Dificilmente se encontrará, no panorama do futebol da Europa, um clube que tenha decidido eliminatórias com tantos clubes portugueses como o Olympique de Lyon (Lião à portuguesa), adversário, hoje, do FCPorto, na primeira mão dos oitavos-de-final da Liga Europa, pelas 15h45, nas Antas. Reparem: Sporting, FC Porto, Académica, Vitória de Setúbal, Farense, FC Porto outra vez, Benfica, Vitória de Guimarães, mais uma vez Benfica, e agora novamente FC Porto. Convenhamos. É de escacha.
Nunca o FC Porto foi eliminado pelo Lyon, vamos a ver se também não é desta. A curiosidade, como sempre, transporta-nos para o passado e para o primeiro confronto entre os dois clubes. E, em cima de uma curiosidade empoleirava-se outra, como o papagaio no ombro do pirata. Na época anterior, o Olympique de Lyon fora uma das vítimas do Sporting na sua senda pela conquista da antiga Taça dos Vencedores de Taças, essa prova plena de elegância que a ganância dos senhores da UEFA condenou à morte. 0-0 e 1-1, e como não havia golos fora, como agora também já deixou de haver, desempate em campo neutro com vitória dos leões de Lisboa por 1-0, saltando daí diretos para a final com o MTK Budapeste.
Se em 1964-65, o Lyon fora despachado pelo Sporting nas meias-finais (era a sua quarta presença na Europa e fora sempre afastado na primeira eliminatória), o regresso à Taça das Taças em 1965-66 pôs-lhe o FCPorto pela frente, precisamente na primeira ronda.
No dia 16 de Setembro de 1964, nas Antas, os portistas arrasaram o seu opositor. Foi um jogo animado e jogado a bom ritmo. Mas não demorou muito para que o FCPorto caísse em força sobre a defesa francesa, deixando o guarda-redes Aubour metido numa camisa de onze varas. Jaime, Valdir e Nóbrega estavam imparáveis. Custódio Pinto aguçava o seu espírito de goleador emérito. Atacando em ondas sucessivas, encurralavam o adversário nos arredores da sua grande-área e os sustos sofridos pela defesa comandada por Jean Djorkaeff multiplicavam-se minuto a minuto. Toda a gente, nas bancadas, esperava ansiosamente pelo primeiro golo.
Os golos Tiveram de esperar quase até ao intervalo para que a teia defensiva lionesa fosse finalmente rasgada por Custódio Pinto graças a um passe com conta peso e medida de Carlos Baptista. 1-0 aos 41 minutos, havia todos os motivos para que os portugueses fossem para as cabinas plenos de otimismo para o que viria a acontecer a seguir.
E assim foi. A entrada portista no segundo tempo foi avassaladora. Jogando com o extremos bem abertos, sempre demasiado rápidos para os laterais franceses, o domínio do conjunto orientado por Otto Glória era tão claro como as águas puras da Ribeira de Loriga. O público ansiava por mais golos e eles não faltariam. Estava decorrida uma hora de jogo quando Carlos Pinto, num remate violento, marcou o segundo golo.
Se 2-0 já era um resultado agradável e com o seu quê de seguro, não foi isso que pareceu. OFCPorto continuou na sua agressiva toada de ataque. O Lyon limitava-se a defender como podia. Volvidos onze minutos, Djorkaeff cometeu uma gafe que não era, de todo, parte do seu repertório, procurando chutar uma bola para longe mas deixando-a ao alcance de Custódio Pinto que se isolou e não teve dificuldade em marcar o 3-0.
A vitória tinha sido tão objetiva que não dava espaço a críticas nem a desculpas por parte dos franceses. No entanto, acreditavam ainda. E bem. Era sua obrigação ter esperança de ainda mudar o curso dos acontecimentos no Estádio de Gerland, no dia 14 de Outubro. “Seria bom reforçar o avanço. Mas será muito bom se mantivermos a diferença”, afirmou Otto Glória na véspera. Montou uma equipa matreira. De tração atrás, como convinha a quem jogava com três golos à maior, mas venenosa no contra-ataque, onde Nóbrega e o brasileiro Valdir saltavam que nem diabos por entre a defesa francesa. O jogo foi, todo ele, disputado com equilíbrio. Mais ofensivos os franceses, como era, aliás, sua obrigação, mas as cautelas do sr. Otaviano deram resultado. De tal forma que, a um minuto do fim, Valdir libertou-se para fazer o único golo do jogo. O FCPorto seguia em frente – afastado na eliminatória seguinte pelo Munique 1860 – e os lioneses voltavam a ter razões para se lamentarem de um adversário lusitano. Viriam a lamentá-lo mais vezes…