Isabel Díaz Ayuso: “O próximo presidente do Governo de Espanha será  Núñez Feijóo”

Isabel Díaz Ayuso: “O próximo presidente do Governo de Espanha será Núñez Feijóo”


Recentemente eleita presidente do PP de Madrid, Isabel Díaz Ayuso acredita que é possível ‘sair do socialismo’ e que uma viragem de ciclo é ‘urgente’. Com Carlos Moedas, partilha o desejo de colocar Lisboa e Madrid na vanguarda do progresso e da ‘liberdade’.


Portugal e Espanha foram governados nos últimos anos por coligações antes impensáveis, em Portugal com os comunistas e a esquerda radical e em Espanha com estes e inclusive os nacionalistas. Como explica que os partidos socialistas tradicionais tenham derrubado ‘estes muros’ para chegar ao poder?

No caso de Espanha, a falta de assentos parlamentares criou a coligação do PSOE de Pedro Sánchez com os comunistas do Podemos e apoiados por nacionalistas e pelo partido herdeiro do que era a ETA, tornando-se o Governo mais autoritário e prejudicial para o emprego e a unidade nacional. É o Executivo que mais legislou através de decretos sem consenso parlamentar em toda a nossa democracia. Chegam aos Governos negociando seja o que for e, uma vez lá, toda a política destina-se a manter-se no poder através da erosão e do controlo das instituições, como agora farão com o poder judicial. E pagamos todos pela sua debilidade e fragmentação. Longe de consensos de maiorias procuram ilegitimar o adversário.

Já à direita, como analisa a fragmentação em curso? Aqui também com muitas semelhanças na Península Ibérica, entre Vox e Chega e entre Ciudadanos e Iniciativa Liberal.

Em Madrid, ganhamos as eleições do ano passado por uma larga maioria, conseguindo mais lugares que toda a esquerda junta. Isso permite-nos governar sozinhos, em liberdade, sem a dependência de outros partidos. E foi isso que aconteceu na Andaluzia há algumas semanas, onde o PP ganhou com uma maioria absoluta, consolidando o PP como o principal partido. Portanto, essa fragmentação está a desaparecer pouco a pouco e isso é bom para Espanha.

O próximo Parlamento espanhol pode ser mais uma vez um dos mais fragmentados da história da democracia. Como se podem superar as dificuldades ao nível da criação de soluções estáveis ou maioritárias neste cenário?

Estou convencida de que o PP, liderado por Nuñez Feijóo, terá um grande resultado nas próximas eleições gerais. Uma ampla maioria que permita formar um governo forte e com capacidade para tirar o país da grave crise económica à qual nos estão a levar as políticas do atual Governo, que está a fazer disparar a dívida, o défice, que empobrece os rendimentos médios com aumentos de impostos e subvenções clientelistas que, além do mais, nunca satisfazem e que dividem a sociedade com debates estéreis que não são uma prioridade. Entretanto, abandona outros debates como o facto de cada vez nascerem menos crianças ou a solidão não desejada, que se está a transformar noutra pandemia e que afeta especialmente jovens e idosos. A juventude precisa de nós e ninguém fala dela a não ser para fazer promessas eleitorais.

O PSOE está no poder desde 2018. Como vê estes últimos anos de governação socialista?

O presidente Sánchez não tinha um plano para Espanha, mas um plano pessoal para se manter no poder. É muito má notícia para  Espanha que o seu Governo compactue em certas questões com o braço político da ETA ou com os responsáveis pela tentativa de golpe de Estado na Catalunha em 2017. E é particularmente grave que não se defenda a unidade de Espanha, o estado de direito, a independência da Justiça ou a separação de poderes. Mas é possível sair do socialismo, demonstra-lo-emos com números, entusiasmo e trabalho.

É possível uma viragem de ciclo em 2023?

Não só é possível, tal como já apontam todas as sondagens em Espanha, como é urgente para o meu país. Enquanto o PP não chega ao Governo da Nação, o da Comunidade de Madrid é o Governo que os espanhóis estão a perder. Um lugar de contrapeso político onde baixamos impostos, respeitamos a pluralidade, apoiamos as empresas e defendemos a cultura, a liberdade e a vida.

Como explica o acordo entre o PSOE e o EH Bildu sobre a Lei da Memória Democrática, e que repercussões pode ter?

É a maior infâmia política da história recente de Espanha. O presidente do Partido Popular já se comprometeu a revogá-la mal chegue ao Governo.

Há uns meses, o PP foi ameaçado por uma guerra interna quando acusou os líderes do seu partido de elaborarem um dossiê contra si, implicando o seu irmão no processo de adjudicação de um contrato, sem concurso público, para o fornecimento de máscaras. Disse que foi objeto de espionagem a mando de dirigentes do PP próximos de Paulo Casado. Como se pode explicar tudo o que aconteceu?

Não tem explicação. Foi algo insensato que não deve nunca ocorrer no Partido Popular. Recentemente, a Justiça arquivou o caso desse contrato porque foi tudo absolutamente legal e transparente. O Governo a que presido dedicou a sua vida de forma honrada para lutar contra a pior pandemia da história recente.

Teve oportunidade de falar com Pablo Casado desde aí?

Não. E creio que é melhor assim.

Acabou reforçada a partir desta polémica no Congresso Extraordinário, obtendo 99% dos votos. Acredita que o caso das máscaras não foi mais que uma manobra política para lhe tirar protagonismo no partido?

É uma pena que, por vezes, a política tenha destes espectáculos. Porque a verdade é outra e é que muitos de nós estamos a dar o nosso melhor para melhorar a nossa sociedade. Era urgente convocar já o congresso de meu partido em Madrid. Passou. Renovou-se. Agora, queremos continuar a conquistar a confiança dos cidadãos. Que estes sintam que discutir, estudar, trabalhar e sair cada dia a lutar em defesa das coisas boas, vale a pena.

Imagina um dia vir a ser a primeira mulher Presidente do Governo em Espanha?

O próximo presidente do Governo de Espanha será Alberto Núñez Feijóo e eu estarei ao serviço da Espanha a partir de Madrid, que é a casa de todos. Mas uma mulher ser primeira-ministra de Espanha terá de ser pelos seus méritos e qualidades, não por ser mulher.

Vargas Llosa comparou-a ao ex-Presidente norte-americano Ronald Reagan. O que acha desta comparação?

É uma honra ser comparada com ele, e mais ainda vindo de um Prémio Nobel como ele, tão empenhado na liberdade. Por outro lado, Ronald Reagan é um político que admiro. Tanto pelos seus discursos, como pelo seu estilo e pela sua política.

Carlos Moedas já disse que se identifica muito consigo. De que forma ter dois líderes da mesma linhagem ideológica a gerir as duas capitais  ibéricas pode contribuir para a aproximação de Lisboa e Madrid?

Carlos Moedas e eu identificamo-nos com a defesa da liberdade que os madrilenos e lisboetas apoiaram nas urnas e que nos permite, num momento muito importante para as nossas regiões, ser motor económico e vanguarda de progresso para os nossos países. Partilhar políticas e experiências é bom para Portugal e para Espanha.

Tal como em Lisboa, o problema da especulação imobiliária é transversal a quase todas as capitais europeias. Madrid não é excepção. Que soluções podem ser pensadas para este problema?

Tudo ao contrário do que faz a esquerda: não regular os preços das rendas a partir da administração, fomentar novos projetos urbanísticos e não bloqueá-los, respeitar a propriedade privada e perseguir a ocupação ilegal, programas de ajuda para acesso a rendas acessíveis como estamos a fazer em Madrid com projetos como o Madrid Nuevo Norte, que é o maior projeto urbanístico da Europa neste momento, ou ainda eliminar obstáculos burocráticos e libertar espaço público disponível para a construção de habitação.