A água, molécula simples composta por apenas dois átomos, oxigénio e hidrogénio, tem uma importância extrema, pois a vida tal e qual a conhecemos não é possível sem a sua presença.
Neste Dia Mundial da Água, que foi instituído e celebrado pela primeira vez em 1993, é necessário acima de tudo chamar à atenção para a falta de água potável e saneamento de grande parte dos habitantes do nosso planeta azul.
A água é saúde!…. todos nós temos essa noção. No entanto todos nós tomamos por garantido este bem cada vez mais essencial. Quando dizemos todos, incluímos o cidadão comum e os decisores.
Em muitas partes do mundo, não se investe o suficiente, nem se dá importância suficiente à água e saneamento. Muitas vezes os governantes não têm a completa noção dos custos associados à falta de saneamento básico das suas populações.
Neste momento, existem cerca de 2 mil milhões de pessoas sem acesso a água destinada ao consumo humano com qualidade adequada e cerca de 4 mil milhões sem saneamento básico.
A crise de água e saneamento é um problema que se tem expandido, aumentando consequentemente os custos do problema. A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, adotada por todos os membros da Nações Unidas em 2015, descreve uma série de objectivos para a paz e prosperidade mundial, para o presente e futuro. Na sua génese estão 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), no qual se encontra o ODS 6 – garantir disponibilidade e gestão sustentável de água e saneamento para todos. No ODS 6 incluem-se pontos como acesso universal, equivalente e acessível de água para consumo humano para todos bem como o acesso a saneamento básico e higiene para todos, com vista a acabar com defecação a céu aberto, reaproveitamento de fontes não convencionais de água e proteção e restauração dos ambientes aquáticos. Temos portanto de mudar o paradigma e não pensar que cumprir o ODS 6 até 2030 representa apenas vastos encargos económicos. Temos de pensar que pode ser – e é – uma oportunidade.
Encontrar soluções sustentáveis, expandir e fortalecer os serviços de água e saneamento é fundamental para o crescimento económico e um desenvolvimento sustentável. O investimento nestas áreas representa uma melhor qualidade da saúde humana, implicando diminuição de hospitalizações, custos com as mesmas, e decréscimo de ausências nos locais de trabalho por doença. Um investimento sustentável terá, portanto, um retorno em receitas que compensará economicamente o investimento feito devido a um decréscimo em custos com cuidados de saúde e consequente aumento de produtividade.
Em muitos casos, não são necessárias soluções milionárias. Pequenos sistemas, mais acessíveis e robustos, podem poupar dinheiro e garantir soluções de água e saneamento fundamentais e de longo prazo, ajudando a prevenir a morte de milhares de crianças por doenças como a diarreia e cólera. Crianças mais saudáveis, com melhores resultados na escola e com maior probabilidade de futuro e de contribuir ativamente para a sociedade são também um investimento no futuro. Nos países desenvolvidos, uma melhor qualidade de água implica uma diminuição de doenças e consequentemente maior produtividade e riqueza.
A falta de água e saneamento tem também consequências sociais importantes, com raparigas e mulheres forçadas à laboriosa tarefa de ir buscar água, muitas vezes a vários quilómetros de distância, ficando sujeitas à indignidade e perigo de casas de banho públicas em campos ou na rua. A pandemia de SARS-CoV-2 que vivemos nos últimos dois anos é o exemplo de que o nosso planeta é apenas um. Mesmo tendo água e saneamento básico em muitas zonas do globo, não devemos ser alheios ao que se passa noutras zonas mais desfavorecidas do nosso planeta.
Investir em formas de saneamento apropriado e consequente reutilização de diversas fontes não convencionais de água, como por exemplo águas residuais, implica também a salvaguarda do meio ambiente e de água fresca cujas reservas, com as alterações climáticas e utilização muitas vezes inapropriada, cada vez são mais escassas. Num futuro não muito distante, muitas das futuras guerras poderão passar por disputas trans-fronteiriças por fontes de água potável.
Podemos pensar que o investimento atual é suficiente, no entanto é necessário mais, e principalmente mais bem distribuído. Na maioria dos casos não são necessárias soluções muito dispendiosas nem muito tecnológicas. É sim necessário um uso equilibrado dos recursos e a aplicação racional de soluções que muitas vezes são simples e acessíveis. A salvaguarda dos meios aquáticos é primordial para a boa saúde das populações e do planeta.
Investigadores do Laboratório de Análises do Instituto Superior Técnico