Por Luís M. Correia, Professor do Instituto Superior Técnico
A sociedade contemporânea assiste a um ritmo vertiginoso de mudanças e ao aparecimento de novas tecnologias que potenciam cada vez mais o seu desenvolvimento, nomeadamente na área das Telecomunicações e mais especificamente no 5G. Esta situação força uma ligação crescente entre a produção do saber e a sua aplicação à sociedade, isto é, entre universidades e empresas, sob pena do desenvolvimento a nível nacional ocorrer a ritmo inferior ao dos outros países com quem mantemos relações estreitas, com consequências graves para Portugal.
Nas últimas décadas, a área das telecomunicações foi das que conheceu uma evolução mais rápida e disruptiva. Existe a ideia de que este setor diz respeito apenas a antenas e cabos, para além de alguns computadores. Esta é uma perceção errada que é importante mudar. Atualmente, para além dos temas tradicionais, as Telecomunicações estão intimamente ligadas à informática e à ciência de dados, bem como a aplicações específicas para os mais variados setores económicos; esta lista é facilmente completada com as realidades aumentadas e virtual, jogos interativos, cidades inteligentes, internet das coisas e indústria 4.0, entre muitos outros.
O aparecimento do 5G, e a sua previsível expansão a ritmo acelerado nos próximos anos, vão implicar que as empresas se posicionem para responder a este desafio. Hoje em dia, a existência de redes de computadores é transversal a todas as empresas, exigindo que existam nos seus quadros pessoas qualificadas para gerir e manter estas redes (ou que contratem esses serviços). Não deve ser exagerado pensar que, com a expansão do 5G, uma situação similar venha a acontecer relativamente a este sistema de comunicações, isto é, num futuro próximo, todas as empresas irão necessitar de estender ao 5G as necessidades que já têm com as suas redes de computadores.
Verifica-se assim que são necessários recursos humanos qualificados e de qualidade, com formação a nível de mestrado, com conhecimentos base adequados às exigências de carreiras profissionais na área de telecomunicações. Numa primeira fase, estes recursos humanos tenderão a ser integrados por empresas com atividade nesta área (que continuarão a contribuir, através da sua atividade, para reforçar a competitividade da economia), mas depois serão muito provavelmente absorvidos por todos os outros setores económicos.
Para responder a este desafio, o Técnico em parceria com 10 das maiores empresas com atividade em telecomunicações em Portugal lança a InTele (Uma Iniciativa para as Telecomunicações), cujo objetivo principal é captar estudantes e melhorar as condições do ensino nesta área.
Assim, a ALTICE, CELFINET, CISCO, ERICSSON, HUAWEI, INFINERA, NOKIA, NOS, THALES e VODAFONE, irão patrocinar atividades a vários níveis, desde bolsas de estudo até prémios para os melhores estudantes e Teses de Mestrado conjuntas apoiadas por bolsas, e englobando job shadowing, hackathons e formação em soft-skills, entre outras. Esta iniciativa conta também com o apoio dos três institutos de Investigação & Desenvolvimento & Inovação enquadrados no Técnico que têm atuação na área das Telecomunicações, isto é, INESC-INOV, INESC-ID e IT.
Esperamos assim estar à altura do desafio de formar Recursos Humanos qualificados em Telecomunicações para as necessidades do País nos próximos anos, permitindo que as empresas possam responder igualmente aos desafios que enfrentam no desenvolvimento económico, nomeadamente nas condições atuais, onde a melhoria de processos de fabrico, ganhos de eficiência e o desenvolvimento de novos serviços ganharam uma dimensão ainda mais relevante.
(Este artigo é subscrito por Luis M. Correia (Técnico), João Zúquete da Silva (ALTICE), Nuno Ribeiro (CELFINET), Miguel Almeida (CISCO), Sofia Vaz Pires (ERICSSON), Tony Li (HUAWEI), Gonçalo Crispim (INFINERA), Sérgio Catalão (NOKIA), Miguel Almeida (NOS), João Araújo (THALES) e Paulino Corrêa (VODAFONE)).