União Europeia quer apostar na Península Ibérica para garantir segurança energética

União Europeia quer apostar na Península Ibérica para garantir segurança energética


Este ponto de vista foi assegurado, esta terça-feira, pelo primeiro-ministro, que realçou o reconhecimento pelos líderes da UE do “potencial da Península Ibérica para a segurança energética”, em altura de crise, sobretudo nas interconexões elétricas e de gás entre Portugal e Espanha.


O entendimento entre os Estados-membros da União Europeia (UE) sobre o novo pacote de sanções à Rússia, nomeadamente o embargo ao petróleo russo, levanta o véu para que Portugal, unido a Espanha, possa potencializar a produção de eletricidade e gás para garantir a segurança energética do bloco comunitário.

Os parceiros europeus olham cada vez mais para os frutos que podem recolher da Península Ibérica e assim fragilizar pesadamente o poderio russo. Este ponto de vista foi assegurado, esta terça-feira, pelo primeiro-ministro, António Costa, que realçou o reconhecimento pelos líderes da UE do "potencial da Península Ibérica para a segurança energética", em altura de crise, sobretudo nas interconexões elétricas e de gás entre Portugal e Espanha.

António Costa, no final da cimeira extraordinária de líderes da UE, em Bruxelas, garantiu que “o petróleo russo tem os dias contados na União Europeia".

"A União Europeia chegou hoje ao ponto certo entre os interesses da UE e o efeito das sanções sobre a Rússia é o ponto de equilíbrio adequado. Como é sabido, vários países que dependem do gás da Rússia estão a desenvolver esforços para que se libertassem dessa dependência e, portanto, a UE ficar com a capacidade de aplicar sanções sem o efeito ricochete de produzirem mais efeitos negativos na própria UE do que na própria Rússia", explicou Costa, ao notar que as “sanções certas” têm de ser aplicadas “no momento certo".

"Quanto à energia, tem vindo a ser fortemente impactada [pela guerra], traduzindo-se num brutal aumento de preços em toda a UE e, mais uma vez, se reafirmou a necessidade de acelerar a diversificação das fontes e das rotas de abastecimento à União e a transição para as energias renováveis e, desta vez, há uma referência expressa quanto ao potencial que a Península Ibérica tem, no seu conjunto, para contribuir para a segurança energética europeia", afirmou o chefe de Governo.

Por isso, atualmente a aposta na energia é vital para Portugal, que se vai juntar a Espanha para executar "projetos de interconexão”, tanto de eletricidade, como de gás (natural e, futuramente, hidrogénio).

Estes planos estão previstos no pacote energético RepowerEU, que foi apresentado pela Comissão Europeia em meados de maio.

"Neste momento, o Conselho [Europeu] aprovou os objetivos do programa RepowerEU e aguarda que a Comissão apresente um programa de financiamento mais detalhado para a execução desse programa", pelo que, além das interconexões e "dependendo do volume que estiver reservado a Portugal", poderão vir a ser "acrescentados outros projetos", admitiu ainda Costa.

Após esta cimeira extraordinária europeia, o Conselho Europeu chegou à conclusão de que deve reduzir rapidamente a “dependência dos combustíveis fósseis russos", nomeadamente apostando em "completar e melhorar a interconexão das redes europeias de gás e eletricidade, investindo e completando infraestruturas para projetos existentes e novos, incluindo interconexões de gás natural liquefeito [GNL] e futuras interconexões de eletricidade e de gás pronto a hidrogénio em toda a União Europeia, incluindo os Estados-membros insulares".

Para os líderes da UE, este é o momento para reforçar a "capacidade de produção renovável, incluindo, com base na próxima análise dos reguladores e do atual contexto geopolítico, tirando partido do potencial da Península Ibérica para contribuir para a segurança do aprovisionamento da União Europeia".

De acordo com o documento do REPowerEU, divulgado há duas semanas, os atuais preços elevados da eletricidade na Península Ibérica "sublinham a necessidade" de construir interconexões, integradas num investimento adicional estimado de 29 mil milhões de euros na rede elétrica europeia até 2030.

O sétimo pacote de sanções da UE inclui um embargo gradual da compra de petróleo russo. Segundo o mesmo, a importação daquele combustível fóssil vai reduzir-se em mais de dois terços com efeito imediato, devendo atingir os 90% até final do ano.

Para a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o caminho da UE agora é "conseguir uma cada vez menor dependência da energia russa", através de uma aposta nas energias renováveis, que traz benefícios para o ambiente e também para os “Estados-membros, que ficam menos dependentes da Rússia".

Desta forma, von der Leyen anunciou a criação de um "novo fundo que vai ajudar os estados membros a olharem para esta questão das energias renováveis", de forma a independentizar os países, também, das "energias fósseis".

Através do REPowerEU, o bloco comunitário vai repensar a forma como "é feito o transporte dos combustíveis". A seu ver, a presidente da Comissão Europeia defende que o bloco deve ter "uma rede de transportes mais segura entre os Estados-membros".