As fórmulas simplificadoras, muitas de inspiração bíblica, e supostamente facilitadoras da comunicação foram cunhadas por gerações de speechwriters mas só algumas conheceram a glória. Reagan, um diseur prodigioso, imortalizou, a propósito da URSS, o “império do mal”.
Já o “eixo do mal” foi anunciado por Bush jr. a 29 de Janeiro de 2002, no primeiro discurso do estado da nação posterior ao 11 de Setembro, com o propósito de convocar os americanos para uma reacção ao primeiro ataque inimigo em solo dos EUA desde Pearl Harbour.
A comparação entre as duas agressões obrigava uma usar retórica “axial” semelhante à que foi empregue por Roosevelt em 1941 para se referir às “potências do eixo”. O novo trio diabólico – Irão, Iraque e Coreia do Norte – cavalgava a expressão empregue durante a II guerra mundial para referir Alemanha, Itália e Japão.
O triunvirato dos maus era acusado de promover o terrorismo, de acumular armas de destruição maciça (nucleares, químicas e biológicas) e de preparar os vectores do seu transporte a longa distância (mísseis balísticos). Ainda em 2002 a fórmula de sucesso passou, pela boca do sempre divertido John Bolton, a incluir a modalidade “para lá do eixo do mal”, englobando Cuba, Líbia e Síria.
À medida que as sanções económicas decididas contra a Rússia promovem no resto do mundo a inflação e o descontentamento social aumenta, cresce a necessidade de novos fornecimentos de combustíveis fósseis (petróleo e gás natural). Há três Estados que são fortes candidatos a aumentarem significativamente a produção de hidrocarbonetos, substituindo a Rússia e fazendo baixar os preços.
O mais importante é a Arábia Saudita que, através de uma empresa estatal, controla grandes reservas de petróleo barato. A Arábia Saudita foi inventada pelos EUA e pelas seis irmãs do cartel do petróleo e, por muitas décadas, foi um Estado cliente e agradecido a Washington.
Durante os mandatos de Obama foram tomadas duas decisões que colocaram Riade à beira de um ataque de nervos: deixar cair Mubarak e passar de importador a exportador de petróleo e de gás natural. Numa penada os EUA mudaram de patrocinador para ameaça, política e económica. Mohamed Bin Salman (MBS) simbolizou, em termos de ambição (liderança sunita no combate a Teerão, desencadeando sem a prévia bênção de Washington, uma interminável guerra no Iémen) e de mudança geracional, a emancipação da Arábia Saudita.
Em campanha eleitoral para a Casa Branca Biden referiu-se à Arábia Saudita de MBS como sendo um “Estado pária”, expressão tradicionalmente reservada para os integrantes da axiologia do mal. Esta semana Biden rumou a Riade para tentar comprar as boas graças de MBS e baixar o preço que os americanos pagam pelo galão de gasolina (que é menos de metade do que é pago na União Europeia). Convém que os preços baixem antes das Midterm elections em Novembro, sob pena de os democratas serem varridos do Congresso e de Biden passar a ser irrelevante (até na escolha do candidato presidencial em 2024).
As negociações dos EUA com o Irão, para levantar as sanções e permitir a venda de petróleo, estão a decorrer e poderiam ser concluídas rapidamente. Mas devem aguardar pelas Midterms sob pena de, na campanha eleitoral, Biden ser acusado de traição.
O terceiro aumento de produção, de efeitos mais demorados, poderá vir da Venezuela desde que Maduro, com a bênção de Biden, ofereça às majors dos EUA garantias para investirem numa depauperada indústria petrolífera.