União de Coimbra. Breve fim do sonho de uma noite de Verão

União de Coimbra. Breve fim do sonho de uma noite de Verão


A época de 1972-73 foi a única do União na I Divisão: cinco vitórias apenas e 17 pontos no total atiraram-no de novo para a II.


Há 50 anos a cidade podia ferver do Choupal até à Lapa, podia ver derreter a calçada da Rua da Sofia e estalar a fachada da Sé Velha ao sol inclemente de Verão, mas metade de Coimbra estava em festa, a metade popular, futricas e tricanas, gente do comércio, das entregas, das retrosarias, sapateiros e artesãos, miúdos que jogavam de pés descalços.

A Académica descera e, com ela, ia a tristeza dos fados de estudantes, mas o União ia disputar pela primeira vez na sua história o Campeonato Nacional da I Divisão. O sonho parecia não ter limites para uma equipa que, além da subida, garantira o título de campeão da II frente ao Montijo, o vencedor da Zona Sul da prova. Afinal, o sonho foi breve. Muito breve.

Apenas durante uma época, o União de Coimbra, fundado em 1919, jogou contra os maiores de Portugal: 1972-73. Havia, naturalmente, na ideia dos seus dirigentes e do seu treinador, o grande Francisco Andrade, de que era chegada a altura ideal para que o clube ganhasse peso no panorama nacional. Ainda por cima ficando com a responsabilidade de, perante a descida da Académica, ser o único representante de Coimbra. Andrade tomou algumas medidas drásticas em relação ao plantel, dispensando vários dos heróis da subida.

O seu plano passava por ter uma equipa totalmente profissional composta por jogadores que treinassem duas vezes por dia com a dureza necessária para corresponder à exigência da I Divisão. Para reforçar o plantel chegaram, por exemplo, Vítor Gomes, que jogara no FC Porto e na Académica, e Miguel Angel Perrichon Segóvia, o “Perrichão”, avançado argentino que ficou para a história como o marcador do golo que deu a primeira Taça de Portugal ao Braga. Não chegou.

As coisas começaram mal e jamais se endireitaram. Na primeira jornada, disputada a 10 de Setembro, o União foi a casa de outro União (o de Tomar) e perdeu por 0-1. O assunto recompôs-se uma semana mais tarde, em casa (o União passou a jogar no Municipal em vez de no Campo da Arregaça), com uma vitória, igualmente por 1-0, frente ao Farense, golo de João Machado, natural de Angola, que viera do Sintrense, e assim se registou como o autor do primeiro golo do União na I Divisão.

Vida difícil Era óbvio que as hipóteses de sobrevivência do União de Coimbra no escalão principal dependiam muito dos pontos que pudesse roubar aos adversários directos, sobretudo nos jogos fora. Derrota em Guimarães (1-3), em Coimbra frente ao Benfica (0-4), empate na Tapadinha (0-0), nova derrota caseira face ao Montijo (0-1), empate em Matosinhos (0-0), outra derrota em casa, com o Boavista (2-3), empate em Aveiro (1-1) e em casa com a CUF (1-1). Ao fim de dez jornadas, o União tinha 6 pontos e estava num dos três lugares de descida com Atlético e Farense. Uma única vitória era de menos.

Nova derrota em Coimbra, frente ao Sporting (1-5), outra no D. Manuel de Melo, frente ao Barreirense (2-4), e os adeptos entraram na descrença. O sonho de uma noite de Verão transformava-se num pesadelo. Nas jornadas seguintes: Belenenses (casa, 1-1), V. Setúbal (fora, 0-4), FC Porto (casa, 0-2). De repente, uma vitória, na primeira jornada da segunda volta, recebendo o União de Tomar – 3-0, golos de Reis, Zeca e Perrichón.

Depois da derrota em Faro (0-2), a crença dispersou-se outra vez. Eram só 3 pontos em relação ao lugar que dava direito à liguilha mas, convenhamos – V. Guimarães (casa, 1-0), Benfica (fora, 1-6) – era preciso outro ritmo. Regresso à vitória, caseira, frente ao Atlético (1-0, golo de Reis), e depois Montijo (fora, 0-1), Leixões (casa, 2-0 – golos de Reis e Zeca), Boavista (fora, 0-1), Beira-Mar (casa, 0-1), CUF (fora, 0-2), Sporting (fora, 1-3), Barreirense (casa, 2-2), Belenenses (fora, 1-3), V. Setúbal (casa, 0-0), FC Porto (fora, 0-3). 17 pontos, os mesmos de Atlético e União de Tomar, os despromovidos. O Benfica foi campeão com 58. Cinco vitórias não bastaram. O União caía na realidade…