Agora que Wimbledon já se foi, com uma final entre um grego e um sérvio, parece que a predição de um jornalista francês, no Match, em 1927, continua a fazer mais sentido do que nunca: “On peut dire qu’un fait domine l’histoire du tennis mondial en ces dernières années: c’est l’effacement des Anglais — inventeurs du jeu — qui n’occupent plus qu’une place des plus modestes au palmarès (aucun de leurs champions, à Saint-Cloud ni même chez eux, à Wimbledon. n’arrive plus en quarts de finale)”. O apagamento dos ingleses continua e, nem em casa, conseguem surgir como nos primórdios das competições do grand-slam.
Curiosamente, e recuando ao período que mediou as duas Grandes Guerras, esse desaparecimento britânico deu azo a que surgissem quatro dos maiores tenistas franceses de sempre (agora também se poderia escrever um artigo sobre o apagamento dos franceses), aqueles que ficaram conhecidos pelos Quatro Mosqueteiros de Paris, nomes inapagáveis da história do ténis: Jean Borotra (conhecido por O Basco Saltitante), Jacques Brugnon, Henry Cochet e René Lacoste. Durante uma década, estes quatro irredutíveis gauleses dominaram o palco maior do ténis do mundo. Desde que os Internacionais de França, por exemplo, foram criados, em 1925, primeiro no Parque Saint Claude e, depois, em Roland Garros, que os quatro arrasaram as primeiras oito edições.
Lacoste, que ganhou a alcunha de O Crocodilo, alcunha essa que não tardou a exibir nas camisolas que levavam o seu nome, é o mais falado de todos eles ainda hoje, embora talvez muita gente não faça a mínima ideia de que história está por detrás do crocodilo que está na frente do seu pólo. Era um jogador tenaz e de uma resistência impressionante. Cochet era conhecido por O Mágico. Revolucionou o ténis apresentando um estilo novo e era um grande teórico da modalidade. Borotra, o tal Basco Saltitante, era natural de Biarritz e só depois de ter cumprido o serviço militar é que trocou o seu desporto preferido, a pelota basca, pelo ténis. Brugnon, o Toto, era o mais brincalhão dos quatro e um mestre no jogo de pares.
O grande triunfo! Foi precisamente em 1927 que estes quatro jogadores obtiveram um dos mais estrondosos triunfos do ténis francês ao baterem os Estados Unidos na final da Taça Davis, essa competição que, como toda a gente sabe, se joga entre seleções. “Le fameux trophée va pour la première fois être exposé en France!”, gabava-se a sempre orgulhosa imprensa do Hexágono. “Lacoste, Borotra, Brugon e Cochet, que se tornaram grandes aprendendo na duríssima escola de Wimbledon, têm progredido de ano para ano de uma forma miraculosa. E com a consciência do seu valor, com a sua imensa vontade de vencer, impuseram-se ao ponto de se tornarem inesquecíveis e imbatíveis. E assim ultrapassaram de vez os seus adversários ingleses tornando-se nos verdadeiros reis da Europa”. Ah! Ultrapassar os adversários ingleses. Não pode haver frase mais açucarada para um francês.
De 1927 a 1932, a equipa de França ganhou a Taça Davis seis vezes consecutivas! A demonstração da sua força era impressionante. Na década que mediou entre 1920 e 1930, os Quatro Mosqueteiros de Paris conquistaram nada menos de, no total, 20 títulos do grand-slam aos que havia de somar 23 em pares.
Wimbledon terá sempre, para os amantes do ténis, um brilho especial em relação a qualquer outro dos grandes torneios. É não apenas a pátria do ténis como o local onde ele é mais respeitado e onde os jogos são rodeados de um cerimonial bem britânico que encanta os espetadores. Agora que mais um torneio chegou ao fim, com a vitória de Djokovic apenas ensombrada pela desistência, por lesão, de Rafael Nadal, é bom recordar que, ao longo dos tempos, jogadores ímpares pisaram aquela relva mágica. Quatro deles foram franceses: Jean Borotra, Jacques Brugnon, Henry Cochet e René Lacoste. Os Quatro Mosqueteiros.