Covid-19. Novos casos ameaçam festividades

Covid-19. Novos casos ameaçam festividades


Portugal está a viver uma das piores fases da pandemia da covid-19 em termos de novos casos, e os efeitos estão aí: há falta de funcionários das escolas, nos hospitais e nos serviços públicos, e as festas estão em risco.


por Daniela Soares Ferreira e José Miguel Pires

Oaumento de casos de covid-19 em Portugal está a ter um efeito pesado no país, devido ao isolamento de milhares de portugueses e, consequentemente, à falta de funcionários que vários serviços estão já a sentir. Dos hospitais às escolas, passando pelas repartições das Finanças ou da Segurança Social, o país está a sofrer com o aumento de casos, e em especial os serviços públicos, que têm cada vez menos funcionários disponíveis para os cidadãos. Resultado? Nas escolas, os alunos estão a ter frequentemente aulas à distância com professores que, infetados, são obrigados a cumprir um período de isolamento em casa. Na Segurança Social, há atrasos nos processos, graças à falta de funcionários para atendimento ao público. Nos hospitais então, só nesta semana,  o Hospital de São João teve 200 profissionais de saúde em isolamento, e em Lisboa a situação não é melhor: no Santa Maria, sabe o Nascer do SOL, cerca de nove funcionários estão a ficar infetados todos os dias.

Uma realidade preocupante, revela Jorge Roque da Cunha, líder do Sindicato Independente dos Médicos (SIM). Quando questionado sobre os efeitos deste aumento de casos nos hospitais, e na consequente falta de funcionários, Roque Cunha ironizou: «Quem ouve o primeiro-ministro e a ministra da Saúde, pensa que estamos na maior». A preocupação existe, claro, na mente do líder sindical, que alerta para o facto de o SIM ter, já há um mês, alertado «formal e informalmente» as entidades para «alguma displicência em relação à maneira como se lida com a pandemia». «Como nos últimos meses a covid-19 deixou de ser o foco, sem qualquer justificação da Comissão Técnica, que desapareceu em combate, de repente deixaram de ser os testes comparticipados, deixou de haver restrições com as máscaras, o SNS24 passou a mandar pessoas com sintomas para os centros de saúde e para os hospitais», alerta Roque da Cunha.

A realidade é que, na sexta-feira, a diretora-geral da Saúde admitiu que Portugal pode chegar às 60 mil infeções diárias por covid-19 e sugeriu o uso de máscara «em ambientes fechados e aglomerados» – mas o regresso da obrigatoriedade está afastado.

«É preciso não se esquecer de vacinar, voltar a ter os testes nas farmácias», pede o líder do SIM, aludindo a um artigo publicado pelo SIM a 12 de maio, em que acusou o alívio das medidas de ter sido «precoce, ou não tivesse sido baseado na ‘evidência’ político-governativa».

 

Caos no Amadora-Sintra

No Hospital Amadora-Sintra, a situação não está nada fácil e a falta de funcionários está a provocar o caos em alguns serviços, nomeadamente nos que tratam diretamente doentes covid, sabe o Nascer do SOL.

Ao nosso jornal, uma enfermeira explica que «há muitos profissionais de saúde em casa positivos ou até mesmo de assistência à família devido à covid». Situações que fazem com que os «rácios da equipa de enfermagem estejam abaixo dos mínimos». O que leva a que, em muitos turnos da manhã ou da tarde, sejam atribuídos 12 doentes a apenas um enfermeiro. E, segundo a mesma profissional, faz ainda com que não sejam prestados os cuidados de enfermagem corretos e necessários.

Para já, «não foram arranjadas soluções». E a enfermeira diz que «não há profissionais de saúde e a direção do hospital não vai, para já, colocar mais profissionais, muito menos fechar camas, visto que se trata do único serviço covid do hospital». Esta profissional de saúde garante ainda que os profissionais estão «desmotivados» e sem saber o que fazer.

 

Professores e funcionários públicos em falta

A falta de funcionários, no entanto, não é exclusiva dos hospitais. As escolas por todo o país estão também a fazer uma verdadeira ‘ginástica’ para contrariar a falta de professores, infetados. Alguns deles, explicou ao Nascer do SOL Mário Nogueira, líder da Fenprof, têm até recorrido ao ensino à distância para colmatar a impossibilidade de estarem presentes nas salas de aula por força do isolamento. «A covid está aí em força nas escolas. Aliás, este ano nunca deixou de estar. E tem havido muitos professores a ficar em isolamento, e as pessoas, como têm as opções remotas, procuram compensar», explica Mário Nogueira.

E a história repete-se um pouco por toda a função pública. Na Segurança Social e nas repartições das Finanças, sabe o Nascer do SOL, a falta de funcionários  tem causado atraso na resolução dos pedidos dos utentes. Uma realidade corroborada por José Abraão, secretário-geral do Sindicato Dos Trabalhadores Da Administração Publica (SINTAP). «É transversal aos serviços públicos, com este crescimento inusitado de casos, que tem havido dificuldade em dar resposta àquilo que são as necessidades», revela o líder sindical, que disse ter recebido informações de «montes de gente apanhada» pelo novo coronavírus nos mais variados serviços.

 

Restauração. Máscaras ou não?

Para Ana Jacinto, secretária geral da AHRESP, é claro que o isolamento de pessoas infetadas vai afetar o setor mas não existe, para já «dados concretos para podermos transmitir qual é o verdadeiro impacto que isto está a ter». Ao Nascer do SOL, a responsável acrescenta: «O que estamos a acompanhar são os dados gerais das pessoas que estão infetadas, sabemos que está em crescimento e se isso for proporcional também no que diz respeito aos nossos colaboradores é, de facto, mais um problema, porque nós já temos um problema de falta de trabalhadores que não é de agora, já vem de antes da pandemia e agravou-se na pandemia».

Assim, na opinião de Ana Jacinto, qualquer agravamento «pode representar mais um problema para o setor».

Questionada sobre se a AHRESP defende o regresso das máscaras, a responsável é perentória. «Somos coerentes». E explica: «Desde o início da pandemia que temos dito é que não somos especialistas em saúde pública. Matéria de medidas sanitárias compete ao Governo decidir quais são, em que momentos deve aplicar e como deve aplicar».

Por isso, o que a AHRESP alerta e tem vindo a pedir aos clientes e associados é «para a necessidade de terem responsabilidade individual. Se estão num espaço pequeno com muita gente, se calhar é importante terem os cuidados que têm que ter e que cabem a cada um».

De outra opinião é a Associação Nacional de Restaurantes, a Pro.var, que apela ao Governo que se regresse ao uso das máscaras no interior dos estabelecimentos.

A associação liderada por Daniel Serra recorda que os trabalhadores do setor «estão muito expostos a uma grande circulação de pessoas, durante o seu período de trabalho», razão principal pela qual defendem o uso de máscaras nos trabalhadores e clientes.

«A preocupação existe por questões de saúde pública, mas também pela necessidade de assegurar que toda a equipe de trabalho não sofra baixas», numa altura em que «a escassez de trabalhadores nos restaurantes é hoje uma realidade e qualquer elemento que fique em isolamento causa grandes constrangimentos ao normal funcionamento do mesmo», escreve, garantindo que esta situação já está a acontecer e a causar constrangimentos.