Um local estranho para se estar durante um festival é o backstage, com toda a agitação e pessoas a correrem de um lado para o outro a contrastar com o ambiente que se vive entre os “festivaleiros”. Foi neste local do NOS Alive que o i se encontrou com Adam Granduciel, vocalista e guitarrista dos War on Drugs.
O grupo de Filadélfia ocupou o Palco NOS para mostrar as músicas do seu mais recente disco, I Don’t Live Here Anymore, onde continuam a explorar as raízes e inspirações de artistas como Bob Dylan ou Bruce Springsteen – e mostram que a sua música está a envelhecer como um bom vinho maduro.
Como tem sido o regresso aos festivais depois de dois anos fechados em casa devido à pandemia?
Tem sido muito bom para a banda e temos sido muito bem recebidos. A maior parte dos festivais onde tocámos deram-nos um horário excelente e uma posição de destaque no cartaz. Gostamos muito de fazer concertos em nome próprio ou em salas fechadas com um som mais cuidado, onde podemos tocar as nossas próprias músicas durante duas ou mais horas, mas tem sido muito divertido regressar a este tipo de eventos. Agora temos mais músicas e, depois de já termos dado cerca de 80 concertos este ano, uma vez que estamos na estrada desde janeiro, o nosso som está cada vez melhor e os festivais permitem-nos mostrar o quanto temos evoluído e trabalhado.
Sente que os fãs estão mais recetivos?
As pessoas vêm aos festivais para desfrutar da música e, depois da pandemia, há uma vontade ainda maior de poder estar cara a cara com os entes queridos e poder desfrutar de belos momentos juntos, como, por exemplo, num concerto a ouvir música.
Dar concertos em nome próprio e tocar em festivais são experiências muito diferentes para a banda? Os War on Drugs têm um som muito meticuloso e bastante trabalhado em estúdio, mas que também pede uma certa paciência aos seus ouvintes. Este é o local ideal para o seu grupo atuar?
Às vezes, nos festivais, penso sempre que temos de subir ao palco e optar mais por uma abordagem instrumental e de improviso. Mas o que estou a aprender é que temos de ser nós próprios em cima de palco. Se existem canções que são mais meditativas ou mais calmas, o melhor a fazer é simplesmente tocá-las. Elas continuam a ser boas. Se as pessoas nos vierem ver e ouvir a nossa música vão respeitar-nos e gostar do que estamos a fazer. O mais importante é sermos sinceros e verdadeiros connosco. Por isso, quando fazemos os nossos concertos, queremos fazer uma espécie de “narrativa” e acredito que esta se transmite bem nos festivais.
Com o passar do tempo tem aprendido a controlar a forma como o público reage às suas canções?
Definitivamente não (risos). É um processo longo e complexo e ainda estou a aprender a interagir com o público e a tornar-me um só com a audiência.
Alguma vez teve uma experiência mais negativa com membros do público?
Nunca me aconteceu nada semelhante. A única experiência negativa que tive surgiu apenas da minha mente. Pensei que não estava a fazer uma performance que fizesse justiça à música que tenho vindo a desenvolver e a criar. Mas não considero que alguma vez tenhamos tido uma má audiência ou alguém a vaiar-nos. Quando sinto que tive um concerto mau é quando estou a abandonar o palco e fico a remoer porque estou a pensar que não estive tão bem quanto devia.
Então é algo que apenas existe na sua cabeça?
Sim, apesar de tudo, sou uma pessoa bastante insegura e muito dura comigo mesmo no que diz respeito à minha arte. Às vezes sinto que não estou a deixar tudo o que tenho no palco, especialmente quando toco em festivais, porque não estou a subir para um sistema de som ou a baloiçar numa grade e a cantar.
É também importante ter presente que não é o Eddie Vedder.
Precisamente (risos). Temos de ter noção de quem é que somos e, quando subimos para cima de palco temos apenas que ser nós próprios e tocar aquilo que temos vindo a trabalhar. Se as pessoas estiverem lá para nos ver, vão gostar e prestar atenção.
Apesar de estarmos a falar sobre o espírito meditativo e calmo de algumas das vossas canções, o novo disco dos War on Drugs, I Don’t Live Here Anymore, tem um espírito mais rejubilantes e libertador. O que motivou esta mudança sonora? Foi o facto de a pandemia estar a acabar e de podermos finalmente ingressar neste novo normal?
De certa forma, sim. Algumas das canções têm uma abordagem muito mais “pop”, com secções que são mais cativantes à nossa audição, nomeadamente em faixas como I Don’t Wanna Wait ou a música que partilha nome com o disco, que foram feitas a pensar que deviam ser tocadas num palco gigante. Apesar de ainda existir uma certa sensação de melancolia, acho que não é a primeira impressão que desperta no ouvinte. Todas estas canções foram escritas antes da pandemia, mas acabaram por adquirir toda uma outra vida quando acabaram por ser interpretadas para este disco e também nos concertos.
Numa das canções deste disco, na faixa homónima, refere que está a dançar a música do Bob Dylan, Desolation Row, num concerto com alguém. Isto é baseado numa história real ou é uma homenagem a uma das suas maiores influências?
É parcialmente inspirado em algo que me aconteceu. Fui ver o Bob Dylan, em 2002, no Newport Folk Festival, e é uma memória muito feliz. Quando estava a compor a I Don’t Live Here Anymore, estava a pensar nessa música e em todas as vezes que o vi e como foram momentos especiais. Existe uma linha ténue entre a realidade e a ficção. O nosso baixista, David Hartley, disse que amava essa canção, por isso, decidi explorar um pouco mais na nossa música e acabou por se tornar aquilo que saiu no disco. Às vezes quando estamos a escrever e a improvisar podemos pensar que uma ideia é estranha. Alguém nos diz: “não, isto é muito bom e é inspirado em algo real” e acaba por nos convencer a usar o que criámos e a faz-nos sentir mais confortáveis com isso.
Porquê a Desolation Row?
É a sua música favorita do Bob
Dylan ou apenas funcionava bem em termos rítmicos?
É provavelmente uma das minhas favoritas. Especialmente a versão de um concerto de 1966, onde o Dylan tocou a canção a solo e em acústico, no Free Trade Hall, em Manchester, no Reino Unido. Mas acho que funcionava demasiado bem em termos rítmicos. Não iria funcionar se fosse “We danced to Absolutely Sweet Marie” ou “Subterranean Homesick Blues (risos)”.
Espera que as pessoas possam dançar e criar o mesmo tipo de memórias neste seu concerto?
Certamente, quero que as pessoas dancem e aproveitem o concerto. Um amigo acabou de me enviar um vídeo de pessoas a fazerem uma dança muito bizarra durante um concerto nosso nos Países Baixos. As pessoas estavam alinhadas e apenas mexiam os seus braços. Não sei se pode ser considerado uma dança, mas era uma experiência muito mais interativa e eles pareciam estar a divertir-se.