Almirante Reis


Não nos podemos arriscar a que os “Almirantes” da mudança, ou seja, os cidadãos, por erro de perceção, desistam dela antes que aconteça.      


Carlos Cândido dos Reis, nascido em Lisboa em 16 de janeiro de 1852, foi Vice-Almirante da Marinha Portuguesa e revolucionário republicano, conhecido na época e historicamente como Almirante Reis. Tendo sido um dos líderes do movimento que conduziu à implantação da República em 5 de outubro de 1910, suicidou-se, no entanto, no dia anterior, segundo rezam as crónicas, por ter tido a perceção de que o golpe falharia, o que como se sabe não veio a acontecer.

Recuperei este naco de história pelo seu simbolismo num quadro em que a Avenida de Lisboa a que o Almirante deu nome tem estado no centro de um intenso debate sobre as dinâmicas de modernização e descarbonização da cidade, tendo por foco a configuração da ciclovia que nela foi implantada.

Carlos Cândido dos Reis não aguentou a pressão da revolução e não a viu nascer. O debate sobre a ciclovia da Avenida a que deu nome é necessário e não deve ser dramatizado ou fanatizado, evitando assim gerar perceções que deitem tudo a perder na revolução necessária na mobilidade urbana de Lisboa.

Este texto não é sobre o caso da ciclovia da Almirante Reis, mas sobre as atitudes perante a transformação que a sociedade em geral e as cidades em particular vão ter que adotar para que seja possível melhorar a qualidade de vida dos seus cidadãos e assegurar os objetivos de sustentabilidade que têm que mobilizar a todos para mitigar as alterações climáticas e preservar o planeta. Olhando para as notícias do que tem acontecido com o projeto da ciclovia, fica claro o contraponto entre os que defendem o regresso ao passado, os que se cristalizam na defesa do que foi construído e os que mostram abertura para uma avaliação ponderada e dinâmica dos impactos, de forma a otimizar a solução no seu conjunto e não para um grupo específico de utilizadores daquela artéria viária.

Esta semana o Parlamento Europeu debate e aprova a sua posição sobre oito dos 13 pacotes legislativos que integram o pacote “Fit for 55” que visa que a União Europeia reduza em pelo menos 55% as suas emissões de gases com efeitos de estufa até 2030. Estive e estarei fortemente empenhado no sucesso da iniciativa, que é crucial para consolidar a liderança da União Europeia na Transição Energética e nas políticas de descarbonização. Sou um dos representantes do meu grupo político na negociação em particular do Mecanismo de Ajustamento Carbónico Transfronteiriço (CBAM no acrónimo inglês).

Num contexto de crise gémea (sanitária e de segurança) os racionais de debate são muito similares aos da ciclovia. Uns querem riscar do mapa os objetivos da descarbonização arriscando-se a riscar dele a própria humanidade. Outros querem seguir os roteiros como se nada tivesse mudado em busca de indicadores perfeitos sem ter em conta a destruição colateral provocada pela insensibilidade à mudança de contextos. O caminho da revolução implica diálogo e capacidade de compreensão holística. Os objetivos só serão atingidos se todos tiverem algo a ganhar com isso e se a transição for justa, inteligente e transparente. Não nos podemos arriscar a que os “Almirantes” da mudança, ou seja, os cidadãos, por erro de perceção, desistam dela antes que aconteça.

 

Eurodeputado do PS

Almirante Reis


Não nos podemos arriscar a que os “Almirantes” da mudança, ou seja, os cidadãos, por erro de perceção, desistam dela antes que aconteça.      


Carlos Cândido dos Reis, nascido em Lisboa em 16 de janeiro de 1852, foi Vice-Almirante da Marinha Portuguesa e revolucionário republicano, conhecido na época e historicamente como Almirante Reis. Tendo sido um dos líderes do movimento que conduziu à implantação da República em 5 de outubro de 1910, suicidou-se, no entanto, no dia anterior, segundo rezam as crónicas, por ter tido a perceção de que o golpe falharia, o que como se sabe não veio a acontecer.

Recuperei este naco de história pelo seu simbolismo num quadro em que a Avenida de Lisboa a que o Almirante deu nome tem estado no centro de um intenso debate sobre as dinâmicas de modernização e descarbonização da cidade, tendo por foco a configuração da ciclovia que nela foi implantada.

Carlos Cândido dos Reis não aguentou a pressão da revolução e não a viu nascer. O debate sobre a ciclovia da Avenida a que deu nome é necessário e não deve ser dramatizado ou fanatizado, evitando assim gerar perceções que deitem tudo a perder na revolução necessária na mobilidade urbana de Lisboa.

Este texto não é sobre o caso da ciclovia da Almirante Reis, mas sobre as atitudes perante a transformação que a sociedade em geral e as cidades em particular vão ter que adotar para que seja possível melhorar a qualidade de vida dos seus cidadãos e assegurar os objetivos de sustentabilidade que têm que mobilizar a todos para mitigar as alterações climáticas e preservar o planeta. Olhando para as notícias do que tem acontecido com o projeto da ciclovia, fica claro o contraponto entre os que defendem o regresso ao passado, os que se cristalizam na defesa do que foi construído e os que mostram abertura para uma avaliação ponderada e dinâmica dos impactos, de forma a otimizar a solução no seu conjunto e não para um grupo específico de utilizadores daquela artéria viária.

Esta semana o Parlamento Europeu debate e aprova a sua posição sobre oito dos 13 pacotes legislativos que integram o pacote “Fit for 55” que visa que a União Europeia reduza em pelo menos 55% as suas emissões de gases com efeitos de estufa até 2030. Estive e estarei fortemente empenhado no sucesso da iniciativa, que é crucial para consolidar a liderança da União Europeia na Transição Energética e nas políticas de descarbonização. Sou um dos representantes do meu grupo político na negociação em particular do Mecanismo de Ajustamento Carbónico Transfronteiriço (CBAM no acrónimo inglês).

Num contexto de crise gémea (sanitária e de segurança) os racionais de debate são muito similares aos da ciclovia. Uns querem riscar do mapa os objetivos da descarbonização arriscando-se a riscar dele a própria humanidade. Outros querem seguir os roteiros como se nada tivesse mudado em busca de indicadores perfeitos sem ter em conta a destruição colateral provocada pela insensibilidade à mudança de contextos. O caminho da revolução implica diálogo e capacidade de compreensão holística. Os objetivos só serão atingidos se todos tiverem algo a ganhar com isso e se a transição for justa, inteligente e transparente. Não nos podemos arriscar a que os “Almirantes” da mudança, ou seja, os cidadãos, por erro de perceção, desistam dela antes que aconteça.

 

Eurodeputado do PS