Qualquer adjetivo que ouçam os vossos amigos ou seguidores da internet a usar para descrever C. Tangana que possam pensar que é um exagero, não é. O concerto foi realmente assim tão bom.
Passamos a explicar. Antón Álvarez Alfaro, alter-ego de C. Tangana, é um rapper espanhol que fez a sua fama a criar rap e trap no seu país de origem. Contudo, no ano passado, após lançar o seu segundo disco, El Madrileño, um álbum que usa expressões artísticas contemporâneas, como os géneros musicais acima citados, com os mais variados estilos musicais da história da Espanha, desde o tango, flamenco, à música cigana, que o artista foi elevado a um dos mais criativos músicos da sua geração.
A sua fama só foi ainda mais catapultada depois de este ter criado um vídeo para a série de concertos da NPR Music, o Tiny Desk, onde músicos criam versões mais íntimas das suas canções, onde o seu trabalho se tornou viral e foi visto por mais de 33 milhões de pessoas.
Porque é que é importante explicar todo este contexto, pergunta o leitor? Ora, este vídeo criou expectativas irrealistas em alguns fãs que não acreditaram que alguma vez pudessem ver o Tangana a atuar ao vivo sentado numa mesa rodeado por alguns dos convidados deste vídeo, como La Húngara ou ou Niño de Elche. Mas o cantor espanhol não só dissipou estas dúvidas, como as superou, ao trazer ainda mais convidados e mais mesas para o seu espetáculo.
Os fãs responderam da melhor maneira entregando-se à camaradagem que todos os artistas exibiam em palco, como cantando e dançando todas as músicas do artista, desde os êxitos do seu mais recente álbum, como Demasiadas Mujeres ou Ingobernable, mas também os seus raps que marcaram o início da sua carreira, como Llorando en la limo, partindo inclusive para o moche em algumas secções do público durante as suas músicas mais coladas ao rap, e também durante uma adaptação do clássico dos New Order, Bizarre Love Triangle, que serviu de intervalo no medley que juntou ainda Los Tontos e Alegría de Vivir.
Apesar de ser claramente a grande estrela em palco, tendo inclusive um “número”, onde dançou em cima da mesa onde se sentavam os seus companheiros, Tangana não se importava de partilhar o holofote das atenções com todos os músicos com quem partilhou palco e com uma cinematografia digna de um musical ou de tentar rivalizar um filme como o Stop Making Sense dos Talking Heads, o concerto ficará na mente de todas as pessoas que assistiram ao espetáculo e, certamente, aguardarão por um rápido regresso a Portugal para repetir toda esta celebração que ocorreu no Altice Arena,
Antes do músico espanhol, a música latina também dominava o maior palco do Super Bock Super Rock, com Nathy Peluso, cantora e produtora de origem argentina, a revelar a sua capacidade para ser uma das mais energéticas e carismáticas frontwoman da sua geração.
Com um set que também explorou as potencialidades das tradições da música latina com estilos contemporâneos, desde o hip-hop ou o R&B, Peluso deixou parte da sua incansável energia em palco, não só em danças e a vociferar as canções, mas também com exercícios físicos, por exemplo a saltar à corda, a artista satisfez todas as necessidades das pessoas que se dirigiram ao Altice Arena, com uma grande variedade de linguagens musicais, desde o rap de Nathy Peluso: Bzrp Music Sessions, Vol. 36 às baladas, em Vívir Así es Morir de Amor.
Pelo palco principal passaram ainda a eletrónica contagiante de Hot Chip, os australianos Cosmo’s Midnight e o controverso rapper DaBaby, que no passado fez comentários homofóbicos durante um dos seus concertos.
A Sala Tejo acolheu ainda uma grande variedade de artistas como o cantautor português Samuel Úria, a rapper Capicua ou o norte-americano Goldlink. No palco LG marcaram presença o rapper Benji Price, que este ano lançou o seu disco de estreia, ígneo, o DJ Rui Vargas ou Pedro de Tróia.
O festival encontra o seu derradeiro dia este sábado, com atuações de artistas como os Foals, Jamie XX ou Capitão Fausto, com um concerto especial que conta com a participação do maestro Martim Sousa Tavares.