Até 24 de fevereiro uma boa parte da elite da esquerda caviar bem pensante deste país dizia com todas as letras que Putin jamais mandaria as suas tropas invadir a Ucrânia. Alegavam que a NATO e os serviços secretos americanos queriam protagonismo e que desejavam que tal cenário se tornasse realidade. Nunca percebi muito bem a razão da NATO e dos EUA estarem interessados em tal invasão, mas essas cabeças iluminadas acreditavam que sim.
Depois de consumada a invasão bárbara, muita dessa rapaziada calou-se por uns tempos, mas não demorou muito a colar-se à narrativa do PCP, dizendo, de novo, que a NATO, os EUA e a agora também a UE é que são responsáveis por não haver paz. Felizmente vivemos num país democrático e essas avantesmas podem dizer o que muito bem entendem, e bem.
Mas se fossem eles que decidissem o que se podia dizer ou não, a história seria bem diferente. Muitos desses arautos da paz sempre defenderam que Fidel Castro nunca mandou fuzilar opositores políticos, que Hugo Chávez prendia e mandava torturar quem não lhe prestava vassalagem ou que Putin, lá está, sempre sonhou com a reconstrução de parte do império soviético.
Como disse, ainda bem que podem dizer o que pensam, mesmo que sejam cegos perante a barbárie russa, que mata civis, viola crianças ou se diverte a torturar quem encontra nas ruas. As imagens que nos chegam de Bucha e de outras localidades não são suficientes para esses artistas condenarem o ataque russo. Dizem-se amantes da paz sem sequer conseguirem condenar o ataque russo. É mais forte do que eles e, tal como antes de 24 de fevereiro, acredito que jamais irão reconhecer os crimes hediondos das tropas russas.
Nalguns casos comportam-se como umas dondocas sociólogas que passam à porta de um bairro de lata e fazem um tratado sobre pobreza enquanto bebem um gambrinus e comem um prego. “Esses americanos são uns pulhas e só querem guerras para faturar”, costumam terminar antes de beberem o café… O Putin, esse, está a ser empurrado para uma guerra que não queria.