MARO. O nome de quem todos falam

MARO. O nome de quem todos falam


Com quatro anos já tocava piano, com 19 rumou aos EUA para perseguir o seu sonho. Hoje é reconhecida por toda a parte como vencedora do 56.º Festival da Canção. “Chovem” os elogios nas redes sociais, aumentam as visualizações no Spotify e a palavra saudade ganha outro significado.


Poucos a conheciam antes de ter ganho a edição deste ano do Festival da Canção. Fê-lo com uma música que tem como nome uma palavra que caracteriza o país, já que não existe em nenhuma outra língua.

Mariana Secca, mais conhecida por MARO, que dá voz ao tema ‘Saudade, Saudade’, onde mistura dois dos seus “mundos” – o inglês e português –, venceu na madrugada do passado domingo a 56ª edição do concurso musical da RTP, conquistando 24 pontos – 12 atribuídos pelo júri e 12 pelo público. Agora, a jovem vai representar o país na Eurovisão, que este ano se realiza no dia 10 de maio em Turim, Itália.

Desde a vitória que o seu nome tem viajado de país em país, conquistando os ouvidos de todos. Desde Espanha à Grécia, à Inglaterra, à Roménia, Brasil e mesmo Ucrânia, nas redes sociais, os comentários têm-se multiplicado.

“Sou ucraniana e fugi à guerra. Agora estou a salvo, na Polónia, com a minha família, e descobri esta canção que me dá paz e esperança. Sempre que a ouço, choro. Sem o saberes, dás-me conforto. Obrigada do fundo do meu coração, nunca esquecerei esta canção”, escreveu a internauta Bohuslava Salenko, logo após a primeira eliminatória.

“Nestes tempos conturbados, esta canção é uma pérola. As pessoas vão apreciar a tranquilidade, a ternura e o amor que esta canção transmite. Neste momento, o mundo não precisa de fogo de artifício, lantejoulas e canções estereotipadas e falsas. Estou muito agradecido a Portugal por ser fiel à sua alma e à sua identidade e por não querer saber das fórmulas convencionais de ‘sucesso garantido’ que os outros países usam”, defendeu outro admirador na caixa de comentários do vídeo da atuação partilhado no YouTube.

“Eu gosto desta música ainda mais do que da própria música do meu país, Grécia! É uma música incrível, hipnotizante e melódica! Espero que as pessoas a apoiem para chegar à final!”, escreveu, por sua vez, um fã grego. De Espanha as palavras que chegam são “elegância” e “emoção”: “Vi o Festival da Canção com a minha mãe na net, só para poder ver a MARO. A minha mãe emocionou-se muito, e eu com ela. É uma canção bonita, daquelas que nos ficam na memória”, revelou Mateo di Bianca da Galiza.

“Sempre elegante Portugal! Temos muito para aprender com os nossos vizinhos!”, admitiu outro internauta. “Arrepiei-me! É um technofado magnífico! A Bahia também sente saudade, saudade com você, MARO! Parabéns! Você nos representa”, exaltou Luiz Leal, do Brasil.

Além dos elogios dos espetadores no Youtube, o tema dedicado ao seu avô já desaparecido “explodiu” também no Spotify. A plataforma de streaming divulgou a lista dos artistas mais ouvidos da edição de 2022 do Festival da Canção: as 10 canções finalistas conquistaram 710 mil reproduções.

O Spotify adiantou ainda que o número de vezes que os temas finalistas foram ouvidos pelos utilizadores da plataforma cresceu em média 128%, desde as semifinais até ao anúncio do representante português no Festival. Também aqui, é MARO que lidera a lista: conseguiu, até hoje, quase 290 mil escutas. Na verdade, desde o passado sábado, as audições da cantora aumentaram 450%.

Um “dom” desde a infância Mas quem é afinal a artista de quem todos falam? O que existe por trás da voz que, desde o ano passado, tem feito colaborações com nomes que vão desde Mariza, Salvador Sobral, Rui Veloso, a Rosa Passos, Pablo Alborán, Jacob Collier e até Eric Clapton?

Há dois anos, durante o confinamento imposto graças à pandemia da covid-19, o país começou a conhecer o rosto da intérprete pela sua participação no projeto de Bruno Nogueira, Como É Que o Bicho Mexe, onde juntamente com amigos animava as madrugadas dos portugueses. A artista foi desafiada pelo comediante através de uma mensagem no Instagram, onde publica os seus vídeos num projeto com o nome Itsa Me, Maro! Apesar de ter mantido a sua carreira “discreta” até agora, a jovem de 27 anos, já tem um percurso na área feito de passos seguros. 

Divide a paixão pela música, cinema e fotografia. Começou a tocar piano aos quatro anos, por influência da mãe, que é professora de música. Além disso, a sua avó é pianista e o seu pai sempre tocou vários instrumentos. Curiosamente, na infância o seu foco estava no desporto. Maro queria ser jogadora de futebol, mas acabou por abandonar a ideia, já que os rapazes da sua escola diziam que “esse não era um desporto de meninas”. “Até ao nono ano, eles sabiam que não havia escolha senão terem aulas de música”, revelou a sua mãe, Cristina Brito da Cruz, em entrevista à TSF, sobre a educação musical dos três filhos. 

Mariana começou a compor aos 11 anos mas, numa entrevista ao site Gerador, em 2020, lembrou que foi ao ouvir uma música, enquanto estudava para os exames nacionais do secundário, que se deu o “clique”: “Lembro-me que foi a música ‘Cais’, do Milton Nascimento. Foi aí que pensei: ‘O que é que eu estou a fazer?”, admitiu. A música ficou na sua cabeça e não a deixou dormir. Nesse momento, a jovem percebeu que, afinal, teria de se dedicar às canções. 

Enquanto os irmãos acabaram por se afastar da música, desistindo das aulas, Maro quis continuar o percurso. O outro lado do Atlântico, EUA, foi a sua escolha. A vencedora do Festival da Canção 2022 estudou no Berklee College of Music, em Boston, onde se formaram vários artistas mundialmente conhecidos como St. Vincent, John Mayer ou Diana Krall, bem como a portuguesa Luísa Sobral.

Quando em 2017 terminou o curso, rumou a Los Angeles e, em apenas um ano, gravou cinco álbuns. Mal sabia ela que as canções por si compostas despertariam interesse em artistas tão conhecidos como Tracy Chapman, Justin Timberlake e Jacob Collier, que acabou por convidá-la para uma digressão mundial, onde MARO integrou a banda como vocalista e instrumentista, e com quem gravou a canção ‘Lua’. Mudou-se, mais tarde, para o Brasil e ainda aterrou em Paris antes de regressar à capital portuguesa em março de 2020 com a ambição de editar um novo álbum. No ano passado, editou uma mão-cheia de canções com o colega de curso Nasaya, reunidas no EP Pirilampo. 

Depois de ter sabido que era a grande vencedora do Festival, a artista publicou na sua conta de Instagram uma fotografia da atuação, acompanhada pela legenda: “Além de ainda não ter dormido, continuo sem palavras. Amanhã venho contar o tanto que anda aqui na cabeça. Só coisas bonitas! Por agora fica um gigante obrigada, do fundo do coração. Esta canção já não é minha nem do avô – é de todos!”, agradeceu.

Na quarta-feira, voltou a partilhar uma fotografia na rede social, desta vez, acompanhada pelos colegas, no momento da vitória: “Antes de qualquer outra coisa, queria deixar um sincero obrigada a este grupo de artistas incríveis que viveu esta edição comigo. Foi um prazeraço ouvir-vos de perto e ver-vos a todos fazer o que tão bem sabem fazer. Obrigada pela humildade e companheirismo, e por todos os momentos de carinho ao longo dos ensaios, nos camarins e até naqueles últimos momentos mais loucos. São grandes. Sou fã! E não queria deixar de dizer que, se as regras o permitissem, íamos agora todos cantar juntos!”.