Antes da pandemia a União Europeia estava mergulhada num marasmo de vontade que não lhe tinha ainda permitido sequer chegar a acordo em relação ao Quadro de Financiamento Plurianual 2021/2027.
Com o choque sanitário e os seus múltiplos e fortes impactos, após algumas hesitações iniciais, tornou-se claro que a resposta conjunta e articulada era a única capaz de estar à altura dos desafios e dar resposta aos cidadãos, e assim se avançou com medidas antes impensáveis como a compra conjunta de vacinas, o financiamento solidário do mecanismo de recuperação e resiliência, a aprovação dos quadros de financiamento para o horizonte 2030, a aprovação da
Declaração do Porto com medidas e metas para concretizar o pilar europeu dos direitos sociais ou as plataformas interoperáveis de certificação da vacinação, entre muitas outras iniciativas de apoio à economia e às pessoas despoletadas no plano comunitário e intergovernamental.
A Invasão da Ucrânia pela Federação Russa encontrou as opiniões públicas europeias mais despertas para o valor da sua força conjunta e as instituições mais oleadas para o trabalho articulado e as respostas solidárias. A pandemia primeiro e a guerra agora, fortaleceram a União Europeia, tornaram mais clara para os cidadãos a sua mais valia concreta e tornaram-na geopoliticamente mais relevante a atrativa. Aumentaram também as expectativas e as responsabilidades de quem tem que decidir e colocar no terreno as soluções possíveis para mitigar os danos diretos e colaterais de um conflito em que a União tomou um inequívoco partido pela liberdade, pela democracia e pelo direito dos povos à autodeterminação.
Primeiro nas respostas imediatas e depois nas respostas estruturais, por muito que os países ditos “frugais” esperneiem, a dinâmica cooperante da União Europeia não tem recuo. Não tem recuo na segurança e defesa, na garantia do acesso aos bens essenciais, incluindo a energia, aos bens alimentares e às matérias-primas, ou na gestão das novas vagas de refugiados, entre muitas outras áreas em que todos os esforços serão poucos face à complexidade do que é preciso fazer.
A cimeira da NATO que decorre esta manhã em Bruxelas e o Conselho Europeu que reunirá esta tarde e amanhã também na capital Belga são dois fóruns onde a unidade e a solidariedade europeia terão que evidenciar resultados palpáveis na perceção de segurança e na capacidade de ação, quer no apoio à Ucrânia quer no controlo e regulação dos preços mercados e dos preços da energia. Ambos terão que dar origem a programas de ação comuns e com financiamentos solidários específicos.
O papel de Portugal e do seu Governo na procura ativa de soluções, de que o encontro preparatório de Roma, com a Itália, Espanha e Grécia, para desenhar soluções comuns para baixar o preço da energia é um exemplo, merece realce. Portugal vai ter um papel na próxima década um papel geopolítico muito acrescido, designadamente no eixo de transatlântico de segurança e defesa agora revigorado e no sistema de abastecimento de energia que tem que ser cada vez mais diversificado. Temos que enfrentar as adversidades com determinação, pragmatismo e visão estratégica. Sem recuo.
Eurodeputado do PS