Sporting-FC Porto. Incompetência e tranquibérnias à moda antiga!

Sporting-FC Porto. Incompetência e tranquibérnias à moda antiga!


O primeiro Sporting-FC Porto para a Taça de Portugal foi, afinal, a primeira final do Campeonato de Portugal, em 1922. Uma prova só com duas equipas.


Em termos de organização, o futebol português tem sido uma trapalhada constante deste tempos imemoriais, e ainda hoje o é com as tranquibérnias a que assistimos semanalmente e que nunca conseguem ter resposta à altura dos infelizes dirigentes que o governam, sendo o exemplo da justiça desportiva um dos mais deprimente que boia à superfície de uma justiça nacional de pacotilha, parecida com a do juiz Roy Bean, a Oeste de Pecos.

Em 1921, a União Portuguesa de Futebol, antepassada da FPF, resolveu que era necessária uma competição a nível nacional e que os campeonatos regionais já não cumpriam a função de colaborar para a competitividade do desporto em Portugal. Criou, portanto, o Campeonato de Portugal, uma prova a eliminar que ganharia, em 1939, através do Congresso da FPF, o nome de Taça de Portugal. Isto é história e, confesso, não tenho nem tempo nem pachorra para revisionismos bacocos do tempo de um tal José, Vissarionovich Stalin, de nome completo. 

A tentativa de avançar com a primeira edição do Campeonato de Portugal foi tão pouco ambiciosa que meteu dó: participariam quatro equipas, os campeões regionais de Lisboa, Porto, Algarve e Madeira, numa tentativa frouxa de ser o mais nacional possível. A incompetência foi tanta ou tão pouca que as associações da Madeira e do Algarve declararam que não tinham capacidade financeira para fazer deslocar os seus campeões para a fase final que deveria derimir-se com duas meias-finais e uma final a duas mãos.

E, desta forma, a UFP lavou daí as suas mãos e resolveu que a I Edição do Campeonato de Portugal seria resolvida apenas entre os campeões de Lisboa (Sporting) e do Porto (FC Porto). Ora tubérculos! Se isto era uma competição nacional, vou ali e já venho. Na verdade nem uma taça se lhe pode chamar, quanto mais um campeonato como certas mentes caliginosas agora querem impingir-nos.

Jogos casa e fora e uma finalíssima em campo neutro em caso de empate: eis ao que se resume o primeiro embate entre Sporting e FC Porto, que hoje voltam a encontrar-se, para as meias-finais da Taça de Portugal, em Alvalade pelas 20h45, mais uma bela hora para atrair às bancadas gente que tenha de se levantar cedo pela manhã do dia seguinte e dedicar-se à labuta. O facilitismo com que o assunto foi pura e simplesmente resolvido, não fazendo a UFP o mínimo esforço para ajudar madeirenses e algarvios a participarem na tal fase final a quatro, era marca da época. Continuou a sê-lo.

Os jogos A primeira mão da final teve lugar no Campo da Constituição, no Porto. Demasiado ocupados a glorificar a proeza aeronáutica de Sacadura Cabral e Gago Coutinho, os jornais não passaram grande cartucho ao futebol. Ainda não era artigo vendável. O encontro foi jogado com equilíbrio total e, à vantagem conquistada pelo leão Emílio Ramos, logo aos 9 minutos, respondeu Tavares Bastos com os dois golos da vitória portista, aos 25 e 86.

No seguinte dia 11, em Lisboa, no Campo Grande, os leões responderam com uma vitória inapelável: 2-0. Marcaram Henrique Portela e Torres Pereira. Os golos fora não valiam (coisa que agora entrou na moda outra vez, pelo que vamos ter prolongamentos em barda) pelo que se marcou uma pomposa finalíssima em campo neutro mas não muito, já que essa finalíssima veio a disputar-se no Porto, embora no Campo do Bessa. 

Ganhou o FC Porto. Mas só após prolongamento. Durante os 90 minutos, os portistas chegaram à vantagem, com um golo de Balbino Silva, aos 51 minutos, mas outra vez Emílio Ramos conseguiu responder aos 70. Depois, o jogo tornou-se duro. E de tal forma equilibrado que a ninguém restou dúvidas que haveria lugar para meia-hora suplementar. Nessa meia-hora, os azuis-e-brancos assumiram uma maior qualidade ofensiva e não pouparam o guarda-redes Amadeu Cruz. Aos 100 minutos, João Nunes fez o 2-1 e logo dois minutos mais tarde, João Brito fechou o resultado: 3-1.

O mesmo João Brito, capitão de equipa, recebeu o troféu, exatamente o mesmo que ainda hoje é entregue aos vencedores da Taça de Portugal e cujo original tem fixadas na sua grande base de madeira as chapas com os nomes de todos os vencedores, desde 1922 até 2021. Ou seja, em vez de estar a preparar a alegre festa dos 100 anos sobre a primeira final da Taça de Portugal, a Federação prefere perder-se nos caminhos ínvios da burocracia de forma a não aborrecer meia-dúzia dos tais revisionista que sabem tanto da história do futebol português como do efeito dos raios gama no comportamento das margaridas. É o que temos!, diria o meu velho camarada e mestre Viriato Mourão.

Na época seguinte, a UFP conseguiu, finalmente, organizar um Campeonato de Portugal com um pouco mais de competitividade mas novamente injusto. Os campeões de Lisboa e Porto (outra vez Sporting e FC Porto) só entraram nas meias-finais, por acaso defrontando-se em campo neutro (Coimbra) com vitória leonina por 3-0. Os campeões de Coimbra, do Algarve, da Madeira e de Braga tiveram de se medir uns com os outros até lá. A Académica bateu o Marítimo em Lisboa (2-1) e perderia a final de Faro para os lisboetas (0-3). A tranquibérnia continuava sem fim à vista…