Instituto Superior Técnico: 111 anos a servir o país e a universidade

Instituto Superior Técnico: 111 anos a servir o país e a universidade


Nunca, como durante a pandemia, se falou tanto em ciência, investigação, universidade e academia. Efetivamente, no início da pandemia, em março e abril de 2020, foi o esforço conjunto de universidades, centros de investigação, e empresas parceiras que permitiu criar no país a esperança e a convicção de que “ia tudo ficar bem”, como então…


O Técnico é, há 111 anos, aquilo que muitas e muitas gerações desta comunidade tem construído, com esforço, dedicação e, de vez em quando, alguma inspiração: uma escola moderna, aberta, internacional, inclusiva, plural, democrática e multicultural, empenhada em formar talento e criar conhecimento, contribuindo com isso para um mundo mais desenvolvido, mais justo e melhor. 

Foi esse espírito, essa matriz daquilo que é o Técnico, que nos permitiu chegar a este momento de virar a página com a esperança que nunca desapareceu, mas que agora é redobrada, sobretudo se conseguirmos retirar alguns ensinamentos que estes tempos de pandemia nos trouxeram. 

Talvez, de tudo aquilo que aprendemos durante este período, de tudo o que vimos e ouvimos, eu retirasse uma nota apenas, uma reflexão. Nunca, como durante a pandemia, se falou tanto em ciência, investigação, universidade e academia. Efetivamente, no início da pandemia, em março e abril de 2020, foi o esforço conjunto de universidades, centros de investigação, e empresas parceiras que permitiu criar no país a esperança e a convicção de que “ia tudo ficar bem”, como então se dizia entre arco-íris colados nas janelas. Foi desta rede de universidades e centros que saíram as viseiras e máscaras que não havia no país, que saíram os testes PCR que não haviam no país, que saíram as zaragatoas necessárias à testagem, nomeadamente ao extenso programa de testagem em lares, que salvou milhares de vidas. Foi de centros de investigação universitários, ou em resultado do trabalho de milhares de doutorados em todo o mundo, que foi possível, num tempo absolutamente recorde, desenvolver as vacinas que nos permitem aqui estar hoje. 

Durante dois anos nunca a população, os media, a sociedade falou tanto de ciência, de universidade, de necessidade de apoiar, financiar, e até, diria eu, acarinhar quem forma talento, produz conhecimento, e cria esperança quando ela se esvai no meio de uma pandemia. Mas, passada a pandemia, o silêncio regressou. E ao silêncio temo que se possa seguir o esquecimento e é isso que não devemos deixar que aconteça. 

O esquecimento de que a missão da universidade, da academia e dos centros de investigação é determinante para o país, não só por causa de uma pandemia, mas em permanência: para apoiar o desenvolvimento do tecido económico, para permitir atingir as metas PRR, para criar valor acrescentado e emprego qualificado. Para aproveitar o enorme talento jovem que o país tem. Para criar desenvolvimento e esperança no futuro. E não devemos esquecer que, para cumprir a sua missão, a universidade, a academia, a ciência, precisa de apoio, de financiamento adequado, de autonomia e de enquadramento legal apropriado. 

Dessa forma, agora que um novo governo inicia funções justifica-se a pergunta: qual a estratégia política para a universidade portuguesa nas próximas décadas? E para que para ela haja resposta é importante que os media, voltem a estar interessados em trazer às notícias o que de melhor se faz na universidade, na academia, na investigação e desenvolvimento.

Efetivamente sem uma universidade forte, sem um tecido científico e tecnológico aberto e dinâmico, não há forma dos países aproveitarem e potenciarem o talento que tem, não há forma de se desenvolverem, não há forma de responderem aos desafios da sociedades modernas, sem ser num quadro de total dependência de terceiros e de consequente perda de identidade nacional.

E foi por ter tido essa perceção e visão no início do século XX que o ministro do fomento da jovem república então recém-implantada, Brito Camacho – um dos três doutorados que então o país então tinha – escreveu no despacho de criação do Instituto Superior Técnico, publicado em diário da república precisamente há 111 anos, o seguinte texto, e passo a citar: “Desaproveitadas muitas das suas fontes de riqueza e malbaratada a maior parte da riqueza produzida, o país, ainda assim, não é tão falho de recursos que não possa destinar algumas dezenas de contos de reis, à criação do seu ensino Técnico, sendo absolutamente certo que tal despesa é das mais justificadas, por ser das mais reprodutíveis”.

O Técnico continuará a cumprir esta missão com todas as forças e naquilo que for possível!