Teoria e prática da vaca


Há quem diga que o machismo começa no momento em que o preço do boi é o dobro do da vaca.


Os brasileiros são óptimos em frases que, depois, nós, os que temos a tentação de escrever crónicas, usamos com a liberdade que a própria crónica nos dá. Por exemplo: “Na Índia a vaca é sagrada, na Europa a vaca é louca, e no Brasil vaca é qualquer amiga do seu namorado”.

Claro que a vaca amiga do namorado da moça despeitada que terá pronunciado este anexim pode ser tão louca como a vaca europeia ou tão sagrada como a vaca indiana, para o caso pouco importa. Em Maio de 1996 eu estava na Irlanda e a encefalopatia espongiforme bovina apavorava rinocerontes. Num bar de Dublin (os irlandeses tinham a mania que só os ingleses é que produziam vacas loucas), encontrei este cartaz: “Neve eat an English cow without a condom!” Era provocatório, tinha segundas intenções, mas fiquemos por aqui para não ferir susceptibilidades. Até porque, depois de ter olhado disfarçadamente em redor, não vislumbrei nenhuma vaca inglesa, algo que não posso jurar em relação às irlandesas.

Vaca acabou por ganhar uma conotação um bocado embirrenta, pobre bovídeo, mas ainda mais embirrenta quando projectada nesse vasto e maravilhoso mundo das mulheres. Há quem diga que o machismo começa no momento em que o preço do boi é o dobro do da vaca. Mas, neste caso, na visão feminista, o boi é toureado e a vaca é que toureia o homem, chifres à parte, que isso são apenas coisas que nos põem na cabeça.

A conversa do dia a dia está cheia de vacas: a vaaca-fria, a vaca-magra, a vaca-gorda, os mãos-de-vaca. Ninguém se vê livres delas nem que a vaca tussa, que é uma magnífica cacofonia – cavacatussa. Gilberto Freyre, o grande escritor de Casa Grande & Senzala, teve uma tirada definitiva sobre a vaca como objecto de desejo: “Fui menino de engenho, tive uma iniciação que não teria tido na cidade. No engenho você vê os animais, o touro cobrindo a vaca… E eu fui iniciado no uso de uma vaca”. Depois a coitada é que é louca.


Teoria e prática da vaca


Há quem diga que o machismo começa no momento em que o preço do boi é o dobro do da vaca.


Os brasileiros são óptimos em frases que, depois, nós, os que temos a tentação de escrever crónicas, usamos com a liberdade que a própria crónica nos dá. Por exemplo: “Na Índia a vaca é sagrada, na Europa a vaca é louca, e no Brasil vaca é qualquer amiga do seu namorado”.

Claro que a vaca amiga do namorado da moça despeitada que terá pronunciado este anexim pode ser tão louca como a vaca europeia ou tão sagrada como a vaca indiana, para o caso pouco importa. Em Maio de 1996 eu estava na Irlanda e a encefalopatia espongiforme bovina apavorava rinocerontes. Num bar de Dublin (os irlandeses tinham a mania que só os ingleses é que produziam vacas loucas), encontrei este cartaz: “Neve eat an English cow without a condom!” Era provocatório, tinha segundas intenções, mas fiquemos por aqui para não ferir susceptibilidades. Até porque, depois de ter olhado disfarçadamente em redor, não vislumbrei nenhuma vaca inglesa, algo que não posso jurar em relação às irlandesas.

Vaca acabou por ganhar uma conotação um bocado embirrenta, pobre bovídeo, mas ainda mais embirrenta quando projectada nesse vasto e maravilhoso mundo das mulheres. Há quem diga que o machismo começa no momento em que o preço do boi é o dobro do da vaca. Mas, neste caso, na visão feminista, o boi é toureado e a vaca é que toureia o homem, chifres à parte, que isso são apenas coisas que nos põem na cabeça.

A conversa do dia a dia está cheia de vacas: a vaaca-fria, a vaca-magra, a vaca-gorda, os mãos-de-vaca. Ninguém se vê livres delas nem que a vaca tussa, que é uma magnífica cacofonia – cavacatussa. Gilberto Freyre, o grande escritor de Casa Grande & Senzala, teve uma tirada definitiva sobre a vaca como objecto de desejo: “Fui menino de engenho, tive uma iniciação que não teria tido na cidade. No engenho você vê os animais, o touro cobrindo a vaca… E eu fui iniciado no uso de uma vaca”. Depois a coitada é que é louca.