Não é preciso ser um génio nem um psicólogo encartado para perceber que na origem de muitos comportamentos mais agressivos do ser humano está um complexo de inferioridade mal resolvido. Isso vê-se nos maridos despeitados que se vingam das mulheres, nos alunos vítimas de chacota que atacam as escolas e, a outro nível, nos políticos que lideram países maltratados pela História.
O caso mais célebre é o de Adolf Hitler, que viu a Alemanha ser derrotada na I Guerra Mundial, e depois vergada pelo Tratado de Versalhes, que impôs condições humilhantes e pesadíssimas compensações de guerra. Quando tomou o poder, Hitler quis não apenas recuperar o país – a nível económico, industrial e militar – como achou que a melhor maneira de lhe devolver a dignidade seria adotar uma política expansionista. O resultado foi o que todos sabemos.
O caso de Napoleão não foi muito diferente. O ‘pequeno cabo’ teria certamente uma tendência inata para a megalomania, mas é preciso não esquecer que a França havia perdido a Guerra dos Sete Anos (1756-1763) para a Grã-Bretanha e seus aliados, o que gerou uma sucessão de acontecimentos dramáticos, entre os quais se inclui a Revolução Francesa, que deixou o país de rastos. Mais uma vez, era preciso recuperar a grandeza perdida. Napoleão tentou fazê-lo estabelecendo um império.
Creio que terá sido um mecanismo semelhante que levou Putin a iniciar a invasão da Ucrânia.
Há poucas semanas, antes da invasão da Ucrânia, um amigo chamava-me a atenção para uma declaração recente. Num documentário, o Presidente russo revelou que durante esses anos de penúria da década de 1990 tinha chegado a conduzir um táxi à noite para complementar os seus escassos proventos. “É desagradável falar sobre isto, para ser honesto, mas infelizmente foi o que se passou”.
Em 1990 e 1991, em vez de apoiarem Gorbachov na transição para um sistema político mais transparente e uma economia mais liberal, os americanos deixaram a União Soviética desmoronar-se com estrondo. Washington e o Pentágono terão pensado que tinham neutralizado de vez a ameaça russa. Creio que cometeram um erro ao subestimar um dos motores mais poderosos do comportamento humano: o ressentimento. E um dos mais perigosos também.