Quando se pesquisa por insetos nos sites dos hipermercados, o primeiro resultado ainda continua a ser para inseticidas e repelentes, mas com critérios um pouco mais afinados e algum apetite por novidades não é difícil dar com snacks à base de insetos à venda em Portugal e com as empresas portuguesas que estão a dar passos nesta área como a Portugal Bugs, que esta semana revelou ter vendido 130 mil barritas de insetos e mais de 4 mil snacks de inseto em meio ano, incluindo de grilo. À SIC, a empresa fez também um anúncio: vão agora lançar o primeiro hambúrguer de insetos.
Se está perdido, recuemos a 2021: vai fazer um ano em junho que a União Europeia deixou de ser “esquisita” e autorizou, como novo alimento, larvas do escaravelho Tenebrio molitor desidratadas, dando luz verde para que sejam incluídas em produtos proteicos, bolachas e biscoitos, pratos à base de leguminosas e produtos à base de massas alimentícias. Desde então, autorizou também a comercialização para consumo humano de gafanhotos migratórios (Locusta migratória) e grilos domésticos (Acheta domesticus).
Por cá, a Direção Geral de Alimentação e Veterinária, que em junho do ano passado adiantou que podiam ser vendidas sete espécies de insetos, por vigorarem medidas transitórias para insetos que tinham sido anteriormente autorizados legalmente num país da UE, emitiu já este ano uma nova atualização indicando que são agora seis ao todo os insetos que podem ser exibidos nas prateleiras portuguesas, já que a lista será gradualmente reduzida até vigorar apenas a lista comum europeia. São agora permitidos produtos com Acheta domesticus, Alphitobius diaperinus, Apis melífera, Gryllodes sigillatus, Locusta migratória e Tenebrio mollitor.
Esta não foi a única novidade nos últimos meses e é caso para dizer que os insetos estão a ganhar asas, embora a maioria deles não chegue a voar. No final de 2021 foi apresentado um consórcio que pretende colocar Portugal no mapa desta nova aposta da indústria alimentar, incluindo no fabrico, trazendo nos próximos anos pelo menos 40 novos produtos para o mercado português.
A Agenda InsectERA envolve três produtores de insetos em Portugal (Ingredient Odissey, Thunderfoods e The Cricket Farm Co.), a consultora de inovação tecnológica INOVA+, os laboratórios colaborativos B2E CoLab, Colab4Food, FeedInov CoLab e IPlantProject CoLab, empresas como a Auchan, Mendes Gonçalves, Agromais, Silvex, Mesosystems, Sorga, Savinor, Nutrifarms, PetMaxi, Sensetest ou Solfarco, assim como as universidades do Porto, Lisboa e Aveiro, a Nova de Lisboa e a Católica, o INEGI e o INESC TEC, entre outras entidades, num total de 38 parceiros, prevendo um investimento superior a 50 milhões de euros nos próximos quatro anos. Está prevista a construção de três fábricas alimentícias à base de insectos em Portugal e a orientação da DGAV visou esclarecer o enquadramento e passos necessários. O i tentou obter um balanço sobre a atividade deste setor junto da direção-geral, mas não teve resposta. Também à SIC, a Tecmafoods, empresa sediada em Leça do Balio que também tem dado cartas nesta área, adiantou no entanto que está prestes a concluir o processo de lincenciamento para iniciar o fabrico em Portugal de farinha à base de larvas de tenébrio, sendo que atualmente já faz produção e transformação deste inseto que é vendido vivo para zoos, centros de recuperação de animais e clientes privados.
A caminho dos 10 mil milhões de dólares
A expansão à vista em Portugal está longe de ser um exclusivo nacional e deixa para trás o tempo em que os insetos eram apenas consumidos em países da Ásia, América do Sul e África, por necessidade, tradição, superstição ou um pouco de tudo isto. Estima-se que entre as 800 mil espécies conhecidas de insetos, 2 mil sejam consumidas em mais de uma centena de países. Em 2013, a ONU declarou-os uma fonte de proteína incontornável para aumentar a segurança alimentar nos países mais pobres, mas não são apenas as preocupações sociais e alimentares que movem este mercado.
Segundo uma projeção da consultora de mercado Meticulous Research, publicada este mês, a indústria dos insectos comestíveis poderá alcançar os 9,6 mil milhões de dólares em 2030, com um crescimento de 28,3% ao ano. O crescimento é alimentado pela tentativa de travar emissões de gases com efeito de estufa provenientes da pecuária, pelo elevado valor nutricional dos insectos e por uma maior procura da proteína de insectos não só para consumo humano para rações. Para balancear as expectativas dos investidores, aponta a mesma análise, há no entanto fatores a considerar, como barreiras psicológicas e éticas e o risco de alergias. Preveem que os EUA vejam o maior crescimento de consumo, à medida que aumenta a familiaridade com os insetos e diminui a “neofobia alimentar”, o comportamento habitualmente mais comum nas crianças de recusar experimentar novos alimentos, o que é também tem sido a expectativa partilhada pelas empresas nacionais, que veem nesta aproximação ao palato dos portugueses um pouco o caminho feito pelo sushi no passado.
Se os tenébrios fazem parte da sua alimentação ou pretende incluí-los na mesma, conheça os passos necessários para criar e transformar estas larvas.
Como criar tenébrios e transformá-los em farinha
vai necessitar de
Aveia seca;
Uma fonte orgânica de humidade que não seja suscetível a ganhar mofo rapidamente como as cenouras;
Três recipientes de plástico com buraquinhos no topo para a entrada de oxigénio;
Vários pedaços de cartão na forma de caixas de ovos ou de rolo de papel higiénico usado;
Mil tenébrios, também conhecidos como larvas da farinha.
Despeje uma camada de 2,5 cm de aveia no fundo de cada recipiente de plástico. Esta servirá de habitat e comida para as larvas.
Coloque pedaços de legumes partidos dentro de cada recipiente. As cenouras são aquelas que levam mais tempo a criar mofo sendo, portanto, ideais.
Despeje as suas larvasda farinha vivas num dos recipientes.
Há quem adicione algumas fatias de pão, cereais moídos ou ração para cães seca à mistura.
Coloque algumas sobras de cartão em cima da aveia.
As larvas gostam de escuridão.
Ponha rótulos nos recipientes adequadamente.
Um será para as larvas, outro para as pupas ou crisálidas – estágio intermediário entre a larva e o adulto – e o último para os besouros adultos.
Tape os recipientes e guarde-os num local quente e escuro. As temperaturas elevadas aceleram o ciclo de vida das larvas.
Manutenção diária ou semanal: abasteça as fontes de alimento e de humidade, mantenha os insetos separados de acordo com a fase do ciclo de vida em que se encontram, remova insetos mortos e movimente o substrato de aveia regularmente.
a receita:
• _comece por aquecer o forno a cerca de 100 graus Celsius e espalhe as larvas uniformemente, em cima de papel vegetal, num tabuleiro;
• _cozinhe-as durante aproximadamente 1 hora e 45 minutos, virando-as a cada meia hora para que fiquem mais escuras e crocantes;
• _quando as esmagar e ficarem em farinha de imediato, saberá que estarão no ponto pretendido;
• _quando tiverem arrefecido, triture-as e não estranhe se ganharem uma textura algo oleosa ao longo do processo;
• _basta continuar a triturar as larvas até obter a consistência que deseja;
• _os produtores e consumidores habituais aconselham que a farinha seja selada a vácuo e guardada no congelador até à utilização.