Nota prévia: na guerra não há vitórias morais. Há derrotas ou vitórias e, quando muito, situações de empate por exaustão. Sobretudo há sempre um enorme sofrimento humano. É por isso ilusória e perigosa a ideia de que a Ucrânia tem condições de vencer a Rússia. Na melhor das hipóteses, pode conseguir-se a paragem das hostilidades no momento em que Moscovo tiver alcançado os seus objetivos mínimos, como conquistar o acesso ao Mar Negro até Odessa e consolidar a presença nas regiões separatistas, que quer anexar. Mesmo assim, Putin deve querer ir mais longe antes de parar e tentar fechar o sul até à Transnístria. Pensar que a Ucrânia voltará a ter o espaço territorial de antes da anexação da Crimeia já era absurdo desde 2014, quanto mais agora. É demagogia estar atualmente a prometer a Zelenski uma adesão à União Europeia quando nem sequer se sabe com que território vai ficar a Ucrânia. A circunstância de Kiev estar do lado da liberdade e da democracia não garante uma vitória a prazo e muito menos imediata. A relativa normalidade reposta nalgumas regiões é positiva, mas pode mudar radicalmente. Basta Moscovo repensar a estratégia. Os russos já ganharam muito terreno, apesar de desaires pontuais, de pesadas baixas e de usarem métodos genocidas. Para quem todos os métodos justificam os fins, as vidas humanas são meros pormenores.
1. Quando se olha para certos aspetos do Orçamento parece que se anda a gozar com os cidadãos e não a cuidar deles. Por exemplo, não estão previstos, este ano, novos aumentos das pensões e salários, apesar da inflação brutal. Já em multas de trânsito a meta é arrecadar mais 47 milhões, uma forma de financiar o nosso gigantesco Estado. Lamentavelmente, o Governo conta, no caso dos aumentos, com o “lambebotismo” e a cumplicidade preguiçosa das televisões. Em vez de assinalarem pesadamente a lacuna deste ano, justificam-na. E até anunciam triunfalmente atualizações e gigantescas correções… para 2023!!!, coisa que nem o oligarca do riso Araújo Pereira notou na SIC, onde mantém Marcelo como alvo para agradar ao seu patrão. “Todo o burro come palha, é preciso é saber dar-lha”, diz a nossa grande sabedoria popular. É mesmo!
2. Enquanto nos servem mediaticamente esta demagogia, as organizações sociais como a Caritas e o Banco Alimentar fazem saber que a situação das famílias é cada vez mais preocupante, atingindo limites impensáveis. Vivemos um tempo de consequências da guerra, da pandemia e das drásticas alterações climáticas. Estamos em plena sexta vaga pandémica e vêm aí grandes concentrações de gente, nas praias, festas populares e muitos casamentos. Sabemos que a economia não pode nem deve parar. É natural que o surto cresça nos próximos dias para depois amainar e subir a partir de outubro. Fica-se com a ideia que não há, em Portugal e mesmo internacionalmente, uma estratégia profilática e científica definida para as diversas situações mais ou menos graves que vamos enfrentar. E sejamos claros! Juntar os efeitos da guerra a um confinamento seria um drama terrível, designadamente para aqueles que já hoje vivem abaixo do limiar da pobreza e que contam fundamentalmente com o apoio dos que ainda vão tendo alguma coisa.
3. Passados anos, há coisas que quase não mudam. Sócrates passou de suspeito a acusado, mas mantém-se a estudar lá fora, sem que saibamos do que vive a criatura que, depois da agnóstica Sorbonne, se virou para uma universidade católica de São Paulo. O ex-governante tem ido ao Brasil tratar de um doutoramento (sempre foi um marrão ao ponto de arranjar maneira de fazer exames ao domingo) e dar uma mãozinha a Lula, um respeitabilíssimo político do país irmão (lá nisso temos uma magnífica família nos PALOP, recheados de gente séria). Depois do estardalhaço da sua prisão mediática, com jornalistas à espera para o humilhar, temos agora a chamada vingança do chinês. Sócrates goza com o pagode e sobra-lhe tempo e dinheiro. Ainda não dá para proclamar que lhe foi atribuída doença Alzheimer, uma vez que precisa da cabeça para estudar. Possivelmente o diagnóstico virá lá mais para a frente…
4. O PSD vai às urnas no sábado para escolher diretamente mais um líder. Os dois candidatos, Moreira da Silva e Luís Montenegro, são figuras de referência, oriundos da primeira geração não fundadora, que cresceram política e civicamente em diversos ciclos do PSD e se afirmaram no chamado passismo, em áreas diferentes de intervenção. Montenegro é apontado como favorito, mas sabe-se como o PPD/PSD é imprevisível. A ausência de debates foi pena, apesar de tudo. Mais provavelmente para os média (apesar de estarem a capitalizar até ao limite a guerra na Ucrânia e a pandemia) e para os militantes menos esclarecidos, mas não para a maioria dos portugueses, comprovadamente saturados do PSD depois de tantas peripécias e casos. Talvez até seja melhor para o partido resolver primeiro a liderança e só depois fazer-se à estrada, que pode ser longa. Fundamental é que, uma vez eleito, o novo líder tenha consciência da tarefa ciclópica que o espera. Vai ter de mudar muita coisa, entre posturas e procedimentos políticos e técnicos, depois de uma gestão caótica de Rui Rio e da sua equipa, sempre embrulhados em conflitos internos, saneamentos, tricas e hostilização dos jornalistas, o que contribuiu para derrotas sucessivas. Ainda agora surgiu, no Nascer do Sol, a notícia surrealista de que há um chefe de gabinete no grupo parlamentar que não foi nomeado em Diário da República: um clandestino, portanto! De bradar aos céus! Quem ganhar a corrida (independentemente do grau de participação dos militantes) terá toda a legitimidade. Não deve, portanto, perder tempo, uma vez que na política os vazios não existem, como se viu pelo crescimento do Chega e dos Liberais. O líder eleito deve logo afirmar-se, ocupando a sede, ajustando a estrutura e escolhendo o naipe de colaboradores mais próximos. É verdade que um mês depois das diretas haverá um congresso para definir estratégias e escolher os restantes órgãos dirigentes. Será um segundo momento fundamental, mas não há que esperar para entrar em ação. A transição efetiva do poder político (que é o que conta) deve ser feita após a proclamação dos resultados, passando a partir daí o presidente eleito a ter uma palavra sobre todos os assuntos do partido e do país, mesmo que ocorram no parlamento, onde Rui Rio já nada acrescenta depois do Orçamento. Manter os protagonistas de uma penosa liderança seria um primeiro erro. O PSD terá, a partir de sábado, muitas etapas eleitorais a vencer, se quiser voltar a ser o eixo de uma alternativa a um PS fortíssimo, na sociedade civil e estatal. Enquanto os socialistas têm normalmente uma estratégia definida e pontos de vista ideológicos claros, o PSD é tradicionalmente uma espécie de rotunda política para onde convergem forças e opiniões vindas de várias conceções, umas mais à direita, outras mais à esquerda, mas sempre reformistas. Foi esse coletivo que mostrou a capacidade, em momentos decisivos, de tomar um rumo mobilizador e reformista, salvando o país. Aconteceu com Sá Carneiro, com Cavaco e – reconheça-se – com Passos. Rio falhou por não ter conseguido aglutinar gente nessa rotunda política. Cheio de certezas absolutas, sonhou com uma avenida de sentido único que os portugueses não quiseram percorrer. É um erro que o próximo líder não pode repetir. O tempo volta a ser de agregar vontades e iniciar um caminho complicado, sabendo embora que a volatilidade é algo intrínseco à política. Veja-se que as recentes declarações de António Costa na Ucrânia, onde se exibiu como um mediador dentro UE, nada mais significam do que manter em aberto a sonhada candidatura a uma das gloriosas cadeiras da política europeia.
Escreve à quarta-feira