É normal que se sendo eurodeputado e participando ativamente na tomada de decisões que se correlacionam com a invasão da Ucrânia pela Rússia, seja múltiplas vezes interpelado em sessões de diálogo público, por órgãos de comunicação social ou por cidadãos com que me cruzo, sobre a minha perspetiva sobre o que vai acontecer.
A complexidade do que está em jogo, e que faz que não sendo este o mais sangrento conflito em curso no globo, seja o mais determinante para o nosso futuro coletivo, não recomenda que se tentem exercícios de previsão. Respondo por isso normalmente às questões gerais sobre o resultado final da guerra, afirmando que a única certeza que tenho são as minhas convicções e será em nome dessas convicções de defesa da paz, da liberdade de expressão, da democracia, dos direitos humanos e da soberania dos povos que me baterei em todas as circunstâncias.
Em contrapartida, estou sempre disponível para dialogar sobre as políticas em concreto, de forma a tornar mais viável a prevalência das ideias que defendo, e que estão sob ataque não apenas do País agressor e dos seus aliados ativos ou passivos, mas também dos populistas que no mundo livre tudo fazem para aglutinar descontentamentos, gerar entropia e denegrir as democracias inclusivas e humanistas.
Tendo em conta a fratura que a guerra está a gerar entre o bloco democrático e o bloco autoritário, ou entre o princípio de que os indivíduos devem ser livres de escolher quem os governa e de determinar as opções das comunidades que integram e não ser arrolados para projetos determinados por cliques de poder absoluto, a pergunta que me fazem a seguir foca-se normalmente na questão sobre qual bloco prevejo que saia mais reforçado do conflito e qual deve ser o posicionamento da União Europeia (UE).
Tenho esperança que o bloco democrático emirja reforçado e não tenho dúvidas que a União Europeia pelos seus valores não deve hesitar, como não hesitou desde o primeiro momento, em juntar-se com determinação ao lado certo da história. Questão diferente e que merece reflexão é o papel que a UE, além da solidariedade absoluta e o fornecimento concreto de meios de defesa, deve desempenhar no bloco que designei por democrático.
A história de paz, liberdade e desenvolvimento da UE é a história de sucesso de uma parceria multilateral. A UE é uma potência multilateral por natureza e deve liderar um movimento concertado para que as portas do multilateralismo não se fechem e permitam, sem perdão ou condescendência para os tiranos ou os ditadores, que os povos possam regressar, se as condições o permitirem, ao designado concerto das Nações.
Não podemos ser ingénuos, mas também não podemos perder de vista a nossa identidade e os nossos valores. Sempre que for preciso construir um muro para travar a opressão e a agressão, teremos que juntar os tijolos certos e construi-lo. Mas logo que o pudermos transformar em ponte não devemos perder a oportunidade, porque foi a fazer pontes em vez de muros que temos assegurado mais de seis décadas de paz e liberdade nos territórios em que temos o privilégio de viver.