A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) cortou as suas previsões de crescimento e Portugal não foi exceção. Quer isto dizer que, o Produto Interno Bruto (PIB) português deverá crescer 5,4% este ano. No ano seguinte, o crescimento deverá ser mais tímido: 1,7%.
Sobre estes dados, Henrique Tomé, analista da corretora XTB, começa por defender que «ainda existem muitos fatores de risco que podem comprometer tais projeções e o Governo acabou por avançar com previsões mais cautelosas». E deixa algumas notas: «É importante notar que o BCE se prepara para aumentar as taxas de juro muito em breve, enquanto que a inflação permanece elevada», acrescentando ao Nascer do SOL que «o excesso de liquidez no mercado presente ao longo dos últimos anos também deverá terminar com o fim do programa de compra de ativos» (ver texto ao lado).
Por outro lado, o analista lembra que, «a guerra no leste da Europa continua a decorrer e ainda não se sabe se a situação se poderá agravar», o que revela que, «ainda é cedo para criar grandes expectativas em torno destas projeções».
Já Ricardo Evangelista, diretor executivo da ActivTrades Europe, avança ao Nascer do SOL que os dados da OCDE mostram que «Portugal será, dentro das 36 economias mais desenvolvidas do mundo, uma das que mais crescerá em 2022». Assim, apesar da revisão em baixa «podemos dizer que são boas notícias para Portugal, com uma performance económica que se mantém bastante acima da média dos países da OCDE este ano».
Mas nem tudo é positivo, no entender no analista: «Menos positivo é o facto de se prever que em 2023 o crescimento português abrande relativamente aos outros estados».
A OCDE avançou ainda, no relatório, que o crescimento real do PIB está relacionado com o investimento público «robusto», impulsionado pelos fundos da União Europeia, e à recuperação do turismo. Alertando, no entanto, que «a guerra na Ucrânia, as perturbações nas cadeias de fornecimento e as subidas dos custos energéticos e dos preços das matérias-primas vão penalizar a atividade» económica.
Mas deixa um alerta: «Os fundos europeus estão a impulsionar a economia portuguesa, em determinados setores», diz Henrique Tomé, acrescentando que, além disso, «o retomar da normalidade após todas as restrições provocadas pela pandemia estão a ajudar o setor do turismo que continua a ter uma fatia importante para o PIB nacional».
E apesar de acreditar que não existam atrasos na entrega dos fundos europeus a Portugal reconhece que poderão «surgir alguns atrasos na atribuição do Governo às empresas, sobretudo às PMEs».
Inflação continua a galopar
No que diz respeito à inflação, os dados não são muito animadores. «Os aumentos na energia e nos bens alimentares devem elevar a inflação para 6,3% em 2022 e 4% em 2023». Poderão estes valores prejudicar o crescimento do país? Não há dúvidas para o analista da XTB: «A inflação continua a ser um grande problema para Portugal». E acrescenta: «Apesar das projeções sobre o PIB serem animadoras, a verdade é que as famílias portuguesas estão cada vez mais a perder poder de compra e poderá ter um impacto mais severo na economia a médio prazo».
Por isso, Henrique Tomé defende que «o grande desafio» para o país é «conseguir manter o crescimento da economia enquanto a inflação permanece elevada. Assim que a economia portuguesa começar a dar sinais de abrandamento, e se a inflação permanecer elevada, então vamos ser severamente afetados economicamente».
Mas Ricardo Evangelista recorda que, apesar dos «níveis elevados» de inflação, que «continuam a ser uma ameaça para as perspetivas de crescimento económico», lembra que não é apenas Portugal que enfrenta este problema.
Dos maiores crescimentos
Ainda esta semana, o Eurostat deu conta que o PIB português contou com um dos maiores crescimentos homólogos (11,9%) nos primeiros três meses deste ano. Em cadeia, o PIB português foi o quinto com maior crescimento por Estados-Membros e, em termos homólogos, foi o que registou o maior crescimento.
Boas notícias para Portugal? «A verdade é que Portugal é dos países europeus menos prejudicados com o atual cenário de guerra no leste da Europa e só há pouco tempo é que alguns setores prejudicados pela pandemia começaram a recuperar, em grande parte devido também às ajudas vindas dos fundos europeus», explica Henrique Tomé que dá também uma visão mais ampla: «Portugal continua a ser o país que menos cresce na zona euro e existe a necessidade urgente para que o setor privado comece a produzir mais».
Já Ricardo Evangelista recorda a dependência de Portugal do setor do turismo, mais do que quase todos os outros países. «Por esse motivo, Portugal foi um dos estados mais afetados pela pandemia, devido aos confinamentos. Uma vez reaberta a economia, aconteceu o contrário, e a recuperação face ao período homólogo de 2021 foi também ela acima da média».
Guerra penaliza
Também o Banco Mundial reviu em baixa a previsão de crescimento económico da zona euro para este ano que deverá desacelerar para 2,5%. A culpa é dos «choques de abastecimento adicionais» causados pela invasão da Ucrânia. Em causa está a revisão em baixa em 1,7 pontos percentuais, já que a guerra leva a «preços de energia mais altos, a disrupções contínuas nas cadeias de abastecimento e a condições financeiras mais apertadas», disse no relatório Perspetivas Económicas Globais.