O monstro que mora em alguns


O sistema falha, nós falhamos todos, e continuamos sem que nada seja alterado.


Jéssica morreu. Assassinada às mãos de quem a tomou refém para cobrar uma dívida de umas centenas de euros.

A mãe não pediu ajuda, quem a rodeava não achou estranha a sua ausência. Jéssica já não existia antes de terminar a sua curta vida.

E nós, sociedade, classe política, estremecemos mais uma vez com as notícias e o horror com que nos confrontámos no momento, numa indignação coletiva que durou dois ou três dias.

Já nos acontecera com a Valentina, a Lara, a Joana. Com demasiadas crianças. Na terça-feira um recém-nascido foi abandonado num contentor de lixo em Sintra. Foi lá colocado pelo próprio avô. Ainda com vida. Não resistiu.

Mas o que acontece depois da nossa indignação passar? Nada.

O sistema falha, nós falhamos todos, e continuamos sem que nada seja alterado.

A miséria é a raiz de todos estes casos. Miséria material e miséria moral. Com a falência dos valores, a indiferença, a falta de cuidado e interesse pelo outro, as sociedades caminham numa trajetória de destruição.

Quando falamos de elevador social (que não funciona) falamos de tudo isto. Desde a mais tenra idade somos moldados pelo ambiente que nos rodeia e não podemos ter ilusões: se a fome, a falta de condições de habitação, a escola, o atendimento médico (físico e mental) não está lá, a lei da sobrevivência falará mais alto do que qualquer valor moral e será esse ciclo vicioso que se perpetuará.

O sistema está a falhar de forma tão evidente que tem de haver coragem para o alterar.

Quando nos dizem que Jéssica estava sinalizada desde o seu primeiro mês de vida, que os cinco irmãos de Jéssica não reuniram condições para se manterem com a progenitora, não soaram alarmes para além da máquina burocrática?

Quantas Jéssicas estão neste momento em perigo? Quantos idosos sofrem às mãos de quem os devia proteger ou sobrevivem no mais completo desamparo?

De certeza que não é esta a sociedade que queremos e que sonhámos construir.

E temos de agir. Com rapidez. Se o sistema falha tão clamorosamente, tem de ser revisto, repensado e, mais importante que tudo, colocado a funcionar com eficiência. Não a fingir que funciona.

E é bom não esquecer que a ausência de valores morais, o descaso, a indiferença, os maus tratos de toda a espécie, não habitam só em casas e bairros degradados, também se alojam em condomínios de luxo.

Se há quem pugne pelo aumento das medidas punitivas para casos com a gravidade do que aconteceu, defendendo mesmo a prisão perpétua, talvez seja altura de refletir, mas refletir com seriedade, se essa será mesmo a solução ou se a chave não estará na resolução (ou pelo menos na atenuação) de todos os problemas que se formam a montante.

No desgaste de todos os dias temos de começar por abandonar a indiferença com que olhamos os outros, começar a notar os sinais que aí estão e a exigir ação.

Temos um longo caminho a percorrer e o percurso tem de ser iniciado. Já.

Só assim podemos voltar a ter esperança no futuro e começar a derrotar o monstro que mora em alguns.

O monstro que mora em alguns


O sistema falha, nós falhamos todos, e continuamos sem que nada seja alterado.


Jéssica morreu. Assassinada às mãos de quem a tomou refém para cobrar uma dívida de umas centenas de euros.

A mãe não pediu ajuda, quem a rodeava não achou estranha a sua ausência. Jéssica já não existia antes de terminar a sua curta vida.

E nós, sociedade, classe política, estremecemos mais uma vez com as notícias e o horror com que nos confrontámos no momento, numa indignação coletiva que durou dois ou três dias.

Já nos acontecera com a Valentina, a Lara, a Joana. Com demasiadas crianças. Na terça-feira um recém-nascido foi abandonado num contentor de lixo em Sintra. Foi lá colocado pelo próprio avô. Ainda com vida. Não resistiu.

Mas o que acontece depois da nossa indignação passar? Nada.

O sistema falha, nós falhamos todos, e continuamos sem que nada seja alterado.

A miséria é a raiz de todos estes casos. Miséria material e miséria moral. Com a falência dos valores, a indiferença, a falta de cuidado e interesse pelo outro, as sociedades caminham numa trajetória de destruição.

Quando falamos de elevador social (que não funciona) falamos de tudo isto. Desde a mais tenra idade somos moldados pelo ambiente que nos rodeia e não podemos ter ilusões: se a fome, a falta de condições de habitação, a escola, o atendimento médico (físico e mental) não está lá, a lei da sobrevivência falará mais alto do que qualquer valor moral e será esse ciclo vicioso que se perpetuará.

O sistema está a falhar de forma tão evidente que tem de haver coragem para o alterar.

Quando nos dizem que Jéssica estava sinalizada desde o seu primeiro mês de vida, que os cinco irmãos de Jéssica não reuniram condições para se manterem com a progenitora, não soaram alarmes para além da máquina burocrática?

Quantas Jéssicas estão neste momento em perigo? Quantos idosos sofrem às mãos de quem os devia proteger ou sobrevivem no mais completo desamparo?

De certeza que não é esta a sociedade que queremos e que sonhámos construir.

E temos de agir. Com rapidez. Se o sistema falha tão clamorosamente, tem de ser revisto, repensado e, mais importante que tudo, colocado a funcionar com eficiência. Não a fingir que funciona.

E é bom não esquecer que a ausência de valores morais, o descaso, a indiferença, os maus tratos de toda a espécie, não habitam só em casas e bairros degradados, também se alojam em condomínios de luxo.

Se há quem pugne pelo aumento das medidas punitivas para casos com a gravidade do que aconteceu, defendendo mesmo a prisão perpétua, talvez seja altura de refletir, mas refletir com seriedade, se essa será mesmo a solução ou se a chave não estará na resolução (ou pelo menos na atenuação) de todos os problemas que se formam a montante.

No desgaste de todos os dias temos de começar por abandonar a indiferença com que olhamos os outros, começar a notar os sinais que aí estão e a exigir ação.

Temos um longo caminho a percorrer e o percurso tem de ser iniciado. Já.

Só assim podemos voltar a ter esperança no futuro e começar a derrotar o monstro que mora em alguns.