A guerra na Ucrânia


É mais do que tempo de hoje o Ocidente também acordar e perceber o que está verdadeiramente em causa na Ucrânia.


Em 10 de Março de 2014 escrevi no meu blogue o seguinte texto: “Putin tem assim o caminho aberto para a anexação da Crimeia. Resta saber se vai parar por aí. Hitler não parou. Pensou naturalmente que, se tinha conseguido obter os territórios checos, apenas devido a uma população levemente maioritária de alemães nos Sudetas, o que o impedia de reivindicar Danzig, que tinha em 1939 uma população de 95% de alemães? Putin pode perfeitamente pensar o mesmo. Afinal, a Transnístria não fica assim tão longe e a Moldávia é muito mais fácil de vergar que a Ucrânia. Aguarda-se pelas cenas dos próximos capítulos”.

Passaram exactamente oito anos e a previsão que então fiz confirmou-se integralmente. Depois de ter anexado a Crimeia e reconhecido a independência dos territórios russófonos de Donetsk e Lugansk, Putin decidiu lançar uma guerra de agressão e conquista contra a Ucrânia. Essa guerra constitui um verdadeiro crime contra a paz e a segurança internacional, ao qual infelizmente a NATO, a União Europeia e os EUA não estão a dar a resposta adequada. Na verdade, apesar dos apelos desesperados do Presidente Zelensky, a solicitar ajuda contra a agressão russa, o que se tem verificado é que, em virtude do receio de que a situação possa degenerar num conflito mundial, a Ucrânia está mais uma vez a ser deixada sozinha perante os ataques russos. Ora, esse é um erro comparável ao que foi praticado na II Guerra Mundial, em que se foi permitindo sucessivamente a Hitler anexar a Áustria, os Sudetas, e ocupar toda a Checoslováquia, só tendo a Inglaterra e a França reagido quando a Polónia foi invadida. Aquando da anexação dos Sudetas, Churchill tinha proclamado: “A crença de que se consegue a paz na Europa lançando aos lobos um pequeno Estado é um erro fatal”.

Esse erro fatal teve como consequência o fortalecimento do ditador alemão, que poderia ter sido facilmente travado em Setembro de 1938, mas em que a contemporização da França e da Inglaterra permitiram que viesse a sair reforçado, com condições para fazer novas exigências, as quais inevitavelmente levaram a Europa e o Mundo a uma guerra prolongada, onde perderam a vida 70 milhões de pessoas. 

Neste momento, esse erro fatal está a ser repetido novamente na Ucrânia. Na verdade, o que nos garante que, se Putin vencer esta guerra na Ucrânia, não se vira a seguir contra a Moldávia, ou contra os Estados Bálticos, mais uma vez invocando a necessidade de proteger as populações russas nesses países? E se o Ocidente não reagir agora perante a barbaridade do que se está a passar na Ucrânia, como é que se pode esperar que venha a defender esses países quando surgir uma nova agressão?

Neste momento, a Rússia está a adoptar uma política expansionista que ameaça a paz mundial, e se nada for feito para a travar, continuará imparável nessa agressão. Mas infelizmente, a ONU foi paralisada pelo veto russo no Conselho de Segurança, sendo que neste momento a Rússia até possui a sua presidência. Os EUA estão claramente numa posição isolacionista e não pretendem ter qualquer intervenção na guerra da Ucrânia. E quanto à União Europeia, a mesma continua sem possuir a adequada capacidade militar, e só recentemente decidiu reforçá-la.

Até agora a resposta à agressão russa tem sido, assim, apenas a aplicação de sanções económicas, mas as mesmas parecem claramente ineficazes para impedir os sucessivos crimes de guerra a que todos os dias assistimos, como o bombardeamento de cidades, a inutilização de infraestratruturas essenciais, a supressão de corredores humanitários, os quais estão a causar um enorme sofrimento humano que deveria indignar os países democráticos.

Na II Guerra Mundial, os EUA permanecerem neutros até a guerra os atingir em 7 de Dezembro de 1941, com o ataque japonês a Pearl Harbor. Essa neutralidade foi criticada no célebre filme Casablanca em que a personagem Rick, interpretada por Humphrey Bogart, diz que deviam estar todos a dormir na América. Efectivamente, conforme referiu o almirante japonês Yamamoto, apenas esse ataque foi capaz de acordar o gigante adormecido.

É mais do que tempo de hoje o Ocidente também acordar e perceber o que está verdadeiramente em causa na Ucrânia.

A guerra na Ucrânia


É mais do que tempo de hoje o Ocidente também acordar e perceber o que está verdadeiramente em causa na Ucrânia.


Em 10 de Março de 2014 escrevi no meu blogue o seguinte texto: “Putin tem assim o caminho aberto para a anexação da Crimeia. Resta saber se vai parar por aí. Hitler não parou. Pensou naturalmente que, se tinha conseguido obter os territórios checos, apenas devido a uma população levemente maioritária de alemães nos Sudetas, o que o impedia de reivindicar Danzig, que tinha em 1939 uma população de 95% de alemães? Putin pode perfeitamente pensar o mesmo. Afinal, a Transnístria não fica assim tão longe e a Moldávia é muito mais fácil de vergar que a Ucrânia. Aguarda-se pelas cenas dos próximos capítulos”.

Passaram exactamente oito anos e a previsão que então fiz confirmou-se integralmente. Depois de ter anexado a Crimeia e reconhecido a independência dos territórios russófonos de Donetsk e Lugansk, Putin decidiu lançar uma guerra de agressão e conquista contra a Ucrânia. Essa guerra constitui um verdadeiro crime contra a paz e a segurança internacional, ao qual infelizmente a NATO, a União Europeia e os EUA não estão a dar a resposta adequada. Na verdade, apesar dos apelos desesperados do Presidente Zelensky, a solicitar ajuda contra a agressão russa, o que se tem verificado é que, em virtude do receio de que a situação possa degenerar num conflito mundial, a Ucrânia está mais uma vez a ser deixada sozinha perante os ataques russos. Ora, esse é um erro comparável ao que foi praticado na II Guerra Mundial, em que se foi permitindo sucessivamente a Hitler anexar a Áustria, os Sudetas, e ocupar toda a Checoslováquia, só tendo a Inglaterra e a França reagido quando a Polónia foi invadida. Aquando da anexação dos Sudetas, Churchill tinha proclamado: “A crença de que se consegue a paz na Europa lançando aos lobos um pequeno Estado é um erro fatal”.

Esse erro fatal teve como consequência o fortalecimento do ditador alemão, que poderia ter sido facilmente travado em Setembro de 1938, mas em que a contemporização da França e da Inglaterra permitiram que viesse a sair reforçado, com condições para fazer novas exigências, as quais inevitavelmente levaram a Europa e o Mundo a uma guerra prolongada, onde perderam a vida 70 milhões de pessoas. 

Neste momento, esse erro fatal está a ser repetido novamente na Ucrânia. Na verdade, o que nos garante que, se Putin vencer esta guerra na Ucrânia, não se vira a seguir contra a Moldávia, ou contra os Estados Bálticos, mais uma vez invocando a necessidade de proteger as populações russas nesses países? E se o Ocidente não reagir agora perante a barbaridade do que se está a passar na Ucrânia, como é que se pode esperar que venha a defender esses países quando surgir uma nova agressão?

Neste momento, a Rússia está a adoptar uma política expansionista que ameaça a paz mundial, e se nada for feito para a travar, continuará imparável nessa agressão. Mas infelizmente, a ONU foi paralisada pelo veto russo no Conselho de Segurança, sendo que neste momento a Rússia até possui a sua presidência. Os EUA estão claramente numa posição isolacionista e não pretendem ter qualquer intervenção na guerra da Ucrânia. E quanto à União Europeia, a mesma continua sem possuir a adequada capacidade militar, e só recentemente decidiu reforçá-la.

Até agora a resposta à agressão russa tem sido, assim, apenas a aplicação de sanções económicas, mas as mesmas parecem claramente ineficazes para impedir os sucessivos crimes de guerra a que todos os dias assistimos, como o bombardeamento de cidades, a inutilização de infraestratruturas essenciais, a supressão de corredores humanitários, os quais estão a causar um enorme sofrimento humano que deveria indignar os países democráticos.

Na II Guerra Mundial, os EUA permanecerem neutros até a guerra os atingir em 7 de Dezembro de 1941, com o ataque japonês a Pearl Harbor. Essa neutralidade foi criticada no célebre filme Casablanca em que a personagem Rick, interpretada por Humphrey Bogart, diz que deviam estar todos a dormir na América. Efectivamente, conforme referiu o almirante japonês Yamamoto, apenas esse ataque foi capaz de acordar o gigante adormecido.

É mais do que tempo de hoje o Ocidente também acordar e perceber o que está verdadeiramente em causa na Ucrânia.