China. Fim da política de “zero casos” pode provocar 1,55 milhões de mortes

China. Fim da política de “zero casos” pode provocar 1,55 milhões de mortes


Estudo publicado na Nature indica que abandono da política de zero casos pode traduzir-se em 5 milhões de hospitalizações na China.


Um estudo recente revela que se a China abandonar a política de zero-casos de covid-19 iria provocar um “tsunami” de infeções com resultados catastróficos: cerca de 1,6 milhões de mortes.

Publicado pela revista académica britânica, Nature, e revisto por pares da Universidade Fudan, em Xangai, este trabalho, citado pelo Guardian, afirma que devido à baixa taxa de vacinação entre a população mais idosa, a decisão de suspender estas medidas pode conduzir a mais de 112 milhões de casos sintomáticos de covid-19, cinco milhões de hospitalizações e 1,55 milhões de mortes.

“Descobrimos que o nível de imunidade induzido pela campanha de vacinação de março de 2022 é insuficiente para evitar uma onda da variante Omicron e que provocaria uma sobrelotação da capacidade dos cuidados intensivos com uma demanda máxima projetada de 15,6 vezes superior à capacidade existente”, avisam os autores do estudo.

Contudo, a investigação defende que através do acesso a vacinas e antivirais, e “mantendo a implementação de intervenções não farmacêuticas”, as autoridades podem evitar que o sistema de saúde fique sobrecarregado, sugerindo que esses fatores poderiam ser um foco maior de políticas futuras.

Para já, o governo chinês não parece estar inclinado a alterar a sua política, tendo as autoridades de Xangai inclusive voltado a reforçar as restrições para combate à pandemia de covid-19, numa altura em que a cidade estava gradualmente a levantar algumas das medidas mais rigorosas, que se prolongam há mais de um mês.

As autoridades argumentam que as políticas de zero covid ajudarão a controlar a nova variante altamente transmissível uma vez que a cobertura vacinal do país é insuficiente e os recursos de saúde são muito desiguais em todo o país.

 

Tolerância zero “não é sustentável”

O chefe da OMS, alertou as autoridades chinesas que a estratégia de tolerância zero à covid-19 da China “não é sustentável”.

“Não achamos que a estratégia de ‘zero covid’ seja sustentável, considerando o comportamento atual do vírus e o que prevemos no futuro”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, em conferência de imprensa.

“Discutimos esta questão com especialistas chineses e indicámos que a abordagem não é sustentável (…) acho que uma mudança seria muito importante”, acrescentou.

Perante as críticas, a China acusou acusou as declarações de Tedros Adhanom Gebreyesus de serem “irresponsáveis”. “Esta estratégia garantiu a saúde de 1,4 mil milhões de pessoas e protegeu grupos vulneráveis. Tornou a China num dos países que melhor conseguiram conter a covid-19”, explicou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Zhao Lijian.

“Esperamos que as pessoas envolvidas possam ver as políticas antiepidémicas da China de forma objetiva e racional. Eles precisam de conhecer melhor os factos e parar de fazer comentários irresponsáveis”, acrescentou.

Especialistas em saúde concordam com a política de zero casos, mas analistas da China também estão preocupados com o fato de as autoridades terem se encurralado num beco sem saída com esta política.

Os números de casos estão a diminuir na China, mas continuam espalhados por várias províncias, relata o Guardian. Na quarta-feira, as autoridades reportaram 1.905 novos casos de infeção. A maior parte dos casos continuam a ser detetados em Xangai, que está em isolamento há mais de dois meses.