31 anos depois, a História repete-se. Esperemos que os russos também amem as suas crianças

31 anos depois, a História repete-se. Esperemos que os russos também amem as suas crianças


A Guerra Fria parece estar de volta. Se antes a associávamos aos EUA e à URSS, hoje sentimos que acontece entre a Ucrânia, a Rússia e respetivos aliados. O empreendedor e ativista Rui Marques e o jornalista Ricardo Alexandre refletem acerca deste conflito.


“In Europe and America there’s a growing feeling of hysteria / Conditioned to respond to all the threats / In the rhetorical speeches of the Soviets / Mister Krushchev said, ‘We will bury you’ / I don’t subscribe to this point of view / It’d be such an ignorant thing to do / If the Russians love their children too”. Esta música de Sting foi lançada há 37 anos, mas a letra poderia ter sido escrita hoje. A questão mantém-se: se os russos amarem as suas crianças – mais especificamente, Vladimir Putin e os seus apoiantes –, a guerra não terá de cessar?

A resposta parece óbvia para muitos, mas para outros não o é. Recuando no tempo, a 31 de março de 1991 começava a chamada Guerra da Jugoslávia, que teve lugar nos territórios dos seguintes países que viriam a ser independentes: Eslovénia, Croácia, Bósnia e Herzegovina, Sérvia, Macedónia e Kosovo. Até 12 de novembro de 2001, os conflitos bélicos arrastaram-se, mas importa referir que os problemas eram, então, tudo menos recentes.

“No século XX, a revolução foi a filha da guerra. Sozinha a guerra não é capaz de conduzir crises, colapsos e revoluções, mas as tensões da guerra total do século XX sobre os Estados envolvidos foram sem precedentes, e apenas os EUA saíram ilesos, e até mais fortes das duas Grandes Guerras”, como Eric Hobsbawm explica em Era dos Extremos. “Com o velho mundo condenado”, os partidos socialistas apresentavam um crescimento cada vez mais significativo na Europa. A Revolução Russa, em 1917, foi a mais fundamental, com consequências práticas duradouras, “com uma expansão global sem comparações, e trinta anos depois, quase um terço da humanidade se encontrava sob regimes dela derivados”. 

Durante muitas décadas, o comunismo foi encarado como um sistema alternativo ao capitalismo e até mesmo superior a este. “O século XX assistiu a uma política mundial como sendo um duelo entre dois sistemas. Lenine não queria apenas uma vitória nacional, e sim uma numa escala global. A Rússia, após as guerras, parecia pronta para uma revolução, contando com o entusiasmo e patriotismo das massas”, diz o historiador britânico, que em seguida menciona que os próprios revolucionários marxistas partilhavam da opinião de que o derrube do czarismo e do sistema de latifúndios produziria apenas uma “revolução burguesa”: “Uma Rússia liberal-burguesa teria de ser conquistada pelo levante de camponeses e operários alienados, ou as forças que faziam a revolução iriam além da elite liberal-burguesa, passando para uma radical ‘revolução permanente’, sem condições para uma revolução socialista na Rússia, para os revolucionários ela teria que se espalhar para outros lugares”.

Em 1917 havia os denominados fatores de explosão social e “o maior feito de Lenine foi transformar a incontrolável onda anárquica que havia derrubado o czar, em poder bolchevique”. Porém, poucos sabiam realmente o que significava cada rótulo de uma força política e “o slogan ‘pão, paz e terra!’ conquistava apoio: os pobres reivindicavam pão, os oitenta por cento de russos que viviam da agricultura pediam terra e todos concordavam que queriam o fim da guerra”. 
Quando os bolcheviques se viram em maioria ficou claro que era o momento de acabar com o Governo Provisório. O novo regime pouco fez pelo socialismo, e foi sobrevivendo, sendo que contra todas as expectativas conseguiu ampliar o seu poder por mais tempo, como esclarece Hobsbawm, que se dedicou mais profundamente ao estudo do surgimento do capitalismo, do socialismo e do nacionalismo.

Mais uma vez, a Revolução Mundial não se verificou e isso comprometeu a Rússia com isolamento e atraso económico – o mesmo cenário que se tem vindo a constatar nos últimos dias. Contudo, “dois anos depois uma onda de revoluções varreu o globo, enquanto Marx e Lenine tornaram-se ícones. Mas, embora a situação da Europa estivesse longe de alcançar a estabilidade, era claro que a revolução bolchevique não estava nos planos ocidentais”. No ano de 1921 a revolução “estava em retirada na Rússia, embora politicamente o poder bolchevique fosse inexpugnável”. O que é que isto significava? Que viria a existir um fosso entre os revolucionários nas gerações seguintes. 

A primeira crise de sucessão do regime comunista da União Soviética começa pouco depois da sua constituição, no fim da guerra Civil, quando Lenine deixa de poder dirigir o seu partido durante longos meses antes da sua morte, em janeiro de 1924. Como explica Carlos Gaspar, em O Estalinismo, Estaline imprime um caráter rude e brutal, com uma mistura de convicção e cinismo, resumida na promulgação da “Constituição mais democrática do mundo”. Durante o terror, os seus traços pessoais de vulnerabilidade irão traduzir-se numa violência súbita e arbitrária, quase sem limites, que justifica a sua imagem como “Grande Khan Vermelho”.

Mas os momentos decisivos chegariam posteriormente. Estaline, para se preparar para as conversações diplomáticas com os novos aliados, manda fechar o Komintern, integrando essa estrutura no departamento internacional do Partido Comunista da União Soviética. Irá então, dar-se início às cimeiras tripartidas entre os aliados das Nações Unidas, onde Estaline, Churchill e Roosevelt vão decidir sobre a condução da guerra e as condições da paz. O encontro decisivo ocorre em novembro de 1943, quando os três grandes se reúnem, pela primeira vez, em Teerão. Sobre a guerra, Estaline dissera: “Esta guerra não é como as do passado: quem ocupa um território impõe-lhe o seu sistema social – todos impõem o seu sistema até onde o exército puder. Não pode ser de outra maneira”, como observou Carlos Gaspar.

Estaline demonstra a sua posição de força nas cimeiras de Teerão, da Crimeia e de Potsdam, na medida em que todas se realizaram em territórios ocupados pelo Exército Vermelho, não só por razões de segurança, mas para forçar Roosevelt e Churchill a ir até ao seu encontro, como pretexto de que o generalíssimo não pode estar longe da frente militar. Essa força é real como a velha anedota russa: “Estaline, Roosevelt e Churchill vão caçar. Depois de matarem um urso, o Primeiro-Ministro britânico diz: “Eu fico com a pele, vocês ficam com a carne”. O Presidente dos Estados Unidos responde-lhe: “Sou eu quem fica com a pele, a carne é para vocês”. E Estaline diz: “Fui eu quem matou o urso, o urso é meu”, como notou o Professor catedrático convidado da Universidade Autónoma de Lisboa (UAL) – Departamento de Relações Internacionais. 

Mundo novo, tensões iguais Aparentemente, quem destrói o exército alemão e a revolução nacional-socialista são o exército soviético e a revolução comunista russa. O fim guerra marca o fim da aliança das Nações Unidas e o princípio da divisão entre duas grandes potências vitoriosas, a União Soviética e os Estados Unidos, que vai durar até ao fim da Guerra Fria. E que, agora, se prolongou – e prolonga – por meio de uma espécie de ‘Segunda Guerra Fria’, mas sem a terminologia oficial. Esse período de tensão geopolítica entre a União Soviética e os Estados Unidos parece nunca ter desaparecido e, em 1991, alastrou-se.

Para compreendermos melhor este período, devemos lembrar que as guerras ocorridas durante a dissolução da República Socialista Federativa da Jugoslávia foram as de Independência Eslovena (1991), Independência Croata (1991-1995), Bósnia (1992-1995) e croata-bosníaca (1992-1994). A seu lado, as guerras ocorridas em áreas povoadas por albaneses foram as do Kosovo (1998-1999), da Sérvia (1999-2001) e da Macedónia (2001). Por fim, aquelas que são vistas habitualmente como operações aéreas da NATO contra a Sérvia são a Operação Força Deliberada (bombardeio na República Srpska, 1995) e a Operação Força Aliada (bombardeio na Jugoslávia, 1999).

Segundo dados veiculados pelo “Transitional Justice in the Former Yugoslavia”, no ano de 2009, os conflitos na antiga Jugoslávia provocaram mais de 140 mil mortos e 4 milhões de pessoas ficaram temporariamente desalojadas. Desde o início da Invasão da Ucrânia, pela Rússia, morreram 249 civis, dos quais 17 crianças e 27 mulheres, e 533 ficaram feridos. As Nações Unidas atualizaram esta quinta-feira os números e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos sublinhou, contudo, que o número real de vítimas deverá ser muito superior. Até porque já se havia chegado a essa conclusão com a dificuldade em calcular as baixas militares tanto do lado russo como do ucraniano.

Diretiva nunca tinha sido ativada Patrícia Gaspar, secretária de Estado da Administração Interna, informou esta quinta-feira que até as 13h de ontem Portugal somava 530 pedidos de proteção temporária ao abrigo da resolução do Conselho de Ministros da União Europeia (UE). Assim, o país contabiliza, ao todo, 672 pedidos – tendo em conta que antes do diploma ter sido aprovado já tinham sido recebidos 142, revelou o Gabinete da Ministra da Administração Interna, em comunicado – e terá a capacidade para receber cerca de mil refugiados. “É um dia muito importante para a UE. Esta diretiva existe desde 2001, nunca tinha sido ativada, foi ativada hoje e acho que é a prova da solidariedade e da importância que toda a UE está a dar ao apoio à Ucrânia”, afirmou a responsável, em declarações aos jornalistas, em Bruxelas.

A diretiva vai permitir “criar uma linha de base comum a todos os estados-membros para garantir o acolhimento homogéneo dos cidadãos que estejam na Ucrânia, ucranianos ou não, e que desejem vir para a UE em busca de proteção”, apontou, garantindo que em Portugal já havia sido “aprovado um mecanismo nacional que permitia garantir este procedimento através de uma resolução de Conselho de Ministros, que foi publicada no passado dia 1 [de março]”, adiantou a secretária de Estado, revelando que “já estamos a receber cidadãos com base nestes procedimentos”.

“Foi efetivamente um dia muito importante não só para Portugal, mas diria para toda a UE, e obviamente para a Ucrânia, porque é uma manifestação do apoio e da solidariedade incondicionais face ao que está a acontecer”, salientou. Se compararmos estes números com os dos anos 90 do século XX, entendemos que a guerra entre a Rússia e a Ucrânia tem atingido uma proporção brutal. Por exemplo, numa reportagem que data de 1994, veiculada pela RTP e da autoria do jornalista Hernâni Gonçalves, ficamos a saber que “entre 1992 e 1995, a Europa voltou a viver uma guerra, agora nos territórios da ex-Jugoslávia, nomeadamente na Bósnia Herzegóvina. Milhares de refugiados abandonaram o país, e Portugal recebeu cerca de 150 destas pessoas em fuga, mas nem tudo correu bem”. 

“Apesar das esperanças e da mobilização de particulares e de instituições quando estes chegaram a Portugal, foram vários os refugiados da ex-Jugoslávia que não conseguiam integrar-se na sociedade”. Todavia, esta não é a perspetiva de Rui Marques que, em 1994, esteve envolvido no acolhimento de mães e crianças bósnias, refugiadas de guerra e, nos anos compreendidos entre 2002 e 2008, foi um dos responsáveis pela política de acolhimento e integração de imigrantes em Portugal, no Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME). Antes disso, havia participado, em 1992, na Missão Paz em Timor, com o navio Lusitânia Expresso. 

“Sabemos como começa, não sabemos como acaba” “Encaro isto com enorme preocupação porque estamos perante uma situação típica das guerras. Sabemos como começa, não sabemos como acaba. Não podemos comparar na medida em que na Jugoslávia estávamos perante uma guerra muito distinta: não envolvia diretamente uma potência nuclear numa das partes do conflito”, começa por explicitar o empreendedor, gestor, ativista social e orador que trabalhou na comunicação social no decorrer de uma década.

“Era uma guerra diferente: porém, sim, porque todas as guerras têm um conjunto de traços comuns que são terríveis. Desde logo o sofrimento humano, todas as violações de direitos humanos e o rasto destruição, o ódio e o sentimento que deixam. Mas são, evidentemente, realidades distintas. Também falando da realidade da Síria que acompanhei de perto: apesar de ter tido intervenção da Rússia, era distinta. Estava noutro contexto geopolítico, portanto, esta guerra é muito distinta de todas e de enorme gravidade”, diz um dos fundadores da revista Forum Estudante, da qual foi o primeiro diretor.

“Acho que temos estado a dar toda a ajuda possível. Creio que a atitude dos países europeus e do mundo inteiro, dos países que condenaram a invasão… É tudo bastante positivo, mas não somos sempre assim. Estamos a ser muito mais acolhedores, proativos e próximos do que nas crises do Afeganistão, Síria, etc. Este é o standard de acolhimento e solidariedade que devemos ter sempre!”, denuncia aquele que em agosto de 2002 foi nomeado pelo Governo português como Alto-Comissário Adjunto para a Imigração e Minorias Étnicas, tendo desempenhado a missão de participar no desenvolvimento de uma política de acolhimento e integração de imigrantes em território nacional.

“A China absteve-se: a decisão é menos má do que poderia ser, mas não tão boa quanto desejaríamos. Os interesses geopolíticos e geoestratégicos são distintos e, obviamente, a China estará a pensar não só nos seus problemas com a vizinhança – Taiwan – mas também que, sendo o seu grande adversário político os EUA, este é um problema que vê como mais uma forma de causar embaraços e prejuízo aos EUA”, continua Rui Marques, aludindo à Assembleia Geral da ONU que aprovou, esta quarta-feira, uma resolução que condena a invasão russa da Ucrânia e exige o fim da guerra, com 141 votos a favor e 35 abstenções. 

“A surpresa foi o número tão baixo de países que formalmente votaram contra a resolução, são só cinco. Os que se abstiveram, apesar de tudo, são países, alguns alinhados com Putin, e que sendo aliados… A abstenção quer dizer uma crítica. Não podem fazer mais do que isso dadas as relações privilegiadas que têm, mas estão a dizer que criticam obviamente esta invasão. O que quer dizer que a critica é muito alargada”, declara, abordando o posicionamento da Rússia, da Bielorrússia – o Presidente Lukashenko é um dos maiores aliados de Putin –, da Síria – na ótica de Bashar al-Assad, a invasão da Ucrânia trata-se de uma “correção da História” –, da Coreia do Norte – Pyongyang acusou os EUA de constituírem “a causa da raiz da crise ucraniana” – e da Eritreia. “Não interpreto as abstenções dos aliados da Rússia como uma crítica. Não podem ser a favor por razões óbvias”.

“Pensando no início da década de 90, organizámos a missão no sentido de acolher mães e crianças, particularmente, da Bósnia. Preocupava-nos muito porque, nessa altura, ao contrário de agora, a Europa tinha uma posição de não acolhimento dos refugiados dos Balcãs. Deviam ficar na Croácia, Sérvia… Não mais do que isso. A questão é que nos parecia totalmente desumano dizer que deviam ficar em contexto próximo da guerra com países com os quais estavam em conflito”, confessa, adiantando que “a Europa era muito pouco solidária”.

 “Acolhemos cerca de 120 mães e crianças, operação que teve o apoio do governo português e das Forças Armadas, na atual Croácia, com o objetivo de trazê-los para cá. Recordo que não havia esta onda de solidariedade. Os dirigentes criticavam muito no sentido de não acolher”, aponta, indo ao encontro dos restantes versos da primeira estrofe de “Russians”: “How can I save my little boy from Oppenheimer’s deadly toy? / There is no monopoly on common sense / On either side of the political fence / We share the same biology, regardless of ideology / Believe me when I say to you / I hope the Russians love their children too”.

Como também acredita que somos todos iguais independentemente da ideologia, Rui Marques investiu na “Missão Crescer em Esperança”, que arrancou no Aeroporto Militar de Figo Maduro com a partida de um avião Hércules C-130 da Força Aérea Portuguesa, para a Bósnia. “Quando terminou, como muitas vezes acontece nas guerras, a esmagadora maioria saiu de Portugal”, frisa, acrescentando que enquanto muitos partiram para novos destinos – como a Malásia –, outros regressaram à sua terra natal e poucos ficaram por cá.

Apesar de não ser possível precisar quantos refugiados ficaram por aqui, devido à inexistência de números oficiais (ou da sua recolha e posterior divulgação), é possível apenas analisar a comunidade da Bósnia que reside em território nacional. Segundo o documento “População Estrangeira Residente em Portugal – Bósnia-Herzegovina”, do Gabinete de Estratégia e Estudos (GEE) do Ministério da Economia e Transição Digital, viviam cá 59 bósnios. 

Desde 2000, atingimos o número mais elevado em 2006, com 122 habitantes dessa nacionalidade. Sabe-se que estes refugiados fixaram-se em diferentes zonas do país, contudo, Mem Martins e Massamá, na linha de Sintra, no distrito de Lisboa, ou Campo Maior, no distrito de Portalegre, foram alguns dos pontos de acolhimento mais populares. Naquilo que diz respeito ao segundo caso, o i contactou a Delta Cafés para compreender o eventual impacto a empresa teria tido na captação destes imigrantes, porém, a mesma esclareceu que não nos podia auxiliar relativamente ao tema em causa.

“Os portugueses estão todos sensibilizados para o tema dos refugiados, cheios de vontade de ajudar, prontos para tudo, mas é bom que não se esqueçam disso daqui a uns tempos. As nossas emoções têm de se transformar em atitudes racionais e os nossos momentos de pico de atenção têm de se transformar em realidades consistentes”, adiciona, dando o exemplo de Isabel Martins da Silva, de 25 anos, fundadora da organização MEERU I Abrir Caminho – que trabalha com pessoas refugiadas há cinco, lutando pela integração de quem mais necessita –. como “excelente”. 

“Ela e os colegas estiveram envolvidos no acolhimento e, depois, decidiram continuar o seu trabalho. Temo que, por vezes, estes grandes momentos de emoção não tenham o seguimento necessário. As pessoas têm de se preparar para uma maratona e não uma corrida de 100m: os refugiados precisam do nosso apoio muito para lá deste momento”, realça o ativista formado em Medicina que vai ao encontro da perspetiva do jornalista Ricardo Alexandre. “Não podemos tratar os refugiados de forma diferente: um dos Balcãs é exatamente igual a um da Síria ou do Afeganistão. É isso que me magoa”, explicita o primeiro doutorado em Ciência Política, com especialização em Relações Internacionais pelo ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa (2017), com a dissertação “Yugoslavia: From Wars to European integration, Perspectives from university students in Bosnia and Herzegovina, Croatia, Serbia and Kosovo”.

Centrais nucleares e ciberguerra “Acho que, infelizmente, o futuro desta guerra é totalmente imprevisível. Há uma enorme imprevisibilidade e isso representa, nesse contexto, um risco gigantesco. Não me parece que se consiga alcançar nas negociações rapidamente um acordo", diz o jornalista com 32 anos de carreira. "Era aquilo que desejávamos, e rezaremos, pensaremos, manifestaremos, mas acho que é total imprevisibilidade, possibilidade de duração longa com todas as consequências e riscos muito sérios”, remata Rui Marques.

“Não só aqueles que têm sido elaborados acerca do confronto Rússia-Nato: a Ucrânia é um país com várias centrais nucleares e não são brincadeira. Em contexto de guerra, podem ser extremamente perigosas no sentido de serem atingidas, fora de controlo, etc.”, remata o investigador integrado do CEI – Centro de Estudos Internacionais do ISCTE- Instituto Universitário de Lisboa e do Observare, Observatório de Relações Exteriores da Universidade Autónoma de Lisboa.

“A população organiza-se para proteger as centrais nucleares. Há uma outra dimensão muito preocupante: com a área da ciberguerra. O que vai acontecer em termos de ataques?”, questiona, à sua vez, Rui Marques. “Temos de estar preparados para coisas complicadas. Deixou de ser uma guerra convencional de exércitos, artilharia, tanques: acho que é provável, não desejável, que existam ataques cibernéticos da esfera da Rússia a países que, de alguma maneira, se manifestaram no apoio da Ucrânia. O Presidente Putin, quando refere que exercerá sanções sobre os países hostis, prevejo que a probabilidade de acontecer alguma coisa tenha a ver com os ataques cibernéticos”. 

“Nos domínios da eletricidade, telecomunicações, etc. Os Anonymous: o ministro da Defesa dizia que se entrarmos nesse domínio, funcionará para todos os lados. A Rússia também será alvo de ataques cibernéticos. Será mais uma esfera da guerra. E estas duas dimensões são dois temas que têm de estar muito presentes a curto e médio-prazo”, assevera, garantindo que ”vivemos numa pequena aldeia, tudo nos afeta, e a humanidade é profundamente interdependente. Nada é longe, nada nos é estranho”.

“Temos esperança de que isso não aconteça – o lançamento da bomba nuclear”, ou seja, o “Oppenheimer’s deadly toy” a que Sting se referia. “Há uma potência nuclear e um bloco antagónico. Isso não pode acontecer: se acontecesse, seria algo absolutamente devastador. O problema nestas questões, como na segunda metade do século XX aconteceu, por ex. com a crise dos mísseis de Cuba, pode haver um acidente. Um erro. Um fator que desencadeie um processo que não é intencional nem desejado. A ficção está cheia destas histórias assim: inícios de guerras nucleares que começaram como acidentes. E que não passe de retórica". "Haveria a destruição mútua total”, corrobora Rui Marques.

Como cantava Sting em 1985: “There is no historical precedent / To put the words in the mouth of the president? / There’s no such thing as a winnable war / It’s a lie we don’t believe anymore / Mister Reagan says, ‘We will protect you’ / I don’t subscribe to this point of view / Believe me when I say to you / I hope the Russians love their children too / We share the same biology, regardless of ideology / But what might save us, me and you / Is if the Russians love their children too”.