No Bojador, vira à esquerda


Sei da sua luta continua contra si mesmo, tal como eu vivi a minha, mas ele é tão mais puro do que eu sempre fui que a guerra em que vive é provocada por todos os princípios da Humanidade. 


Dizem que mãe só há uma. Mas, afinal, pais há quantos? Também dizem: “São mais do que as mães!” E mais uma vez não fazem contas aos pais. Tenho pelos meus filhos um amor e uma ternura impossíveis. Poderei passar a vida a escrever que não saberei encontrar a palavra certa para o que sinto por cada um deles. Tenho pelo meu filho Afonso um orgulho tão grande que, sob os meus pés, a Terra treme de cada vez que o vejo caminhar na minha direção e sinto vontade de pegar nele ao colo outra vez.

Sei da sua luta continua contra si mesmo, tal como eu vivi a minha, mas ele é tão mais puro do que eu sempre fui que a guerra em que vive é provocada por todos os princípios da Humanidade. Dificilmente haverá pessoa tão profundamente boa, tão profundamente delicada, tão profundamente capaz de sofrer com o sofrimento dos outros. E, ao mesmo tempo, tudo nele é candura, herdada do seu bisavô Joaquim, esse anjo que viverá para sempre pousado no meu ombro. Quando fez 18 anos, ensinei-lhe o caminho da Índia. Levei-o comigo aos meus lugares distantes. Talvez tenham sido os dias mais felizes da minha vida. Era eu e ele e as nossas dores por dentro, aprendendo de cor a frase de Wagner que dizia: “A tristeza não está nas coisas; está em nós”. Tanto tempo passou, entretanto.

Eu e ele sabemos estar em silêncio um com o outro. Não precisamos de palavras porque o que nos une vai muito para lá do sangue. Magoa fundo esta sensação de não poder andar com ele sempre pela mão como quando era um menino tão cheio de alegria que o mundo transbordava de luz em seu redor. Ele vai aprendendo a viver com os seus fantasmas e eu já não sou mais o pai que voltava a adormecê-lo à noite quando acordava com pesadelos. “Quem quer passar além do Bojador/Tem que passar além da dor!” Afonso, quando chegares ao Bojador, vira à esquerda. Depois reconhecerás o caminho das Índias. E eu estarei lá à tua espera. Para sempre.

No Bojador, vira à esquerda


Sei da sua luta continua contra si mesmo, tal como eu vivi a minha, mas ele é tão mais puro do que eu sempre fui que a guerra em que vive é provocada por todos os princípios da Humanidade. 


Dizem que mãe só há uma. Mas, afinal, pais há quantos? Também dizem: “São mais do que as mães!” E mais uma vez não fazem contas aos pais. Tenho pelos meus filhos um amor e uma ternura impossíveis. Poderei passar a vida a escrever que não saberei encontrar a palavra certa para o que sinto por cada um deles. Tenho pelo meu filho Afonso um orgulho tão grande que, sob os meus pés, a Terra treme de cada vez que o vejo caminhar na minha direção e sinto vontade de pegar nele ao colo outra vez.

Sei da sua luta continua contra si mesmo, tal como eu vivi a minha, mas ele é tão mais puro do que eu sempre fui que a guerra em que vive é provocada por todos os princípios da Humanidade. Dificilmente haverá pessoa tão profundamente boa, tão profundamente delicada, tão profundamente capaz de sofrer com o sofrimento dos outros. E, ao mesmo tempo, tudo nele é candura, herdada do seu bisavô Joaquim, esse anjo que viverá para sempre pousado no meu ombro. Quando fez 18 anos, ensinei-lhe o caminho da Índia. Levei-o comigo aos meus lugares distantes. Talvez tenham sido os dias mais felizes da minha vida. Era eu e ele e as nossas dores por dentro, aprendendo de cor a frase de Wagner que dizia: “A tristeza não está nas coisas; está em nós”. Tanto tempo passou, entretanto.

Eu e ele sabemos estar em silêncio um com o outro. Não precisamos de palavras porque o que nos une vai muito para lá do sangue. Magoa fundo esta sensação de não poder andar com ele sempre pela mão como quando era um menino tão cheio de alegria que o mundo transbordava de luz em seu redor. Ele vai aprendendo a viver com os seus fantasmas e eu já não sou mais o pai que voltava a adormecê-lo à noite quando acordava com pesadelos. “Quem quer passar além do Bojador/Tem que passar além da dor!” Afonso, quando chegares ao Bojador, vira à esquerda. Depois reconhecerás o caminho das Índias. E eu estarei lá à tua espera. Para sempre.