Depois da Espanha, ontem, a Suíça no domingo, em Alvalade. A primeira vez que defrontámos os suíços foi logo a sério: eliminatória única, disputada num jogo em Milão, de acesso à fase final do Mundial de 1938, em França. Cândido de Oliveira, o selecionador nacional, levou os seus rapazes para junto do Lago de Como, já em Itália, na tentativa de os manter longe do eco entusiasta que lhes chega da ocidental praia. Repouso total antes do importantíssimo embate.
Müller, adjunto do selecionador helvético, Karl Rappan, assistiu em Frankfurt ao jogo amigável de Portugal contra a Alemanha (1-1). Não se mostrou impressionado: “Não teremos dificuldades em bater os portugueses. A nossa equipa é claramente superior!” Confiava na tremenda força atlética da sua seleção e no seu maior peso histórico que a levara, em 1924, a ser finalista dos Jogos Olímpicos e a ter chegado aos quartos-de-final do Mundial de 1934. Praticamente desconhecido entre nós, o futebol suíço tinha uma organização muito complexa e fazia disputar um campeonato nacional desde 1897-98, embora a competição mais importante fosse a Taça da Suíça.
Nos dez anos seguintes haveríamos de defrontar os suíços por mais cinco vezes e com um balanço francamente negativo. Em Milão, um penalti falhado por Cruz e três bolas chutadas às traves do guarda-redes Hubber condenaram Portugal a ser, pela segunda vez, afastado do Campeonato do Mundo, depois da frustração de quatro anos antes frente à Espanha. Resultado: 1-2, golos de Aebi e Amadó (23 e 28 minutos) e de Peyroteo, aos 73, de penalti.
Amargas queixas de falta de sorte – Cruz não falhava um penalti há mais de três anos – e de desacerto do árbitro italiano Matteo, que teria validado indevidamente o segundo golo suíço apontado por Trello em posição de off-side. Mas a falta de objetividade começava a ser um pecadilho grave com custos elevadíssimos.
Veja-se o que escreveu o insuspeito De Ryswick, enviado especial a Milão do jornal desportivo francês L’Auto: “(…)Faltaram aos portugueses, para bater a Suíça, e batê-la nitidamente, pequenas coisas indispensáveis ao football moderno e, com mais forte razão, indispensáveis a um encontro da Taça do Mundo. Notáveis controladores de bola, que controlam e utilizam nas posições mais difíceis, não tendo muito a aprender na arte da finta e do dribling pareceram um pouco em atraso no que se refere à luta voluntariosa pela bola, à observação constante do adversário e no domínio da realização. Quantas vezes vimos um adversário português bem colocado para tentar a sua chance, mas perdê-la pela hesitação de uma fração de segundo. Sem dúvida que os jogadores portugueses foram vítimas da sua falta de hábito dos desafios difíceis, do seu isolamento quase total nestas últimas épocas, da falta de confronto com as grandes equipas continentais”. Uma análise objetiva na qual o azar e a sorte não têm lugar.
Bela Suíça! A Suíça justificaria o seu apuramento com nova presença nos quartos-de-final nos quais se bateu palmo a palmo com a Checoslováquia (2-3) que chegaria à final com a Itália. E no fim do ano, em Novembro, Portugal foi a Lausana para uma espécie de tira-teimas.
Nova derrota, agora por 0-1, marcada por um pequeníssimo pormenor demonstrativo da impreparação portuguesa no domínio de todas as incidências do jogo: apesar da combinação inicial de que as substituições se fariam até cinco minutos do intervalo, Cândido de Oliveira trocou, durante o descanso, o magoado Gaspar Pinto por Amaro. Minelli, capitão suíço, protestou com o árbitro no reinicio, e Gaspar Pinto foi obrigado a reentrar para que Mariano saísse.
Só que o benfiquista já tinha tomado banho e vestido a roupa civil. E foi durante o tempo em que Portugal esteve reduzido a dez jogadores que Paulo Aebi fez o golo decisivo. Respondendo ao convite português, a Suíça iria a Lisboa no ano seguinte. Voltou a vencer. Desta vez por 4-2. Agora, para a segunda jornada da Liga das Nações, tem a palavra Portugal outra vez…