A noite de consagração de Olivia Rodrigo

A noite de consagração de Olivia Rodrigo


Aos 19 anos, Olivia Rodrigo afirma-se como um pilar no futuro e presente da indústria musical após levar três Grammys para casa.


Em abril do ano passado, Olivia Rodrigo, com apenas 18 anos, ainda antes de lançar o seu disco de estreia, Sour, era já considerada uma das maiores promessas da música pop depois do seu primeiro single, drivers license, esmagar recorde atrás de recorde, tornando-se, por duas vezes, a música mais ouvida durante 24 horas no Spotify, com, respetivamente, 15 seguido de 17 milhões de streams, e, no espaço de uma semana, a música atingiu a histórica marca de 80 milhões de audições.

Um ano depois, Olivia confirmou o seu estatuto na música popular ao vencer três Grammys, em sete nomeações, nomeadamente, o de Artista Revelação, de Melhor Álbum de Pop Vocal, e Melhor Performance Solo Pop, pela sua música de estreia.

Apesar das opiniões se dividirem em “grande vitória”, tal como elogia o Guardian, ou a desilusão expressada pelo Ringer, que apontava a artista como uma das favoritas a ganhar os principais prémios da cerimónia, acusando os Grammys de preferir a “familiaridade”, é inegável afirmar que, a par de talentos como Billie Eilish, Olivia Rodrigo é um nome que veio para ficar no mundo da música.

Da Disney para o sucesso indie pop Olivia Isabel Rodrigo nasceu em fevereiro de 2003, na Califórnia, e possui ascendência das filipinas, graças ao seu pai, mas também europeia, uma vez que a sua mãe tem origens alemãs e irlandesas. 

A identidade musical de Olivia começou a ser formada através das influências dos seus pais. Uma das atividades favoritas da cantautora e da sua mãe, cita a Pitchfork, era visitar lojas de velharias e comprar discos indiscriminadamente, o que acabou por a introduzir numa grande miscelânea de artistas, nomeadamente a icónica Carole King, o que, aliado à coleção de discos de rock alternativo dos seus pais, onde figuravam bandas como No Doubt, Pearl Jam, the White Stripes, ou Green Day, acabaram por expandir o vocabulário musical da artista, cujo primeiro concerto foi Weever.

Toda esta exposição, típica de quem tinha um mp3 no bolso, com os mais variados temas e estilos musicais, ajudam a formar um dos pontos mais interessantes de Sour, com uma grande variedade de estilos, desde o pop rock de grupos e artistas do início do século, como Paramore ou Avril Lavigne, ou uma certa sensibilidade grunge, com uma dinâmica assente no contraste entre as partes mais barulhentas e repletas de distorção da música com algumas mais calmas, típico de bandas como os Nirvana ou até como os Pixies, até à sensibilidade de cantautoras contemporâneas, como Taylor Swift, uma das suas “heroínas” e influência, confessou à Variety.

Contudo, os primeiros trabalhos mediáticos da artista não se fizeram através da música, mas sim através da representação. Depois de aparecer em anúncios de televisão e alguns filmes mais discretos, a grande oportunidade de Olivia surgiu através da Disney, na série Bizaardvark (2016-19), sobre duas amigas que fazem vídeos musicais de teor cómico para a internet.

Depois desta oportunidade, em que Olivia também pôde mostrar os seus talentos enquanto guitarrista e cantora, esta acabou por ser convidada para ser a estrela da série High School Musical: The Musical: The Series (2019-…), um mockumentary inspirado no franchise de filmes com o mesmo nome protagonizado por Zac Efron e Vanessa Hudgens.
Apesar de ter tudo alinhavado para se tornar na próxima grande estrela da Disney, a artista decidiu quebrar a tradição seguida pelas suas antecessoras, como Miley Cyrus, Selena Gomez, Demi Lovato ou Zendaya, que optaram por assinar um acordo com a editora Hollywood Records, que pertence ao Disney Music Group e que ajudou a lançar inúmeros artistas ligados a este canal de televisão, juntando-se, em 2020, à Geffen Records, editora que lançou discos de artistas como Nirvana, Elton John, John Lennon, Joni Mitchell, ou Neil Young.

“No dia antes do confinamento por causa da covid-19 conheci a equipa Interscope/Geffen e o produtor Dan Nigro pela primeira vez”, escreveu a cantora na sua biografia do Spotify. “No final, esse acabou por ser um dia muito importante para mim”.

Poucos meses depois, inspirada por um episódio em que passou a conduzir pela casa do seu ex-namorado, a cantora escreveu a música drivers license, uma balada a piano sobre um desgosto amoroso repleta de angústia adolescente que catapultou Olivia para o estrelato, apoiada pela partilha incessante das suas músicas contagiantes em redes sociais como o TikTok por adolescentes que se reviam nas letras da cantora. 

“Não queria que o disco fosse apenas músicas tristes de piano”, disse Olivia à Variety. “No entanto, não queria escrever apenas músicas pop, felizes sobre estar apaixonado, porque isso estava muito longe de como me estava realmente a sentir nessa altura. Por isso, escrever uma música como Good 4 U foi uma experiência realmente satisfatória porque é uma música otimista e com uma energia contagiante que pode levar as pessoas a dançar, mas não foi preciso sacrificar a minha honestidade e autenticidade para a escrever”, confessou a artista, acrescentando que o orelhudo refrão, “Good for you / You look happy and healthy / Not me / If you ever cared to ask”, foi criado no chuveiro.
Os talentos e elogios a Olivia Rodrigo, assim como a sua juventude, levantaram comparações com Billie Eilish, com 20 anos, até com o blog norte-americano Ringer a mostrar-se surpreendido por a autora de Sour não se ter tornado na terceira artista a conseguir ganhar os quatro grandes prémios dos Grammys, nomeadamente, Melhor Novo Artista, álbum, música e gravação, um feito apenas conseguido por Eilish, em 2020, e o músico caído em esquecimento Christopher Cross, em 1981 (ano em que o seu disco homónimo superou o The Wall dos Pink Floyd).

Mas, apesar das comparações, as duas artistas não podiam estar em dois espetros mais diferentes musicalmente, com Eilish e o seu irmão, o produtor Finneas, mais interessados em explorar uma eletrónica mais experimental nos seus instrumentais, enquanto Olivia, no seu primeiro e único disco – Eilish já vai no segundo – firmou o seu nome como uma cantautora que pode reinterpretar o legado de artistas de rock alternativo que vieram antes dela.

Na presente edição dos Grammys, nem Sour, nem Happier Than Ever de Eilish, venceram o prémio de melhor álbum do ano, essa distinção foi para o We Are de Jon Batiste, mas pode ser que numa próxima distinção o resultado seja diferente.

Nesta “rivalidade”, imaginária, Olivia confessou ser uma grande fã do trabalho de Eilish e afirmou ter estado no seu primeiro concerto, enquanto Eilish, mais experiente, revelou numa entrevista à Vogue que quer proteger Olivia do “lado mau” da fama, prometendo ser uma constante nos próximos anos, com estas duas artistas a “competir” com discos e músicas que serão ouvidas por milhões de pessoas enquanto tentam dominar o mundo da música popular.