Winning Time. Quando o basquetebol se tornou tão bom quanto sexo

Winning Time. Quando o basquetebol se tornou tão bom quanto sexo


Winning Time foca-se na história da geração “Showtime” dos Los Angeles Lakers. E na figura que esteve na origem de uma das mais espetaculares equipas de basquetebol de todos os tempos: Jerry Buss, um playboy milionário altamente extrovertido.


Numa altura em que a equipa do ex-MVP Lebron James se encontra perto de sair dos lugares que garantem acesso aos playoffs e as performances em campo são das mais desinteressantes dos últimos anos, torna-se difícil perceber porque é que os Lakers são um dos clubes mais famosos do planeta. Para nos avivar a memória, quem melhor do que o homem que tornou esta equipa um fenómeno?

“Raios me partam… Basquetebol. Vejam só. É como sexo em movimento. Sempre em movimento, é rítmico. É íntimo e pessoal. Não há equipamento de proteção. Somos só nós e os outros tipos no campo a tentar enfiar a bola no cesto. É algo bonito e cada jogador tem o seu próprio estilo. É sensual”, quem o diz é Jerry Buss… ou melhor John C. Reilly, ator norte-americano, nomeado para um Óscar e conhecido por participar em filmes como Boogie Nights ou Gangues de Nova Iorque, e que agora foi o escolhido para interpretar Jerry Buss, ex-dono dos Lakers e responsável por tornar esta equipa numa das mais divertidas e espetaculares do mundo.

“Se há duas coisas no mundo que me fazem acreditar em Deus, são o sexo e o basquetebol”, diz Buss a uma “coelhinha” nua deitada com ele numa cama na mansão Playboy. Apesar da mulher não prestar grande atenção a esta declaração de amor, é assim que Winning Time: The Rise of the Lakers Dynasty, série que estreou no dia 6 de março e que serviu como uma das bandeiras para o novo serviço HBO Max, que chegou a Portugal na passada terça-feira, capta a atenção dos seus espetadores logo numa das suas primeiras cenas.

Buss, que tinha um doutoramento em físico-química e chegou a trabalhar no Departamento de Minas do governo dos Estados Unidos e numa empresa de material aeroespacial, começou a enriquecer no setor do imobiliário.

Já com uma fortuna de milhões, comprou a equipa de Los Angeles, num negócio que parecia fazer pouco sentido para todos os que o rodeavam, mas a sua visão iria promover uma revolução não só na sua equipa como em toda a liga, que ainda se sente no presente.

Hora do Espetáculo O novo dono dos Lakers queria reconstruir a equipa à sua imagem, um playboy milionário altamente extrovertido. Buss olhava para a sua equipa e, mais do que a eficácia e rigidez que se associa ao desporto, pretendia criar um ambiente semelhante ao de Hollywood, uma indústria movida a estrelas com personalidades “maiores que a vida” e com entretenimento eletrizante.

Inspirado por um dos seus clubes noturnos de eleição, The Horn, Buss decidiu implementar muitos dos elementos que hoje consideramos indissociáveis da NBA, como a música ao vivo, assim como cheerleaders e outros entertainers que atuavam durante os tempos “mortos” dos jogos.

Mas claro, o mais importante espetáculo acontecia dentro de campo. O estilo “Showtime”, termo cunhado por Buss, “emprestado” das noites do The Horn, onde nas suas noites mais ousadas se ouvia o tema “It’s Showtime” (e que deveria ter sido o nome desta série, não fosse “Showtime” o nome de um serviço de streaming rival da HBO Max), referia-se ao estilo de jogar desta equipa, com um ritmo acelerado e focado na rápida transição de contra-ataque.

Tudo começava com um ressalto, tipicamente ganho pela lenda Kareem Abdul-Jabbar, o poste que venceu seis vezes a distinção de MVP da NBA, ou atletas como Kurt Rambis, e A. C. Green, que rapidamente passavam para a estrela da equipa, Magic Johnson, que conduzia a bola de uma ponta do campo a outra, para uma finalização que, regra geral, terminava num afundanço de Jamaal Wilkes, James Worthy, Byron Scott ou Michael Cooper.

Ninguém queria Magic Para fielmente representar esta história, os produtores de Winning Time, entre os quais se inclui Adam McKay, realizador responsável por filmes como Don’t Look Up, Vice, The Big Short ou pela série Succession (também com selo da HBO), escolheram para interpretar o magnético Earvin “Magic” Johnson Jr., ex-MVP em três ocasiões, o novato Quincy Isaiah.

No seu primeiro grande papel, o ator norte-americano (cara e sorriso chapado de Johnson) está no centro desta revolução. Com a primeira pick do draft de 1979, onde equipas escolhem os rookies, jogadores estreantes da liga que, regra geral, vem do basquetebol universitário, ninguém da direção do Lakers queria que Buss escolhesse Magic.

Era uma escolha que não fazia sentido. A equipa já tinha o veterano base, Norm Nixon (interpretado por DeVaughn Nixon, filho do ex-atleta). Não existia lógica em escolher outro jogador para a mesma posição, ainda por cima, quando também estava disponível Sidney Moncrief, um atleta que iria complementar a equipa na perfeição com a sua técnica enquanto jogador sem bola. Certo?

Buss não partilhava esta visão. Magic era o jogador perfeito para dar visão à sua ideia de um basquetebol interessante, elétrico e divertido, e, para além disso, a sua personalidade era perfeita para o ambiente de celebridades que o novo dono da equipa instalar no The Forum, arena onde os Lakers jogavam.

A contrastar com este estilo está Kareem Abdul-Jabbar, interpretado pelo igualmente inexperiente Solomon Hughes, que, na vida, tem um doutoramento em ensino superior e chegou a fazer parte dos Harlem Globetrotters, que teve o desafio de dar a vida a um dos jogadores mais laureados deste desporto. 

A técnica de lançamento de Abdul-Jabbar, o skyhook, ou, em português, o gancho, tornou-o um dos jogadores mais difíceis de defender na história da NBA, e, devido à sua inteligência e ativismo um dos homens mais respeitados do mundo do desporto.

No entanto, por muito talento que tivesse, Kareem era altamente introvertido. Apesar de liderar a equipa dentro de campo, nunca poderia ser a estrela que Buss desejava que poderia ser a cara da equipa.

Magic e Kareem, mesmo que no início não tivessem tido a relação mais simpática, acabariam por formar uma das duplas mais mortíferas e laureadas de sempre, não fossem um dos melhores passadores e finalizadores da modalidade, e, fora de campo, complementar-se-iam, com a chegada do jovem Johnson à equipa “a desencadear a jornada gradual de Abdul-Jabbar para se abrir para aqueles ao seu redor e, por sua vez, reacender seu amor pelo jogo”, escreveu a Hollywood Reporter.

Mas não é só de excessos e conquistas desportivas que esta série é feita. Exatamente a primeira cena que abre a série, antes da declaração de amor de Buss, encontramos Magic Johnson numa clínica médica, numa alusão à fase da sua vida em que descobriu que era HIV positivo.

São todas estas histórias e icónicas figuras contagiantes, tal como Pat Riley (interpretado por Adrien Brody, vencedor de Óscar de Melhor Ator pela sua performance em O Pianista), treinador escolhido por Buss para liderar os Showtime Lakers, que atualmente é o presidente dos Miami Heat, Jerry West (Jason Clarke), o extremamente rezingão ex-base dos Lakers, cuja silhueta dá a forma ao logo da NBA, e que no início da série serve como treinador da equipa, Claire Rothman (Gaby Hoffmann), a primeira e única gestora feminina de grandes arenas desportivas, neste caso, do The Forum, ou Jeanie Buss (Hadley Robinson), filha do antigo dono dos Lakers, que, atualmente, assumiu o cargo do seu pai, que morreu em 2013.

Depois do sucesso de The Last Dance, documentário da Netflix sobre Michael Jordan e as equipas de Chicago Bulls que conquistaram seis campeonatos, Winning Time, embora mais ficcional, tem todos os ingredientes necessários para conquistar as audiências e tornar-se a próxima grande série da HBO.

Caso não o consiga, pelo menos pode distrair os fãs dos Lakers do mau momento de forma da equipa e recordar os bons velhos tempos.