O meu primo António Camillo-Alves gosta de dizer que a malta que viveu a adolescênca nos Olivais-Sul é uma espécie de veteranos do Vietname, tal a forma calorosa como nos reencontramos e as histórias que rapidamente começamos a trocar sem faltarem as personagens, os seus pormenores físicos, os feitos de cada uma e o ramo familiar das ditas, ou mais precisamenre as ruas e as pracetas em que viviam.
Eu fui para os Olivais em 1975, quando o meu pai foi colocado em Lisboa, e todos os meus grandes amigos (tirando os da Águeda da minha infância) fi-los aqui e continuamos um grupo inseparável que muito a custo se opõe com fortíssima resistência à velhice que vai, aos poucos, tomando conta de nós porque, infelizmente, o tempo não se dá ao trabalho de fazer intervalos. O Mário Ramires conheci-o quando ainda andava de cueiros e, agora, de repente, já é avô de uma Matilde, tal como os irmãos da minha idade, José Manuel Mesquita e Francisco António Febrero (por extenso, Xitó) já há muito gozam desse prazer que não conseguem explicar mas que também eu não tardarei a repartir com eles. Não sei se mudará alguma coisa na minha vida, não sei se mudará algo na minha idiossincrasia, mas não me custa a crer que sim.
Há por aí, na barriga da mãe, a minha Mafalda que é a personificação do entusiasmo e da alegria, capaz de encher uma casa de luz com as suas gargalhadas súbitas e perfeitas, um pequenino que tem o meu sangue nas veias e que estou disposto a amar incondicionalmente, entregando-lhe nas mãozinhas pequenas a verdade da minha essência.
De repente, abriram-se as portas de um futuro que ainda não tinha imaginado. E uma profunda ternura, de que falava Vinicius, invade-me o coração: “É um sossego, uma unção/um transbordamento de carícias/e só te pede que te repouses quieta/muito quieta/E deixes que as mãos cálidas da noite/encontrem sem fatalidade/o olhar estático da aurora”.