Enquanto o mundo acompanha ao minuto a guerra entre a Ucrânia e a Rússia, outros aproveitam o facto de todas as atenções estarem voltadas para o Leste da Europa para levar a cabo as suas agendas. Nomeadamente, a Coreia do Norte, com relatos de militares do Japão e da Coreia do Sul, que denunciam que o país liderado por Kim Jong-un lançou o maior míssil balístico intercontinental até à data.
Esta ação já está a ser considerada a “mais séria provocação” do regime da Coreia do Norte, escreve o Guardian. O primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, descreveu este lançamento como “imprudente”.
“A Coreia do Norte disparou um projétil não identificado para o mar de Leste [nome dado nas duas Coreias ao mar do Japão]”, indicaram os chefes do Estado-Maior Conjunto sul-coreano, em comunicado.
De acordo com Washington e Seul, Pyongyang está a testar um novo míssil balístico intercontinental, chamado Hwasong-17, alegadamente com maior alcance e poder destrutivo.
Segundo o Ministério da Defesa do Japão, o projétil disparado esta quinta-feira caiu na zona económica exclusiva marítima do Japão.
“As nossas análises indicam que o míssil balístico voou durante 71 minutos e caiu cerca das 15h44 [06h44 em Lisboa] na zona económica exclusiva, no mar do Japão, a cerca de 150 quilómetros a oeste da península de Oshima”, ilha norte de Hokkaido, declarou o n.º2 do Ministério da Defesa, Makoto Oniki, acrescentando que podia tratar-se de um míssil balístico intercontinental (ICBM).
“Dado que o míssil balístico voou a uma altitude de mais de seis mil quilómetros, o que é bem mais elevado que o ICBM Hwasong-15, que foi lançado em novembro de 2017, pensamos que este de hoje seja um novo ICBM”, salientou.
Avisos da Coreia do Norte Caso as suspeitas do Japão se confirmem, este é o primeiro lançamento, desde 2017, com a capacidade total dos maiores mísseis do regime e um sinal de que a Coreia do Norte fez um progresso significativo no desenvolvimento de armas com capacidade para lançar ogivas nucleares em qualquer ponto dos Estados Unidos, escreve o jornal inglês.
“Num momento em que o mundo está a prestar a atenção e a preocupar-se com a invasão da Ucrânia pela Rússia, a Coreia do Norte está a avançar com lançamentos que agravam unilateralmente as provocações contra a comunidade internacional, o que é absolutamente imperdoável”, disse Oniki.
Analistas explicam que a frequência sem precedentes com que estes testes têm acontecido durante este ano é um sinal claro de que Kim Jong-un está determinado a consolidar o estatuto da Coreia do Norte como “potência nuclear”, escreve o Guardian, explicando que esta postura poderá permitir que o líder do país aborde quaisquer futuras negociações nucleares com os Estados Unidos a partir de uma posição de força.
“Apesar dos desafios económicos e contratempos técnicos, o regime de Kim está determinado a avançar com as suas capacidades de mísseis”, disse ao jornal inglês o professor de estudos internacionais da Ewha Womans University, em Seul, Leif-Eric Easley. “Seria um erro para os legisladores de políticas internacionais pensar que a ameaça dos mísseis norte-coreanos pode ser colocada em segundo plano enquanto o mundo lida com a pandemia e a invasão da Ucrânia pela Rússia”.
Mas os avisos não são apenas para os Estados Unidos: os vizinhos da Coreia do Sul também podem estar entre os visados.
“Se o lançamento do míssil for um ICBM, isto poderá ter um enorme impacto na segurança do nordeste da Ásia”, disse à Al Jazeera o analista de segurança da Universidade Hannam, em Daejeon, Kim Jong-ha, recordando que o novo Presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, prometeu adotar uma linha mais dura contra Pyongyang, assim que tomar posse em maio.
“Se a Coreia do Norte continuar a realizar estas provocações, é esperado que [a administração de Yoon] tome uma decisão rápida e compre um arsenal de armas adicionais, como a implantação do THAAD, mesmo que isso crie atrito com a China”, esclareceu o analista, referindo-se ao sistema de defesa antimísseis balísticos dos Estados Unidos.
O lançamento que ocorreu esta quinta-feira foi o 13.º deste ano, um número recorde, o que está a causar a indignação da comunidade internacional.