Os combatentes ucranianos na fábrica siderúrgica de Azovstal continuam a render-se e a entregar-se às autoridades russas, com o Ministério da Defesa da Rússia a afirmar que, esta quinta-feira, mais 771 soldados baixaram as suas armas, subindo este número para 1730, desde terça-feira.
Entre estes combatentes que se renderam, 80 encontravam-se feridos e, segundo o Ministério da Defesa, “aqueles que precisaram de tratamento hospitalar receberam assistência em instituições médicas” em Novoazovsk e Donetsk, cita o Guardian.
Segundo o Comité Internacional da Cruz Vermelha foram registados nos últimos dois dias centenas de prisioneiros de guerra ucranianos que deixaram a siderúrgica Azovstal em Mariupol.
O processo de registo permite que a Cruz Vermelha acompanhe todos aqueles que foram capturados e os ajude a manter contacto com suas famílias.
“A Cruz Vermelha deve ter acesso imediato a todos os prisioneiros de guerra em todos os lugares onde estão detidos”, afirmou em comunicado. “A Cruz Vermelha deve ter permissão para entrevistar prisioneiros de guerra sem testemunhas, e a duração e a frequência dessas visitas não devem ser indevidamente restringidas”, acrescentou.
Enquanto a cada dia que passa mais soldados são transportados da fábrica siderúrgica para a Ucrânia, ainda não se sabe ao certo a extensão total dos combatentes que se encontram neste local, assim como vários civis que se encontravam escondidos desde que as tropas russas cercaram Mariupol no início de março.
No entanto, o líder separatista pró-Rússia da autoproclamada República de Donetsk, Denis Pushilin, revelou que pelo menos metade dos militares que se encontravam escondidos em Azovstal já abandonou a fábrica siderúrgica, escreve a agência de notícias estatal russa TASS, acrescentando que, até quarta-feira, ainda “nenhum comandante de alto escalão” se tinha rendido.
Apesar de ainda não ser certo o que irá acontecer aos soldados que se renderam, o desejo das autoridades ucranianas é trocar os combatentes de Azovstal por prisioneiros de guerra russos e conseguir o regresso dos combatentes para áreas controladas pela Ucrânia ou a sua evacuação para um país neutro.
No entanto, segundo algumas autoridades russas, existe a hipótese de os combatentes ucranianos continuarem detidos até serem julgados ou, inclusive, executados, numa altura em que legisladores da Rússia estudam a hipótese de propor uma nova lei que pode inviabilizar trocas de prisioneiros e de combatentes por membros capturados de Pelotão Azov, grupo armado ucraniano com tendências neo-nazis e que ajudaram a defender o seu país das invasões russas.
Apesar do porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, já ter garantido que o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, teria dado a sua palavra de que os combatentes que se renderam seriam tratados “de acordo com os padrões internacionais”, já se fizeram ouvir preocupações de que os russos possam “quebrar as convenções de Genebra”.
A rendição dos soldados de Azovstal está a ser apontada como uma das primeiras e mais importantes vitórias de Putin na guerra contra a Ucrânia. Agora, com Mariupol tomada, esta conquista traz novas perspetivas a Moscovo, uma vez que permite criar um corredor terrestre que liga a região de Donbass à Crimeia, oferecendo controle sobre uma grande parte do Leste da Ucrânia.
Mariupol é também o principal porto de Donbass, onde se encontram as autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Luhansk, alinhadas com o Kremlin.