Akie Abe. A ex-primeira dama do Japão que ficou conhecida pela sua “rebeldia”

Akie Abe. A ex-primeira dama do Japão que ficou conhecida pela sua “rebeldia”


O Japão ficou chocado com o assassinado do seu ex-primeiro-ministro, Shinzo Abe e a tragédia fez chorar milhares que o admiravam. Contudo, há alguém que se encontra mais do que destroçado: Akie Abe, a mulher com quem esteve casado 32 anos e que nunca foi uma primeira-dama convencional. Porquê? Por ter ganho o seu espaço na opinião pública e…


Na semana passada, foi anunciado o assassinato de Shinzo Abe, ex-primeiro-ministro do Japão, aos 67 anos. Um repórter do jornal Yomiuri Shimbun afirmou que, após ouvir o som de um disparo, o ex-primeiro-ministro caiu imediatamente no chão, inconsciente. O político foi transportado de ambulância para um hospital perto da estação Kintetsu Yamato-Saidaiji, contudo acabou por não resistir. 

No seu funeral, multidões reuniram-se nas ruas de Tóquio, no dia 12 de julho, para ver passar o carro funerário que transportou o seu corpo. Uns acenando, outros levantando os braços, outros baixando a cabeça, a população despediu-se do seu antigo líder cujo corpo foi cremado na casa funerária de Kirigaya, em Tóquio, após um funeral privado, conduzido pela mulher, Akie Abe, com quem estava casado há 33 anos e que foi vista a seguir no carro em frente ao que transportava o corpo de Shinzo Abe. 

Mas enquanto o país ficou chocado com o assassinato de uma das suas figuras mais polémicas, a pessoa mais devastada pelo crime é precisamente Akie Abe, que aos 60 anos teve de enfrentar a trágica morte do amor da sua vida.

Mas afinal quem é a mulher que ao longo de mais de duas décadas esteve ao lado do líder de uma nação? Na verdade, segundo o El Mundo, ao longo dos mandatos do seu marido, o Japão foi-se apercebendo de que Akie se tratava de uma primeira-dama incomum e, até “rebelde”. Por isso, e tal como o ex-líder, a também figura pública gerou tanto simpatia, quanto rejeição no país asiático, já que de acordo com a CNN, é conhecida pelas suas opiniões “francas” e “progressistas”. Ao contrário das suas antecessoras, esta recusou-se a ficar na sombra do seu marido. E, em vez disso, a “socialite”, tentou conquistar um papel público individual, mais ao estilo das primeiras-damas americanas.
 
Uma mulher independente Nascida em 1962 como Akie Matsuzaki, a sua família é uma das mais ricas do país. Segundo o jornal espanhol, o seu pai, Akio Matsuzaki, é o herdeiro de um império de pastelaria fundado pelos seus ancestrais. E, por isso, o seu rico padrão de vida levou a jovem a estudar nas melhores escolas, embora esta estivesse interessada num um modo de vida “menos rígido”. Educada na Escola Católica do Sagrado Coração, em Tóquio, Akie formou-se no Colégio de Treino Profissional do Sagrado Coração. Depois de estudar Design Social, na Universidade Rikkyo, aos 25 anos conheceu Shinzo, de 32. 

Os dois acabaram por apaixonar-se e, depois de dois anos de namoro, casaram. Já nessa altura, Shinzo percebeu que Akie fugiria de um estilo de vida convencional – do homem que trabalha e da mulher que trata da casa. Por isso, enquanto o seu marido construía a sua próspera carreira política – seguindo os passos do seu pai, ex-ministro das Relações Exteriores do país – a jovem mantinha o seu emprego numa agência de publicidade. Sob o nome de Akky, tornou-se ainda uma grande DJ de rádio e chegou mesmo a abrir um restaurante típico em Uchi-Kanda, um dos bairros mais populares e jovens de Tóquio. A ex-primeira-dama, era também conhecida por gostar de festas, algumas delas fora da esfera formal e política. Recorde-se que foram quatro os mandatos de Shinzo Abe: de 2006 a 2007, 2012 a 2014, 2014 a 2017 e de 2017 até 2020. 

De acordo com a CNN, quando o seu marido se tornou primeiro-ministro, em 2006, Akie começou a mostrar-se uma mulher ainda mais “independente” e “ocidentalizada”. A ex-primeira-dama fazia tudo para poder dar a sua opinião e, durante os quatro mandatos de Shinzo, chegou mesmo a “desafiar abertamente uma série de políticas do seu marido”, desde a sua pressão pela energia nuclear, até ao acordo comercial da Parceria Transpacífico.

Em 2016, a “socialite” conheceu manifestantes, em Okinawa, que se opunham à expansão de uma base do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA, apoiada por Shinzo Abe. ”Quero ouvir e transmitir as opiniões que não chegam ao meu marido ou ao círculo dele”, afirmou à Bloomberg nesse ano. “Isto é um pouco como um partido de oposição, suponho”, explicou.

Para muitos, por isso, “as suas visões progressistas às vezes pareciam estar em desacordo com valores mais conservadores”. Mas sempre que era confrontada, esta garantia que nunca quis intervir nas políticas do marido. “Só quero que os apoiantes do atual Governo saibam que existem formas opostas de pensamento e também que os seus adversários saibam do que se trata o atual Governo. O meu objetivo é construir uma casa que sirva de modelo para o engajamento mútuo”, afirmou numa entrevista. 

Em 2020, Akie protagonizou uma polémica ao ignorar Donald Trump durante um jantar de líderes. Nesse ano, alegou que “não falava inglês”. O que não corresponde à verdade já que, de acordo com a CNN, esta fala a língua fluentemente, desde jovem. Além disso, ao longo dos anos, Akie tem sido uma grande defensora dos direitos LGBTI+, tendo participado numa marcha do orgulho gay, em Tóquio, em 2014. É também uma apoiante do uso de canábis a nível medicinal, tendo pousado para fotografias num extenso campo das plantas, em 2015, e nunca deixou de conduzir o seu próprio carro para se deslocar a eventos, comemorações e campanhas. 

“Quando Shinzo Abe estava ansioso para voltar à liderança em 2012, ela estava ocupada a preparar-se para abrir um restaurante. Era algo que queria fazer há um tempo e pensou que com o marido fora do cargo de primeiro-ministro, em 2007, finalmente teria essa oportunidade”, explicou Tobias Harris, no livro The Iconoclast: Shinzo Abe and the New Japan, lançado em 2020. Chamado UZU, o restaurante foi inaugurado em 2012 no distrito de Kanda, em Tóquio.

De acordo com a mesma publicação, Akie até cultivou o seu próprio arroz orgânico, num arrozal que passou a servir o seu estabelecimento. Em 2015, chegou mesmo a ser fotografada nesse arrozal com a então embaixadora dos EUA no Japão, Caroline Kennedy, vestida de calças de trabalho femininas tradicionais e descalça em águas turvas.

Um casal apaixonado De acordo com a agência de notícias americana, “apesar das suas opiniões muitas vezes opostas, o casal tinha um relacionamento amoroso” e faziam questão de o demonstrar em público, por exemplo, dando as mãos ao desembarcar do avião nas suas viagens oficiais ao exterior. Até então, uma demonstração pública de afeto raramente era vista nos círculos políticos do Japão.

Akie Abe foi também a primeira esposa de um ministro japonês a usar ativamente as redes sociais, especialmente o Facebook e Instagram, onde partilha pedaços da sua vida com milhares de seguidores. E Shinzo Abe aparecia frequentemente nas suas partilhas: sorrindo ao seu lado em eventos ou passeios informais, dando afeto ao seu cão no sofá, lendo jornais no carro, ou mesmo posando com uma tigela de Curry Udon, prato de massa típico do Japão. 

No seu 30.º aniversário, Akie Abe publicou uma fotografia de casamento dos dois vestidos com quimonos. O casal nunca teve filhos devido a problemas de fertilidade. “Nós não fomos abençoados com filhos e eu não tinha confiança para criar um filho adotivo adequadamente. Por isso, nunca aconteceu”, adiantou em várias entrevistas.