Macedónia do Norte. República da Macedónia do Norte. Não há Macedónia do Sul, apenas Macedónia, província grega, porque o Acordo de Prespes, de 2018, assinado pelos ministros dos Negócios Estrangeiros de ambos os países, Nikola Dimitrov e Nikos Kotzias,
lá acabou com a confusão de haver duas Macedónias, que foram só uma no tempo em que Alexandre-o-Grande mandava no mundo e marchou na frente dos seus exércitos até estes se esgotarem de vez na Índia. Aléxandros ho Mégas, chamavam os gregos ao filho de Filipe II. Aluno de Aristóteles, reinventor do helenismo, morto na Babilónia, que escolhera para ser a capital do seu império.
Macedónia do Norte, agora outra vez com sonhos de grandeza, depois de ter sofrido ao longo dos séculos com as invasões bizantinas, búlgaras e sérvias, província da Jugoslávia, sonho de Tito, reconhecida pelas instâncias políticas internacionais desde o dia 8 de Abril de 1993. Macedónia doNorte, nobre vencedora da Itália, na última quinta-feira, em Palermo, na Sicília, com um golo de Aleksandar (também ele O Grande) Trajovski, dois minutos para lá dos 90, no decurso dos descontos. A história mudou, de repente.
Lamentavam-se os portugueses, geralmente lamechas, da injustiça de um sorteio que, depois da Turquia, iria colocar a Squadra Azzurra entre nós e o sonho do Qatar, quase desfeito depois daquela horrenda derrota na Luz, frente à Sérvia. A Itália mandou dizer que não vem ao Porto, amanhã. Ficou mais uma vez pelo caminho de um Mundial, ela que não estivera presente na Rússia, em 2018, mas que fora campeã no Europeu de 2020 transferido para 2021. Mas têm todos o que festejaram a derrota dos italianos razões para se sentirem aliviados? Todos os que não são macedónios do norte, claro está! Passou o cabo dos trabalhos a ser assim tão simples de dobrar desde que as camisolas azuis da equipa de Mancini se entregaram a uma maldição inesperada?
Aviso Desde já, a nota fundamental: ninguém nos diga que não fomos avisados. A Itália não vem, mas vem, por ela, uma equipa que se qualificou para estes play-offs depois de ter sido a segunda classificada do Grupo J, com apenas duas derrotas (uma em Bucareste, com a Roménia, por 2-3, e outra em casa, na Toše Proeski Arena de Skopje, frente à Alemanha, por 0-4), deixando pelo caminho a Roménia e a Islândia, por exemplo.
Vendo bem, não é apenas Portugal que está avisado das surpresas que a equipa guiada por Blagoja Milevski, que todos tratam carinhosamente por Bobi. A Itália devia ter ouvido o repicar dos sinos de alerta dados por aquela tão surpreendente como fantástica vitória dos macedónios em Duisburgo, na primeira jornada da fase de grupos, batendo a Alemanha por 2-1 (golos de Pandev e de Elmas, este a quebrar o empate, a cinco minutos do fim), em vez de se terem dado ao luxo de pensarem que a sua força seria capaz de desmanchar a muralha defensiva de um adversário que acredita e acredita e acredita, mesmo depois de já ter passado o tempo de acreditar.
Bobi pode ter sido um defesa-central sem grande espalhafato. Tirando uma passagem muito breve peloEstrela Vermelha de Belgrado e uma única internacionalização pelo seu país, nunca saiu da mediocridade das equipas macedónias, com duas saídas para o estrangeiro, Grécia e Israel.
Mas, decididamente, aprendeu duas ou três coisas sobre a função, tornando o conjunto do qual o antigo jogador do Sporting, Stefan Ristovski, é capitão, um bloco defensivo que mostra no currículo apenas cinco golos sofridos nos últimos seis jogos, tendo em conta que quatro deles foram no mesmo jogo, o tal face à Alemanha, em Skopje, uma partida em que os germânicos, com aquele feitio que conhecemos de cor e salteado, terão resolvido vingar-se da derrota de Duisburgo com juros.
Depois de ter estado presente na fase final do Europeu-de-Todos-os-Países-e-Mais-Alguns, o último, ainda marcado pelas grilhetas da covid (perdeu os três jogos frente a Holanda, Áustria e Ucrânia), a selecção da Macedónia do Norte está a apenas um jogo de atingir o ponto mais alto da sua ainda recente história. É Portugal que tem pela frente, mas vamos e venhamos, quem acabou de derrotar a Itália, em Itália, não vem de joelhos a tremer prestar vassalagem ao velho bairro das Antas. Haverá sempre a memória de Alexandre, ou de Aleksander, o rapazinho que aos 20 anos já era rei. As memórias conduzem-nos, por vezes, a ideias impossíveis.