O Banco de Portugal (BdP) prevê que a economia portuguesa chegue aos 6,3% este ano, “refletindo um forte efeito de arrastamento associado ao crescimento ao longo de 2021, a dinâmica do primeiro trimestre do ano, mas também uma acentuada desaceleração no resto do ano”. Nos anos seguintes, o crescimento recua para 2,6% em 2023 e 2% em 2024.
O banco liderado por Mário Centeno diz que “as projeções para 2022 a 2024 refletem a continuação da recuperação da economia portuguesa após o choque pandémico, num enquadramento externo agravado pela injustificada invasão russa da Ucrânia”. Já a inflação deverá aumentar para os 5,9% em 2022, mas os preços deverão voltar a cair nos dois anos seguintes e a inflação deverá cair para 2,7% em 2023 e para 2% em 2024.
“O agravamento do enquadramento internacional condiciona a evolução da atividade. A economia portuguesa sofre impactos, diretos e indiretos, da invasão da Ucrânia, que resulta no aumento da incerteza, em maiores taxas de inflação e no acentuar das disrupções nas cadeias de produção globais”, alerta, no entanto, o BdP.
E acrescenta que a “deterioração do contexto externo implicou revisões em baixa das taxas de variação em cadeia do PIB ao longo de 2022. Os efeitos dinâmicos destas revisões implicam um menor crescimento anual em 2023 relativamente ao anteriormente projetado”.
Sobre a inflação, o próprio governador do Banco de Portugal deixou alguns alertas: “É um momento muito complexo das nossas vidas este que enfrentamos, este fenómeno de inflação”, disse Mário Centeno, acrescentando que “a inflação está no centro das nossas vidas”.
Outros crescimentos No que diz respeito ao investimento, o Banco de Portugal projeta uma continuidade no crescimento de 6% em média em 2022-24, “próximo do observado em 2021, em larga medida refletindo os recebimentos de fundos europeus”.
Já as exportações deverão crescer 13,4% este ano mas contam com uma desaceleração gradual até 2024. “Este perfil é determinado pela recuperação das exportações de serviços, projetando-se que o turismo regresse ao nível pré-pandémico em meados de 2022”, justifica o banco central.
Quanto ao crescimento do emprego deverá “abrandar ao longo do horizonte de projeção”. Em números, a taxa de desemprego diminui para 5,6% em 2022 e 5,4% nos anos seguintes. “Os salários reais por trabalhador no setor privado reduzem-se 1% em 2022, refletindo a subida da inflação, mas aumentam, em média, 2% em 2023-24, aproximadamente em linha com a produtividade”, lê-se ainda no boletim económico.
É novamente com cautela que o BdP fala na subida dos salários. “Não gera pressões inflacionistas subidas de salários que sejam no máximo idênticas ao nosso objetivo de inflação de médio prazo (2%), idealmente acrescido dos ganhos de produtividade, afirmou o governador, acrescentando que esta é “a resposta analiticamente correta”, que “pode não ter uma tradução política nas negociações concretas”. Por isso, não tem dúvidas: “A minha posição é a mesma: deve-se ter alguma cautela nessa transposição”.
Riscos “À atual projeção estão associados riscos descendentes para a atividade e ascendentes para a inflação, em particular no ano de 2022. A possibilidade de agravamento do impacto da invasão da Ucrânia constitui o principal foco de incerteza e riscos”, lembra o Banco de Portugal.
E acrescenta que o aumento continuado das qualificações da força de trabalho “é essencial num contexto demográfico desfavorável e de transformação tecnológica orientada para a digitalização. Uma implementação efetiva dos investimentos e reformas subjacentes ao Plano de Recuperação e Resiliência permitirá ganhos adicionais de crescimento a longo prazo”.
Zona euro desigual Na conferência de imprensa de apresentação do boletim, Centeno explicou que houve “um processo de recuperação do lado da procura muito desigual em termos de áreas económicas e monetárias”. E deu, como exemplo, os Estados Unidos onde “a procura interna recuperou a níveis pré-crise ainda em meados do ano de 2021”. Mas “isso ainda não aconteceu” na zona euro.
“A pressão mundial global colocada pela procura é muito desigual a nível espacial, pelo que o desajustamento entre a procura e a oferta criou pressões inflacionistas”, disse. E explicou que as perturbações nas cadeias de abastecimento globais, “foram reforçadas com as tensões geopolíticas e as sucessivas vagas da pandemia”.
Outro problema é o aumento dos preços das matérias primas “que faz parte também deste processo mas tem chegado em vagas”.
E não tem dúvidas: “A Europa sofre, por todas estas consequências, um fenómeno de inflação importada”.
Novo instrumento do BCE Centeno defendeu ainda que o novo instrumento antifragmentação que o Banco Central Europeu (BCE) está a preparar é paralelo à normalização da política monetária, o que cria as condições para a sua concretização. “Este instrumento não trata do processo de normalização em si, trata apenas de criar condições para que o processo de normalização se possa concretizar. Ou seja, evitar os tais riscos de fragmentação”, explicou.