Roubo o título ao josé saramago mas não faz mal nenhum, é um daqueles roubos tão descarados que se fosse chamado à barra de um tribunal, devolvia-o intacto sem que ninguém desse pelo abuso. Por mero acaso, que me caiu de repente como uma moeda na caixa de esmolas das lembranças, Saramago faria, no próximo Novembro, cem anos, quem diria?
Faria, já não os faz porque se encantou entretanto, para roubar outra frase, desta vez a Guimarães Rosa. E, novo plim, na tal caixinha da memória, para outro nome, João de Deus, que nos alertou para a terrível devastação de fazer anos: “Não faça tal: porque os anos/Que nos trazem? Desenganos/Que fazem a gente velho/Faça outra coisa: que em suma/Não fazer coisa nenhuma/Também lhe não aconselho”. Fui dos primeiros jornalistas a entrevistar Saramago após o Prémio Nobel.
Para A Bola Magazine, uma revista que teve uma morte indigna às mãos de um pequeno velhaco de uma mediocridade insuportável que mais não sabe que exibir ao pescoço gravatas tão ridículas como as de Benito Mussolini, Il Buffone.
Escapa-se-me o nome da besta e ainda bem. Ora, o bom do galardoado estranhou o facto de estar frente-a-frente com um jornalista de uma publicação desportiva, mas depois soltou uma frase digna do Memorial do Convento: “Ah! Claro! Você é de Águeda!”
Da mesma Águeda do nosso comum amigo, Hélio Sucena, que tratou de o convencer que não iríamos falar de futebol mas sim do jogo universal entre a literatura e o desporto. Nisto do português temos nome e nomes. Os nomes do batismo e os nomes que nos chamam, geralmente feios.
E, pelo caminho, mais um tostão na caixa: Eva Perón estava em Londres e foi obrigada a assistir a uma manifestação contra o marido, Juán. Ofendida, virou-se para o senhor bem posto, a seu lado: “Imagine só! Estão a chamar-me puta!” E o homenzinho, na sua impassibilidade britânica: “É exatamente o que se passa comigo, minha senhora. Há trinta anos que não ponho os pés num navio e continuam a chamar-me almirante”.