Há uma mudança notória no nível de prontidão e nas mensagens de alerta depois da tragédia que se abateu sobre tantas vidas e famílias em 2017 – uma aprendizagem também política, como diz nesta edição António Costa Pinto – mas chegados de novo a uma situação de risco máximo de fogos, e estando no conforto da cidade, não deixo de pensar nos desabafos que ouvi há umas semanas na zona de Pedrógão Grande e nos milhares de homens que enfrentam o calor das chamas, a enorme ventania e as armadilhas do fogo.
Em junho, na região onde os fogos ficarão sempre marcados, a floresta estava na mesma ou pior, desordenada, e basta ver a paisagem de eucaliptos novos enfileirados para perceber como o país – culpa do Estado, dos proprietários e do deixa andar geral – continua a ser um “barril de pólvora”, mesmo sabendo-se que o risco tenderá a aumentar. É um trabalho que não se faz da noite para o dia, mas tem-se feito pouco e os incêndios não se previnem em contingência, mas antes, com incentivos a melhores práticas. “Só não plantaram eucaliptos no alcatrão porque não podiam”, disse-nos na altura um dos moradores, que naquele fatídico dia de 2017 teve de dar o telemóvel aos bombeiros para fazerem a chamada ao CODU. Esperemos que nisso as coisas estejam melhores. Houve seguramente aprendizagens e também na antecipação do que são situações de grande risco parece haver um maior esforço, mobilização mais rápida de meios, maior articulação e maior clareza no alerta à população. Mas a prevenção é o calcanhar de Aquiles de um país que, em desigualdades e assimetrias, se torna sempre maior do que realmente é e vai deixando borregar os planos e os compromissos. Por isso, depois da contingência, que esperemos que não seja demasiado dura para quem vive nesses barris de pólvora, seria bom fixar o que pode mais ser feito para lá de arregaçar as mangas em estado de alerta, ouvindo a população e os bombeiros que nos últimos dias se queixavam de falta de meios para a sua missão. São eles que lá estão agora.