A Hero. O filme que disputava os Óscares  agora defende-se em tribunal

A Hero. O filme que disputava os Óscares agora defende-se em tribunal


Filme que estava nomeado a Melhor Filme Internacional nos Óscares é agora acusado em tribunal de ser um plágio de uma ex-estudante do realizador Asghar Farhadi.


Era um dos filmes favoritos à luta pela conquista do Melhor Filme Internacional, agora, A Hero, longa-metragem de 2021 de Asghar Farhadi, está em tribunal para disputar as acusações de plágio de uma antiga estudante do aclamado realizador iraniano.

Azadeh Masihzadeh relatou que, em 2014, apresentou um documentário com o título All Winners, All Losers, num workshop de Farhadi, cujos filmes A Separation (2011) e The Salesman (2016) foram galardoados com o Óscar de Melhores Filmes Internacionais, onde contava a história real de Mohammad Reza Shokri, um preso que encontrava uma mala com ouro durante uma licença da sua sentença, mas que acabou por devolver a fortuna às autoridades, uma sinopse que vai ao encontro dos acontecimentos relatados no filme A Hero, protagonizado por Amir Jadidi, no papel do preso que devolve o ouro e que conquistou o segundo lugar na competição oficial de Cannes, onde o realizador assumiu para si os créditos do argumento.

Depois da estudante ter acusado o realizador deste ter “roubado” a sua ideia, este acusou-a de difamação, no entanto, esta segunda-feira, Masihzadeh foi ilibada de todas as acusações. Segundo o Hollywood Reporter, o tribunal iraniano considerou que existiam “provas insuficientes” para apoiarem as acusações de Farhadi, afirmando que a sua ex-estudante procurava ferir a sua reputação.

O caso agora vai passar para um segundo juiz que irá decidir se o realizador iraniano será ou não processado. Caso o tribunal considere Farhadi culpado de plágio, este poderá ter de renunciar todos os lucros obtidos pelo filme através do cinema ou de streaming, uma vez que, o filme foi lançado em diversos países, como nos Estados Unidos, na plataforma Amazon Prime, a Masihzadeh.

Se as acusações da ex-estudante não forem confirmadas pelo tribunal e se perder o caso, Masihzadeh poderá ser condenada a dois anos de prisão, de acordo com alguns especialistas, podendo também ser sujeita a um castigo de violência física, como receber 74 chicotadas.

Quebrar o silêncio A história de Mohammad Reza Shokri foi descoberta por Masihzadeh depois de Farhadi ter desafiado os estudantes do seu workshop a encontrarem uma história interessante nos meios de comunicação do Irão, inclusive sugerindo alguns artigos dos principais meios de comunicação deste país. Uma vez que a maior parte dos temas já tinham sido selecionados por outros alunos, Masihzadeh decidiu recorrer a uma história publicada por um jornal local onde a estudante morava.

O documentário de Masihzadeh, All Winners, All Losers, acabou por ser exibido, em 2018, no Shiraz Arts Festival, onde chamou a atenção de Farhadi. No ano seguinte, o realizador decidiu que iria gravar um filme baseado nesta história e “pressionou” a sua ex-estudante, tal como esta descreveu ao Hollywood Reporter, a assinar um documento onde esta diria que a ideia para realizar All Winners, All Losers tinha partido de Farhadi. 

“Farhadi é um grande mestre do cinema iraniano. Usou o seu poder para me obrigar a assinar este documentário”, disse na mesma publicação.

Contudo, segundo a advogada que representou Farhardi, Sophie Borowsky, revelou que este documento, apresentado como prova no processo judicial, não tem validade legal – “ideias e conceitos não são protegidos por direitos autorais”, aponta. 

Apesar do alegado silêncio da estudante, depois desta ter visto A Hero, em outubro de 2021, e de ter notado as semelhanças entre o seu documentário e este filme, esta fez uma queixa à House of Cinema, uma aliança de cineastas do Irão, que, numa primeira instância, decidiram a favor de Farhadi. 

Foi depois desta acusação que o realizador acusou a estudante de difamação, afirmando inclusivamente que a história de Shokri já tinha sido divulgada nos jornais há mais tempo, levando Masihzadeh a ser obrigada a responder a um processo de violação dos seus direitos de autor.

O realizador defendeu que descobriu esta história depois de uma investigação independente e que já tinha lido “por diversas vezes” histórias em que reclusos fazem atos altruístas. 

“Há algum tempo que leio histórias semelhante na imprensa… de indivíduos comuns, que, durante algum tempo, ganharam atenção nas manchetes de jornais por causa de um ato altruísta”, disse em entrevista à Deadline, Harhadi. “Essas histórias muitas vezes tinham peculiaridades comuns. A Hero não foi inspirado por uma notícia específica, mas, enquanto escrevia, tinha essas diversas histórias em mente”.

Em tribunal, graças aos depoimentos do gestor do workshop e de um colega estudante (enquanto inúmeros outros alunos do workshop apoiaram a versão de Harhadi) a favor de Masihzadeh, os júris acabaram por decidir a favor da estudante. 

Contudo, a equipa de Harhadi continua a apoiar o realizador e a defender a sua versão dos acontecimentos. “Acreditamos firmemente que o tribunal irá rejeitar as acusações de Masihzadeh, que não conseguirá reivindicar a propriedade de assuntos de domínio público, uma vez que, a história do prisioneiro foi divulgada em artigos de imprensa e reportagens de TV anos antes do documentário de Masihzadeh ter sido publicado”, pode ler-se num comunicado do produtor francês de Farhadi, Alexandre Mallet-Guy, publicado após o veredicto do tribunal, que menciona que “diversos peritos iranianos publicaram artigos sobre este caso e concluíram a favor de Asghar”. 
“É importante ressalvar que em A Hero, assim como nos outros filmes de Asghar Farhadi, existem determinadas situações complexas onde as vidas dos personagens são construídas umas sobre as outras ações pelas quais vão vivendo”, explica o produtor. “A história deste ex-prisioneiro que encontrou ouro na rua e devolveu ao seu dono é apenas o ponto de partida da trama de A Hero. O restante é criação pura de Asghar”, conclui o comunicado.

Além destas acusações também Shokri tentou processar Farhadi por difamação, no entanto, esta acusação acabou por ser abandonada pelo tribunal.