O cowboy negro. O quadro que gerou polémica em Espanha

O cowboy negro. O quadro que gerou polémica em Espanha


O Museu Guggenheim, em Bilbau, foi palco de uma polémica devido a semelhanças de uma pintura com uma cena de filme. 


Uma pintura da artista Gala Knörr exposta no Museu Guggenheim, em Bilbau, Espanha – que retrata um jovem negro com um chapéu de cowboy que fixa a câmara – tem gerado polémica por se assemelhar a uma imagem de um plano da curta-metragem Blue, realizada este ano pelo americano Dayday, no qual são narradas as experiências de um cavaleiro negro. De acordo com o El País, a semelhança das obras “desencadeou uma tempestade nas redes sociais”, onde foram feitas acusações de plágio e críticas pela pintura “não incluir nos seus créditos uma referência ao filme da qual a imagem do vaqueiro foi retirada”. No entanto, a controvérsia acabou por ser resolvida na terça-feira, através de um acordo entre todas as partes envolvidas: o Guggenheim, os curadores da exposição e os artistas Dayday e Knörr concordaram que o filme Blue será exibido juntamente com as telas da exposição, pois é uma “fonte de inspiração” para a criação de Young Cowboy e Young Cowboy Looking (nome dado ao quadro em questão). Ou seja, Knörr concordou em incluir uma “correção construtiva” ao lado do seu trabalho, na qual reconhece que sua pintura é inspirada no filme. 

O objetivo da pintura A pintura a óleo faz parte da exposição intitulada Basque Artists Program 2015-2019 que o Museu Guggenheim abriu no dia 8 de julho e da qual fazem parte obras de 10 artistas bascos participantes nas cinco edições da iniciativa patrocinada pelos museus de Bilbau e Nova Iorque e que se dirige a criadores emergentes nascidos ou residentes em Euskadi. A exposição, com curadoria de Lucía Agirre e Geaninne Gutiérrez-Guimarães, relaciona a imagem do cowboy à cultura popular americana, “um arquétipo que vem da publicidade, do cinema e dos media, mas que esconde uma parte importante da sua história, pois a sua origem está localizada no colonialismo e na mistura de raças, culturas e origens”, lê-se no site oficial do museu. Apesar das duas imagens — uma pictórica, a outra animada — terem muitas semelhanças, existem também várias diferenças: a mais notória está relacionada com as cores. 

Segundo o El País, depois da polémica e do acordo entre os envolvidos, o texto explicativo de Young Cowboy Look, que aparece no site do Museu Guggenheim, foi modificado para incluir um esclarecimento que “visa precisamente limpar a controvérsia que surgiu”. Lê-se no novo texto que na pintura do jovem cowboy “Gala Knörr incorpora diretamente imagens inspiradas no filme de 5 minutos Blue, realizado pelo artista e cineasta black queer americano Dayday, e criado especificamente para a série Hulu Your Attention Please (2022)”. “Numa retificação construtiva recente feita com Dayday, na qual se reconhece que Knörr usou o seu filme como inspiração para a sua pintura, a artista basca deseja destacar a contribuição artística do cineasta, que destaca a eliminação do legado dos cowboys afro-americanos no desenvolvimento do oeste americano e lança luz sobre as complexas narrativas em torno do racismo neste tópico específico da história americana”, frisa ainda o novo texto. 

Fernanda Fragateiro vs Lygia Clark  Já em Portugal, em janeiro do ano passado, Alessandra Clark, neta da artista brasileira Lygia Clark, foi surpreendida na televisão com uma obra muito semelhante aos trabalhos da sua avó. A princípio, interrogou-se: “O que faz uma peça da minha avó no Palácio de São Bento, aqui em Portugal?”. Mas depois de um telefonema a uma galerista portuguesa, depressa percebeu que o trabalho não era da sua familiar, mas sim da artista portuguesa Fernanda Fragateiro. A obra em questão, trata-se de uma escultura inspirada no trabalho de Lygia Clark, que dá seguimento a um projeto iniciado em 2016, apelidado de After Lygia Clark e faz parte da coleção Figueiredo Ribeiro, realizada em 2019. Na altura, ao Nascer do Sol, a artista portuguesa fez questão de desconstruir as diferenças entre o seu trabalho e o trabalho de Clark: “A peça de Lygia Clark é uma obra bidimensional, uma colagem em papel. A minha escultura é uma referência direta a esta colagem, mas é uma escultura construída em aço e grandes cadernos de tecido manufacturados”, elucidou. Segundo a mesma, os artistas conversam com as obras dos outros artistas e, esta, estava “especialmente interessada nos temas da abstração e em pinturas ou objetos de design produzidos durante o modernismo”. .