Ucrânia só explica parte do problema e a covid-19 também. Os efeitos acumulados mais nefastos chegarão a partir de novembro e vão agravar-se ao longo de 2023. Vamos para pior e a Europa vai-nos fazer sentir novamente que não tem paciência para um país sempre de mão estendida. Sobretudo se esse país não se mostrar solidário com a intenção dos estados ditos frugais de cortar, por exemplo, no consumo de gás.

A reunião de ontem permitiu acertar uma estratégia, mas a posição inicial portuguesa e espanhola (por mais defensável que fosse) não caiu bem, sobretudo pelos termos em que foi feita. Há momentos em que a política não se deve confundir com uma feira de tapetes orientais onde se regateia permanentemente. Na solidariedade o simbolismo também conta. Salazar dizia que em política o que parece é. E nós não parecemos solidários. Ficou-nos mal. Na volta do correio poderemos ter algumas respostas desagradáveis, quando precisarmos.

1. De uma forma mais elaborada na linguagem, Augusto Santos Silva está a fazer na Assembleia da República o mesmo papel que Ferro Rodrigues, ajudando à implantação do partido de André Ventura, que já é o terceiro do país. Sem Ferro e as suas provocações, provavelmente o Chega não teria multiplicado por mais de dez os seus deputados. Santos Silva segue o mesmo caminho.

E aqui há duas hipóteses, conhecendo-se o cinismo inteligente da criatura que diz adorar malhar na direita. Ou é mesmo assim, o que pode ser uma remanescência do assanhado trotskismo que o afetou gravemente após o 25 Abril (até lá não se lhe conhece pensamento político), ou então Santos Silva está na onda de que quanto mais atacar o Chega mais visibilidade tem e mais apoios retira ao PSD. Seja como for, quem tem ganho é Ventura.

Santos Silva está, entretanto, a tentar construir uma imagem de candidato a Belém. O perfil e a pinta até lá estão. Fala bem. É culto. É do Porto, o que ajuda num país em que o Norte se acha melhor do que o Sul. É catedrático. Reclama-se de esquerda e pensa estar a agregá-la ao tomar de ponta a direita mais radical. Santos Silva teve um percurso sinuoso. Foi apoiante de Otelo, de Pintasilgo e começou a democratizar-se com a ida para o MES.

Ou seja, é um magnífico exemplar de jovem extremista do PREC. Uma espécie de Louçã recondicionado – como agora se diz dos telemóveis de segunda mão – que se foi adaptando ao largo espetro do PS, seguindo todos os seus líderes, desde o fim do cavaquismo. Santos Silva foi membro do Governo de Guterres e, mais tarde, foi um pilar do vergonhoso Sócrates que defendeu e de quem foi ministro dos Assuntos Parlamentares. Era o que na tauromaquia se definiria pelo peão de brega da quadrilha do matador José Pinto de Sousa, El Sócrates.

Apareceu depois ligado a Costa como ministro dos Negócios Estrangeiros, de onde só se demitiu para ir para deputado, já com a garantia de que seria eleito presidente do Parlamento, o trampolim para Belém. Nessa corrida tem algo como 7% de intenções de voto, o que é poucochinho. Dir-se-á que quando Soares se fez à estrada na corrida a Belém tinha 8,5%. É verdade! Mas Mário Soares era um líder. Um verdadeiro campeão da liberdade. Não era um aguadeiro daqueles que no ciclismo andam só a servir chefes de fila, sem nunca ganharem uma etapa. Santos Silva é uma muleta conveniente para Ventura. Depois de Ferro, este Silva veio mesmo a calhar!

2. Pior ainda do que o estilo truculento de Santos Silva é a agressividade verbal e quase física do líder parlamentar do Chega, Pedro Pinto. Nos corredores da AR, só lhe faltou agredir o assessor do PS Nuno Saraiva, que não é de se ficar. Há uma tradição de urbanidade fora e dentro do hemiciclo que nem todos os deputados sabem respeitar, como se viu. No Bloco a civilidade também não abunda e algumas das moçoilas deputadas esquecem com facilidade que quem entra num elevador já ocupado deve cumprimentar. Coisas old fashion que as questões fraturantes não alteram.

3. Dentro de um ano, Lisboa recebe as Jornadas da Juventude que reunirão mais de um milhão e meio de jovens católicos na presença do Papa Francisco. Já aqui se manifestou preocupação pela preparação deste evento de dimensão planetária. O que se vê é preocupante. Há muitas pontas soltas e a confusão envolve até o PSD local e o próprio Carlos Moedas.

Há dias foi noticiado que o pelouro da organização em Lisboa foi retirado à vereadora Laurinda Alves, que, obviamente, nunca estaria à altura. A concentração dos jovens vai ocorrer na zona da Expo, estendendo-se por Moscavide-Sacavém, que pertence a Loures.

Do lado do Governo as certas infraestruturas estão a cargo do ministério de Pedro Nuno Santos, sendo que António Costa e Marcelo são quem mais se empenhou na concretização do gigantesco evento, cuja segurança está a preocupar as nossas polícias. Os problemas logísticos de Portugal vão, entretanto, agravar-se naquela altura, como é evidente. Será no principal mês de férias e de turismo já de si saturado. Não teremos nem aeroporto nem comboio a partir de Madrid. Se as coisas não correrem bem, será uma prodigiosa humilhação nacional. E não há razões para otimismo.

4. Maria Adelaide Franco é a atual presidente do IEFP, organismo que trata da formação e qualificação profissional e que, no fundo, monitoriza o percurso dos desempregados. Claro que Maria Adelaide é, como não podia deixar de ser, uma ilustre militante do PS com carreira facilitada largamente por esse facto. Recentemente foi parar ao IEFP e logo se soube que andou a receber dinheiro da sua própria empresa, da qual ela se tinha auto despedido para se inscrever e receber do fundo de desemprego, o que é manifestamente ilegal. Confrontada com a situação, fez saber que admite a hipótese de repor as verbas que recebeu indevidamente. Era só o que faltava que não repusesse e, mais ainda, que permanecesse no lugar.