O tabuleiro geopolítico mexe-se e a Venezuela, cujo Governo é um incansável aliado de Vladimir Putin, é uma das peças mais importantes deste jogo mundial de xadrez. A União Europeia, através do seu embaixador no país, Rafael Dochao Moreno, recomendou ao Executivo de Nicolás Maduro, presidente venezuelano, bem como à oposição no país, que retomem o diálogo, entretanto suspenso, e sem a intervenção de outros países, de forma a procurar superar a crise política, económica e social no país. Isto após Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, ter promulgado por mais um ano o decreto que considera a Venezuela como uma ameaça para a segurança norte-americana, tal como decretado pela primeira vez em 2015. A Casa Branca defendeu a decisão, argumentando que “a situação na Venezuela continua a representar uma ameaça invulgar e extraordinária à segurança nacional e à política externa dos Estados Unidos”.
Recorde-se que, em 17 de outubro de 2021, o Governo venezuelano colocou em pausa as negociações com a oposição, que decorriam desde agosto de 2021 no México, com a mediação da Noruega. Em causa esteve a extradição, de Cabo Verde para os Estados Unidos, do empresário colombiano Alex Saab, considerado um testa-de-ferro de Maduro.
Diálogo Durante uma conferência de imprensa, em que apresentou o relatório final da Missão de Observação Eleitoral da União Europeia (MOEUE-VE) às eleições regionais e municipais de novembro de 2021, presidida pela portuguesa Isabel Santos, Dochao Moreno fez o anúncio, desde Caracas, garantindo esperar que o diálogo seja retomado no México “porque o diálogo tem de ser entre venezuelanos”. “Nenhum país de fora tem de intervir para resolver a crise que existe neste país a vários níveis”, disse o embaixador europeu na Venezuela, defendendo que o relatório da MOEUE-VE “é um instrumento, uma arma para os processos eleitorais estejam mais de acordo com as normas internacionais”.
Relatório O Relatório da MOEUE-VE concluiu que “as eleições de 21 de novembro (de 2021) foram organizadas e conduzidas em melhores condições do que processos eleitorais anteriores”, definindo como “um elemento fundamental é particularmente importante” o facto de terem sido “organizadas por um Conselho Nacional Eleitoral que é tido como o mais equilibrado e pluralista dos últimos 20 anos”, segundo explica o embaixador.
Ainda assim, realça Dochao Moreno, foram registadas “deficiências estruturais”, entre elas “a inabilitação” [impedimento legal] arbitrária de candidatos por razões políticas, bem como a desigualdade no acesso dos candidatos do Governo e da oposição aos meios de comunicação social.
Entre as queixas do relatório está também apontada a utilização de recursos do Estado durante a campanha eleitoral, a favor de alguns candidatos.