O tempo não se perde


O tempo é que manda, não eu. Se se perde é pela sua vontade indomável de ir passando, de ir passando sempre, de ser algo de indefinível e que nos deixa amarrados às mágoas e às ternuras descabidas por serem apenas feitas de ar como aquele que respiramos.


Perder tempo é uma expressão que me aflige. Não consigo encaixá-la na verdade do Sol. Talvez perca tempo olhando o rio lodoso e os pássaros que nele mergulham. Ou talvez perca tempo à espera das tonalidades laranjas e vermelhas do poente que cada vez mais vou sentindo serem as do meu próprio poente. Não sei se os minutos e as horas me escorrem por entre os dedos como a areia fina da praia da Comporta de onde voltei há pouco numa ansiedade de ver o mar. O tempo é que manda, não eu. Se se perde é pela sua vontade indomável de ir passando, de ir passando sempre, de ser algo de indefinível e que nos deixa amarrados às mágoas e às ternuras descabidas por serem apenas feitas de ar como aquele que respiramos. Ou como as palavras, que acabadas de dizer desaparecem. T.S. Eliot escreveu, num poema: “Porque sei que tempo é sempre tempo/E lugar sempre e apenas lugar/E que o actual é actual apenas por um tempo/E apenas para um lugar”. O lugar é este, o tempo também. Só eu me vou esvaziando aos poucos das emoções que fui vivendo e se não repetem, estiolam e morrem à maneira das papoilas na berma da estrada na curva do Montalvo. O vento nas pétalas faz que me acenem no caminho, como aquele homem bondoso e bem vestido, que acenava aos carros no_Saldanha e já morreu. Perdia tempo acenando aos carros? Perdíamos tempo a responder aos seus acenos? A cidade passava apressada nos afazeres quotidianos de cada um e ele, sozinho, no seu gesto carinhoso, polido. Foi, de certa forma, um longo adeus. Disse-nos sempre adeus até ao dia em que deixou de o fazer e, de repente, sentimos a falta que ele nos dissesse adeus. Vou sentir falta do rio e dos pássaros._Vou sentir falta da areia e do mar e do céu que vai ficando cor-de-laranja-magoado à medida que a tarde passa. Vou sempre sentir falta do Sol. Sabendo que este lugar é apenas um lugar num tempo apenas tempo. Com um FIM no fim, como nos livros.

O tempo não se perde


O tempo é que manda, não eu. Se se perde é pela sua vontade indomável de ir passando, de ir passando sempre, de ser algo de indefinível e que nos deixa amarrados às mágoas e às ternuras descabidas por serem apenas feitas de ar como aquele que respiramos.


Perder tempo é uma expressão que me aflige. Não consigo encaixá-la na verdade do Sol. Talvez perca tempo olhando o rio lodoso e os pássaros que nele mergulham. Ou talvez perca tempo à espera das tonalidades laranjas e vermelhas do poente que cada vez mais vou sentindo serem as do meu próprio poente. Não sei se os minutos e as horas me escorrem por entre os dedos como a areia fina da praia da Comporta de onde voltei há pouco numa ansiedade de ver o mar. O tempo é que manda, não eu. Se se perde é pela sua vontade indomável de ir passando, de ir passando sempre, de ser algo de indefinível e que nos deixa amarrados às mágoas e às ternuras descabidas por serem apenas feitas de ar como aquele que respiramos. Ou como as palavras, que acabadas de dizer desaparecem. T.S. Eliot escreveu, num poema: “Porque sei que tempo é sempre tempo/E lugar sempre e apenas lugar/E que o actual é actual apenas por um tempo/E apenas para um lugar”. O lugar é este, o tempo também. Só eu me vou esvaziando aos poucos das emoções que fui vivendo e se não repetem, estiolam e morrem à maneira das papoilas na berma da estrada na curva do Montalvo. O vento nas pétalas faz que me acenem no caminho, como aquele homem bondoso e bem vestido, que acenava aos carros no_Saldanha e já morreu. Perdia tempo acenando aos carros? Perdíamos tempo a responder aos seus acenos? A cidade passava apressada nos afazeres quotidianos de cada um e ele, sozinho, no seu gesto carinhoso, polido. Foi, de certa forma, um longo adeus. Disse-nos sempre adeus até ao dia em que deixou de o fazer e, de repente, sentimos a falta que ele nos dissesse adeus. Vou sentir falta do rio e dos pássaros._Vou sentir falta da areia e do mar e do céu que vai ficando cor-de-laranja-magoado à medida que a tarde passa. Vou sempre sentir falta do Sol. Sabendo que este lugar é apenas um lugar num tempo apenas tempo. Com um FIM no fim, como nos livros.