Tantos massacres depois, custa ainda mais ouvir as alarvidades dos ex-militares portugueses que devem ter feito treino na antiga União Soviética. Felizmente, vivemos numa democracia, com todos os seus defeitos, que nos permite dizer o que bem entendemos, precisamente porque não estamos em nenhuma república da ex-URSS. Se assim fosse, estaria certamente há muito numa campo de reeducação, isto na melhor das hipóteses, ou num campo de trabalhos forçados tipo Sibéria – não consigo é imaginar nenhum local semelhante em Portugal.
Vem esta conversa a propósito dos comentários de um desses generais, que ontem se descaiu em direto e exaltou com a conquista de mais um território por parte dos russos. “Felizmente”, disse ele, corrigindo, para “felizmente para os russos”. Depois vangloriava-se com a falta de material bélico do lado ucraniano e defendia uma vez mais, com a maior cara de pau, que as tropas de Zelensky só têm uma coisa a fazer: renderem-se, pois do outro lado estão 900 mil militares. Este adepto do ditador Putin nunca deve ter ouvido falar na dignidade de defender a nação, a pátria, a terra onde se nasceu… Imagino que a única nação que defenderam foi a da saudosa, para eles, União Soviética – onde largos milhões de pessoas morreram por ordens de rapazes como Estaline.
Confesso que se não fosse a gravidade da guerra, dos atropelos aos valores mais elementares da dignidade humana, até acharia piada às alarvidades destes ex-militares vermelhos que conseguem vestir a camisola dos soldados de Putin com mais fervor que eles próprios. Mas têm a arte de serem insidiosos, querendo passar a ideia que são independentes, quando, por vezes, ficam a descoberto com os seus deslizes.
Há dois que se destacam de todos os outros, pois, felizmente, lá está, as televisões têm levado também ex-militares ou militares perfeitamente independentes e que não rejubilam com as “não derrotas” da Ucrânia, pois estão ali para descrever o que sabem e o que acreditam que se está a passar e não para serem adeptos deste ou daquele ditador.